sábado, 21 de outubro de 2017

GRUPO ROUXINÓIS DE DIVINÓPOLIS


Por Francisco José dos Santos Braga



I.  INTRODUÇÃO




Em 1964, Bob Dylan, percebendo que os tempos estavam mudando, lançou a balada The Times They Are A-Changin', na qual prenunciava as mudanças avassaladoras que estavam para acontecer nos valores, conceitos, preceitos, costumes, comportamento social, etc. No Brasil a percepção dessas mudanças demorou um pouco mais, mas inegavelmente veio uma ou duas décadas depois.

Não há como excluir da presente explanação um elemento saudosista e até maniqueísta, porque não pode deixar de haver uma comparação entre duas épocas não tão distantes uma da outra, i.é, entre 1964 e hoje. Inicialmente será revista uma época de grande efervescência cultural em Divinópolis, em que os pais das crianças coralistas muito contribuíam implorando aos regentes que dessem também oportunidade a seus filhos, fato que incentivava a abertura de novos corais que acomodassem a imensa oferta de integrantes. Quando não, eram as próprias crianças que, assistindo à execução de determinado grupo coral, procuravam o regente, o qual, constatando seu profundo desejo de pertencer ao grupo coral, solicitava a presença dos pais antes de acolher os novos integrantes do coral. Daí também a importância de revisitarmos os registros antigos, ricos em ensinamentos. 

Muitas das observações e opiniões aqui expostas são do conhecimento de causa do autor, que pertenceu, na década de 60, ao coral dos Meninos Cantores do Ginásio Santo Antônio, de São João del-Rei, regido pelo saudoso frei gaúcho Orlando Rabuske o.f.m., amante da língua alemã que recebeu apoio da embaixada alemã no Brasil.

Do que se verá aqui, é possível constatar que, nas décadas de 60 e 70 do século XX, o tempo das crianças era mais bem ocupado do que hoje em dia. Fora das ocupações normais, o tempo das crianças era preenchido com atividades lúdicas (brincadeiras, folguedos, passeio às montanhas, pique-nique, natação, vôlei, cineclube, apresentação teatral, exibição artística, etc.), todas favorecendo a integração entre pessoas que se comunicavam diretamente por meio de palavras, mas principalmente através de linguagem não verbal (gestos das mãos e do corpo, expressões faciais, sons diversos, sinais, piscar de olhos, sorriso, aceno de cabeça, toque, etc.). A infância e a juventude tinham prazeres diferentes de hoje: tinham disposição para se reunirem física e sadiamente, vontade de aprender com a experiência de seus mestres e, principalmente, não havia certas invenções tecnológicas que absorvessem o tempo e atenção de todos os seus usuários, tipo as redes sociais como orkut, twitter e facebook, tampouco aplicativos como o whatsApp, nem sobretudo as "selfies" compartilhadas sem a permissão dos envolvidos e o "cyberbullying", que são atividades criminosas, visto que acabam por reforçar ou criar distâncias ao invés de aproximar pessoas. Ou seja, a criança de hoje geralmente ocupa seu tempo com videogames e redes sociais e não se interessa mais em desenvolver sua sensibilidade pela arte. Embora não se possa generalizar nesta matéria, pode-se afirmar com segurança que houve uma mudança fundamental nos gostos e preferências das crianças nos últimos 50 anos.

Portanto, é fácil constatar que, para as crianças daquela época mencionada, o movimento coral, os encontros corais e os festivais de corais constituíam um momento coroador de congraçamento e integração, quando se cantava a esperança, conforme feliz expressão de frei Joel Postma o.f.m.



II.  OS  ROUXINÓIS  DE  DIVINÓPOLIS




Meu amor pela Música, onde quer que se encontre e por quaisquer meios que se expresse, levou-me não só a contactar o regente e violinista do célebre grupo Rouxinóis de Divinópolis, Maestro Antônio Gontijo Filho, carinhosamente tratado por "Tonico", que será objeto do presente artigo e que me possibilitou consultar seu rico acervo particular cuidadosamente coligido e organizado por ele, com anotações de seu próprio punho, disponível no escritório do Recanto dos Rouxinóis, com área de 3.000 m² e sediado no bairro Porto Velho, em Divinópolis, mas levou-me também a pesquisar o arquivo da Biblioteca Ataliba Lago, onde fiz, em companhia de minha esposa, a cantora divinopolitana Rute Pardini, curiosas descobertas, muitas desconhecidas pelo público, principalmente, pastas organizadas por grandes assuntos e/ou recortes de jornais de época com o título de "Pequenos Rouxinóis", "Milton Nascimento" ou "Túlio Mourão" e outros, com matérias numeradas como se fossem páginas de livros, excelentemente classificadas.


Na mesma biblioteca, consultei um livro especialmente importante da autoria de Lázaro Barreto, intitulado Memorial de Divinópolis - História do Município, onde encontrei uma seção dedicada exclusivamente ao esboço de uma história da música divinopolitana, assunto que foi tratado resumidamente em três páginas (124-126). Aí localizei importantes referências à música em Divinópolis, mesmo antes de ser elevada à categoria de cidade. Assim, esse livro trata amplamente da música em geral em Divinópolis, a partir de 1829, enquanto a pesquisa do seu autor sobre a música coral em Divinópolis remontou ao ano de 1885, noticiando sobre o primeiro grupo coral, por exemplo. Como o meu objeto neste trabalho é a música coral e, mais especificamente, o grupo coral Os Pequenos Rouxinóis de Divinópolis (nome original do grupo atual conhecido por Rouxinóis de Divinópolis),  vou tentar ser objetivo indo direto à pág. 125. Como muitos leitores terão dificuldade de possuir ou manusear o livro, reproduzirei trechos da referida página do livro para sua maior comodidade: 
"(...) Os corais são uma constante no cenário musical da cidade. É uma forma simples de satisfazer as carências de público e dos artistas. Dispensa muita teorização e muita instrumentalização: o grupo de amigos afina as vozes, elege o repertório, ensaia à exaustão e fica em condições de abrilhantar as festas e encantar os ouvintes. O primeiro coral de que se tem notícia é de 1885, chamava-se Coro da Matriz do Divino Espírito Santo - um grupo de vozes mistas acompanhadas de harmônio, sob a direção do Padre Guaritá. Os Coristas de Divinópolis (grupo formado pelos frades da Ordem Franciscana) eram famosos na década de 30 no gênero da música sacra e nos rituais litúrgicos. Em 1930 aparece outro coral misto, o da Paróquia de Santo Antônio, regido por Frei Levindo, no qual brilha o talento de Joana Álvares da Silva (Joaninha), que ensinou teoria e prática musical a muitas gerações. Em 1940 ele era formado apenas de cantoras, tem uma pequena orquestra de harmônio, violino e flauta, agora regido por Frei Joel ¹. Em 1945 volta a ser misto; em 1951 Jacinto Guimarães passa a regê-lo. Em 1960, volta a regência de frei Joel, que grava em 1962 o Hino do Cinquentenário. A partir de 1965 Djanira Luíza dos Santos assume a regência.
Em 1956 cria-se, também sob os auspícios da Igreja Católica, os Pequenos Cantores do Santuário, prenúncio do coral dos Pequenos Rouxinóis. E mais dois corais notáveis surgem: o Coro Conventual dos Franciscanos e o Coro Marupiara. No ano seguinte era a vez de surgir e marcar época o Coral Pia União de Nossa Senhora. Em 1960 surgiram os corais São Sebastião, os Cantores da Cruz de São Damião (de crianças) e o Santos Anjos (também de crianças), o São Geraldo e muitos outros. Em 1966 ² é realizado o Primeiro Festival de Corais de Divinópolis com 28 apresentações de 9 corais, que se repete ano a ano até nossos dias. Realiza-se também o Primeiro Festival de Música de Divinópolis, com mais de 60 participantes, que se repetiu anualmente várias vezes, revelando muitos nomes significativos de nossa música. É no mesmo ano que nasce o quarteto formado por Vinicius Peçanha, Ilma Santos, Alonso Mendes e Juracy Fernandes, que introduz modificações no espetáculo musical, mesclando o repertório com números panorâmicos de ternos de moçambique evoluindo no palco e também a introdução nos mesmos das danças e jogos de capoeira. Em 1968 os Pequenos Rouxinóis representam Minas no I Congresso Brasileiro de Pequenos Cantores, e o Coral Meninos de Jesus (72 meninos sob a batuta de Davi Fernandes) inicia nova fase. (...)"

Com referência a Os Pequenos Rouxinóis de Divinópolis, "Tonico" relembra saudosista a origem do coral. No segundo semestre de 1964, ao ver seus pais com certa idade, resolveu formar um pequeno grupo coral com quatorze meninos e meninas, todos sobrinhos, para cantar músicas natalinas na casa deles pela festa de fim de ano. "Eu tinha e ainda tenho muitos sobrinhos, então resolvi reunir ali um grupo de sobrinhos para cantar três canções de Natal (Adeste Fideles, Noite Feliz e Vai o Burrinho) para apresentar aos meus pais. Eles já idosos, eu tinha certeza de que naquela noite de 24 de dezembro eles continuariam lá, quietinhos em casa, como se fosse outro dia normal", comentou "Tonico", acrescentando que o primeiro ensaio do grupo foi no dia 21/9/1964 (considerada data de fundação do Grupo Rouxinóis). 
Fonte da imagem: Gazeta do Oeste
E continuou: "Quando estávamos apresentando as músicas, frei Mariano passou pela porta da casa. De lá, caladinho, ele apreciou o nosso recital. Ele aplaudiu, deu os vivas e depois conversou comigo, fez uma entrevista e no outro dia, no dia de Natal, nós fizemos a primeira apresentação do grupo, no salão paroquial de Santo Antônio. Graças ao incentivo de frei Mariano e de sua demonstração de entusiasmo, o grupo seguiu com a música.

"Tonico" registrou, após uma fotografia da primeira turma somente de meninos, em 1965, a seguinte informação: "Depois de um ano de atividade, num trabalho com meninos e meninas, foi chegada a conclusão de maior facilidade de trabalho somente com meninos, principalmente no caso de viagens. Daí por diante a admissão era somente para meninos." Após essa anotação, nomeou os componentes da 1ª turma de 1965, conforme abaixo:
Do acervo de "Tonico" - 1965: primeira turma somente de meninos com anotações de "Tonico"

O primeiro nome, Os Pequenos Rouxinóis de Divinópolis, surgiu um ano depois da primeira apresentação. Os convites para cantar fora de Divinópolis foram chegando: o primeiro convite para o grupo veio de Carmo do Cajuru, em seguida de Itaúna e Mateus Leme. De acordo com "Tonico", a primeira reportagem jornalística sobre os Rouxinóis, intitulada "Nos Caminhos de um Mundo Novo" foi publicada pelo jornal A Semana, em 28/08/1966. O jornalista Antônio Esteves de Faria foi quem lançou o coro dos Rouxinóis em Divinópolis. (Após 17 anos da reportagem, em 25 de setembro de 1982, o próprio jornalista fez a leitura da histórica reportagem nas comemorações do 18º aniversário da fundação do coro dos Rouxinóis, no Recanto dos Rouxinóis, na presença ilustre do jornalista Mercemiro de Oliveira.) 

Em 1968 os Rouxinóis foram convidados para se apresentarem na TV Itacolomi, em Belo Horizonte, no programa infantil "TV de Brinquedo". Com essa apresentação, o maestro e violinista "Tonico" avalia que o grupo se destacou para o cenário nacional, sendo convidado para participar do 1º Congresso Nacional dos Meninos Cantores do Brasil, em Petrópolis-RJ. O 1º Congresso da Federação foi realizado em Petrópolis com a participação do coro dos Rouxinóis, e foi a partir daí que Os Rouxinóis iniciaram sua caminhada às grandes viagens. De acordo com "Tonico", o saudoso alemão frei Leto Bienias era regente e fundador dos "Canarinhos de Petrópolis" e teve a feliz ideia de criar a Federação Nacional de Meninos Cantores do Brasil. "Tonico" não se esqueceu também de mencionar o decidido apoio que recebeu do maestro João Rodrigues, que rege o Coral Dom Silvério, de Sete Lagoas, o qual entrou em contato com o frei Leto Bienias e falou da existência do coro dos Rouxinóis, tecendo um elogio muito exagerado do grupo, dizendo ser o único conjunto coral que conhecia capaz de acompanhar os Canarinhos de Petrópolis. Frei Leto Bienias acolheu a indicação do maestro João Rodrigues e convidou o coro dos Rouxinóis para o 1º Congresso. No próprio congresso, já houve convite para a inscrição do coro dos Rouxinóis na citada Federação. (Neste ano de 2017 está sendo comemorado o jubileu de ouro dessa entidade, cujo presidente atual é o Maestro Marcos Aurélio Lischt, atual dirigente dos Canarinhos de Petrópolis.)  Na reunião de regentes membros da Federação foi feito o registro do coro dos Rouxinóis e, a partir de então, grandes oportunidades se abriram ao conjunto coral divinopolitano.

"Tonico" disse sentir profunda admiração pelo saudoso frei José Luiz Prim, que aparece na foto abaixo, em pé, o primeiro da esquerda para a direita. Compositor, arranjador, regente, um músico completo, em sua opinião. 

Finalmente, "Tonico" lamenta que tenha sido obrigado, anos mais tarde, a solicitar desligamento da Federação, por motivos particulares.
Acervo de "Tonico" - Reunião anual odinária da Federação Nacional dos Meninos Cantores do Brasil por ocasião do V Congresso, ocorrida em Juiz de Fora, em julho de 1983.
"Tonico" considera também que foi muito proveitoso ter estabelecido excelentes relações com outros maestros de "pueri cantores". Ele se refere mais especificamente ao Abbé Raymond de Smedt (falecido aos 87 anos em 05/11/2014), que era o regente dos Petits Chanteurs e fundador da escola de canto coral dos Pequenos Cantores de Andiran. Esse grupo coral (apelidado Petits Chanteurs de Notre Dame, ou seja, Pequenos Cantores de Nossa Senhora) esteve em Divinópolis em três excursões: de 1980, de 1983 (de 15 a 17 de julho) e, por fim, em 1986.  Por sua vez, o coro dos Rouxinóis esteve na França para um concerto conjunto em julho de 1994.
Acervo de "Tonico" - Concerto de Petits Chanteurs de Notre Dame no Instituto N. Sra. Sagrado Coração, de Divinópolis em 15/07/1983 - Patrocínio da Prefeitura Municipal de Divinópolis, Coral Rouxinóis de Divinópolis e Federação Nacional dos Meninos Cantores do Brasil


Acervo de "Tonico" - O Coro dos Rouxinóis fez apresentações no Château de Nerac e também se apresentou num concerto na Igreja de São Nicolau (jul/1994)
 "Tonico" também considera um ponto alto dos Rouxinóis o fato de terem representado Divinópolis, Minas Gerais e o Brasil no 5º Congresso Europeu Pueri Cantores "Giuseppe Zelioli", uma realização da Associação Musical Harmonia Gentium, em Lecco, Itália, no período de 5 a 10 de julho de 1994.
Acervo de "Tonico" - 1) Participação dos Rouxinóis de Divinópolis no 5º Congresso Europeu Pueri Cantores "Giuseppe Zelioli", em Lecco, Itália - 2) "Tonico" no escritório do Coral, rodeado de troféus europeus
Como constou do Programa do 5º Congresso Europeu Pueri Cantores "Giuseppe Zelioli".
Nesta altura, segundo "Tonico", aconteceu o inesperado para Os Rouxinóis: "O cantor Milton Nascimento precisava de um grupo coral infantil para apresentar a música Panis Angelicus na reabertura da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, e fez testes com os Rouxinóis de Divinópolis, em 1988. Milton veio até o nosso coral com o músico Túlio Mourão e seu empresário Márcio Ferreira e nos convidou para apresentar a peça que seria o ponto alto de sua apresentação. Ele gostou tanto do grupo que fez um contrato com Os Rouxinóis. Com essa parceria, o grupo passou a viajar pelo Brasil com Milton Nascimento e, em seguida, por dez países europeus e também aos Estados Unidos. O período áureo do grupo foi quando ocorreram as apresentações na sede da ONU, diante de Lady Di na Inglaterra e também para o presidente Itamar Franco. 
Local: Recanto dos Rouxinóis, no bairro Porto Velho, em Divinópolis. 
Fonte da imagem: Gazeta do Oeste
A parceria com Milton rendeu a gravação de dois discos "Amigo", um em versão nacional e outro internacional", concluiu "Tonico", informando ainda que o Grupo dos Rouxinóis trabalhou com Milton Nascimento durante 11 anos consecutivos, de 1988 a 1999.
Rouxinóis cantam para Danielle Miterrand e Risoleta Neves "La Marseillaise" e o Hino Nacional Brasileiro - VII Congresso latino-americano dos professores de francês SEDIFRALE - julho de 1989

Aos trinta anos da fundação do Coral, o grupo se distinguia dos outros coros por não depender de qualquer entidade religiosa, contando com 30 integrantes, com idade variando de 8 a 28 anos. Sete "rouxinóis", com idades entre 12 e 14 anos, estavam aprendendo a tocar violino e na rotina de ensaios no Recanto dos Rouxinóis, no bairro Porto Velho. Todas as atividades estavam a cargo do instrutor e diretor do coro,  o "Tonico".

Aos quarenta anos da fundação do Coral, o maestro Tonico afirmou com orgulho que o segredo do sucesso do grupo era trabalho, muito trabalho. Segundo ele, ao longo de seus 40 anos, o grupo já tinha pisado em palcos da Alemanha, Áustria, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, Portugal e Suíça. Nesta ocasião, o grupo contava com 25 integrantes, que tinham de 7 a 37 anos. Desses, oito participavam de uma camerata formada por um violoncelo, duas violas e cinco violinos. Entre as muitas emoções reservadas para o aniversário de 40 anos dos Rouxinóis estavam previstos o lançamento de uma revista com mais de 35 páginas sobre o coral e um concerto especial com Túlio Mourão e Milton Nascimento, além da gravação de um CD.
Na coluna Cultura: "Os Rouxinóis de Divinópolis e sua história", quando Divinópolis comemorava os seus 98 anos e o Grupo dos Rouxinóis, 46 anos de sua fundação. 
Em 2014, perto de completar 50 anos, o grupo continuava atuante com 18 músicos apenas. Nesta ocasião, contava com um coral e uma banda. "Tonico" tinha sido obrigado a franquear a entrada de adultos por causa do desinteresse das crianças. Também o grupo já não mostrava a mesma disposição de antes, de fazer viagens longas. Apesar disso, mantinha a mesma disposição de atender convites para apresentações. No entanto, "Tonico" confirmou que antigamente havia o apoio da Prefeitura a suas iniciativas artísticas, lamentando que "de uns tempos para cá, não havia mais incentivos". Citou como exemplo o fato de ser ele próprio o autor do Hino do Centenário, mas se disse ressentido com a postura da Secretaria Municipal de Cultura de Divinópolis que "até hoje não levou adiante o compromisso firmado no edital para o concurso do hino, a saber, a gravação do hino, prevista no edital". 

Em compensação, vários foram os eventos de homenagem pelo transcurso do cinquentenário dos Rouxinóis. A Academia Divinopolitana de Letras programou, no salão da Câmara Municipal, uma apresentação musical do grupo e da Banda do 23º Batalhão da Polícia Militar. A Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no bairro Porto Velho, marcou uma missa em ação de graças pela longa atuação do grupo. Finalmente, a Biblioteca Municipal Ataliba Lago apresentou uma exposição, com duração de duas semanas, contando a história do grupo. 

Há dois dias atrás, em 19/10/2017, às 19 horas, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no bairro Porto Velho, em Divinópolis, tive o prazer de assistir a uma Missa, cuja parte musical, a convite do aniversariante Augusto Fidelis, ficara a cargo do grupo Rouxinóis de Divinópolis, composto de uma camerata (formada por 5 violinos, 1 viola de arco e 1 violoncelo) e um coro formado por 7 cantores. "Tonico", além de reger, fez os arranjos para 2 vozes, bem como para acompanhamento da camerata. Praticamente todos os lares de Porto Velho tinham um representante assistindo à Missa em ação de graças pela vida de Augusto Fidelis, jornalista, escritor, membro da Academia de Letras de Divinópolis e chefe da Gerência de Cerimonial da Prefeitura de Divinópolis. Ao fim da Missa, o aniversariante dirigiu-se ao lado do altar para dizer que só tinha palavras de gratidão ao sacerdote, aos seus familiares, ao Prefeito Galileu Machado (representado naquele evento pelo vice-Prefeito Rinaldo Valério), à loja maçônica à qual pertencia e a várias instituições ali representadas, nomeando-as uma a uma, destacando, entre todas, "Tonico" e seus Rouxinóis que abrilhantaram a Missa com sua excelente execução e, segundo Fidelis, já o tinham feito 34 das 35 vezes consecutivas em que mandou celebrar Missa por ocasião de sua data natalícia. Foram ouvidas, com a participação da assembleia, as seguintes peças:
1. Canto de entrada (harmonização de frei José Luiz Prim da Missa "Povo que caminha e louva"
2. Ato penitencial da Missa Breve
3. Glória a Deus (Pe. Ney Brasil)
4. Salmo responsorial nº 129 (por "Tonico" Gontijo)
5. Aclamação ao Evangelho: A lei do Senhor é perfeita (Pe. J. Gelineau SJ)
6. A ti, meu Deus (Frei Fabretti)
7. No Santo: Santo é o Senhor(José Carlos Gonçalves, maestro do Coral Vox)
8. Cordeiro de Deus (Pe. José Maria Wisniewiski SVD)
9. Comunhão: Salmo 11: Pelos prados
10. Pós-comunhão: Glorifica o Senhor (Pe. J. Gelineau SJ)
11. Após a Missa (enquanto o aniversariante era saudado por toda a assembleia): Con te partiró, Can't help fall in love (G. Weiss/Luigi), Yesterday e Canon (Pachelbel).
Da esq. p/ dir.: o autor, o aniversariante Augusto Fidelis e o Maestro Antônio Gontijo Filho

Por fim, tenho o prazer de oferecer um brinde ao leitor que me seguiu até aqui. Trata-se de antológica gravação original de 1973, constante de um compacto, do Hino Oficial de Divinópolis, pelos Pequenos Rouxinóis (sob a regência do Maestro Antônio Gontijo), acompanhados pela banda Lira Santa Cecília (sob a regência do Maestro José Geraldo Rocha). Além desses elementos, há os seguintes dados técnicos:
Letra e música do Dr. José Pereira Brasil.
Arranjos: Jacinto Guimarães.
O vídeo foi remasterizado do compacto original.
Cf. in https://youtu.be/jZCa23RV34A



III.  ALGUNS DOS MUITOS TROFÉUS CONQUISTADOS PELOS ROUXINÓIS



Aos Pequenos Rouxinóis de Divinópolis homenagem do 
Secretário da Educação José Maria Alkmin 18-2-68
 
Troféu Orfeu 2015 (1ª edição) concedido pela 
Academia Divinopolitana de Letras
Troféu Associação Musical Harmonia Gentium, 5º Congresso, 1994 (Lecco, Itália)
Troféu Associação Musical Harmonia Gentium, 5º Congresso, 1994 (Lecco, Itália)























IV.  NOTAS  EXPLICATIVAS





¹   Não há dúvida de que neste ponto foi cometido um deslize. Frei Joel Postma o.f.m. só chegou ao Brasil em 1959, vindo da Holanda, onde nasceu e se especializou em música sacra, direto para Divinópolis. Deve tratar-se de outro frei, pois, conforme relembra o próprio frei Joel, três outros freis ajudaram a formar vários corais de qualidade, mencionando os nomes de freis Paulino, Emídio e Guido. Chegando a Divinópolis em 1959, frei Joel passou a reger os corais existentes na Paróquia Santo Antônio: um coral infantil chamado Os Meninos Cantores da Cruz de Damião, o Coral dos Franciscanos, o coral Santo Antônio e a orquestra Tabará, e o Coral Marupiara. Nessa época com esses movimentos  foram gravados no presbitério do Santuário de Santo Antônio em Divinópolis dois LPs dos "Salmos" do Pe. Gelineau S.J. (1961) e um compacto contendo o Hino do Cinquentenário de Divinópolis e o Cântico do Irmão Sol (1962). Em 1964, frei Joel deixou Divinópolis com destino ao Seminário Seráfico de Santos Dumont, onde hoje atua como regente do Coral Trovadores da Mantiqueira e professor de latim, inglês e música para os seminaristas. 

²  Há uma lacuna imperdoável no histórico da música coral em Divinópolis, resgatado por Lázaro Barreto em seu livro. Relembro aqui que, em maio de 1966, houve ainda a fundação do Coral Nossa Senhora de Fátima, dirigido pelo regente Licurgo Leão Silveira e formado com 65 meninas (vozes "brancas"). O seu repertório era apresentado geralmente a capella. Esse coral abrilhantou festividades e participou de encontros de corais até novembro de 1989. Neste ano de 2017 aconteceu, quando da comemoração do 51º aniversário de fundação do coral, um singelo encontro de ex-coralistas com o objetivo de homenagear seu Maestro. Passaram pelo coral cerca de trezentas meninas coralistas, ao todo. 



V.  AGRADECIMENTO


Gostaria de consignar aqui eterna gratidão à minha amada esposa Rute Pardini, por todas as imagens mostradas neste trabalho. 




VI.  BIBLIOGRAFIA 




BARRETO, Lázaro: Memorial de Divinópolis – História do Município, Divinópolis: Serfor-Serviços Gráficos Ltda, editado pela Prefeitura Municipal de Divinópolis, na administração do prefeito Dr. Galileu Teixeira Machado, 1992


Jornal A SEMANA: Frei Joel visita Divinópolis e fala sobre música, Divinópolis, edição de 19 a 25/08/1995, p. 4 


Jornal AGORA coluna Religião: Entrevista / Frei Joel Postma OFM, Entrevistador: Edson Gonçalves Ferreira, Divinópolis, edição de 13/08/1995, p. 5
                   Rouxinóis criam camerata de cordas, por Célio Augusto, Divinópolis, edição de 28/08/2000


Jornal GAZETA DO OESTE: Coral dos Rouxinóis completa quatro décadas: Grupo de Tonico engrandece a cultura de Divinópolis, pela Redação: Bruno Rosa Rocha.
                        Coral Rouxinóis de Divinópolis completa 50 anos: o Grupo Rouxinóis, conhecido internacionalmente e responsável por levar o nome da cidade a vários países, completa 50 anos de excelência e a Gazeta do Oeste presta sua homenagem, Entrevistador: Amilton Augusto, coluna Variedades, matéria especial. 

GLOBO (Bom Dia MG): Grupo Rouxinóis é homenageado em Divinópolis pelos 50 anos de fundação
Link: http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/bom-dia-minas/videos/v/grupo-rouxinois-e-homenageado-em-divinopolis-pelos-50-anos-de-fundacao/3619682/

Milton Nascimento, Grupo Rouxinóis de Divinópolis e Túlio Mourão interpretam Panis Angelicus na reabertura da Matriz de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto:
https://www.youtube.com/watch?v=YBs55Sv09bI 

16 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

É com alegria que lhe envio meu trabalho com o grupo Rouxinóis de Divinópolis. Para levar a cabo essa pesquisa, contei com a amabilidade e o acervo do Maestro e violinista Antônio Gontijo Filho, o "Tonico". O seu acervo, cuidadosamente coligido e organizado por ele, com anotações de seu próprio punho, encontra-se no escritório do Recanto dos Rouxinóis, com área de 3.000 m2, sediado no bairro Porto Velho, em Divinópolis.

Eudóxia de Barros (insigne pianista e membro da Academia Brasileira de Música) disse...

Parabéns!
Cordialmente,
Eudóxia.

Dr. Amaro Alves (ex-consultor do Senado Federal) disse...

Bendito
aquele que
cultiva música
(e faz o povo cantar!)

João Carlos Ramos (poeta, escritor, ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras e sócio correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Lavrense de Letras) disse...

Maravilhosíssimo! Esplêndido!
O gesto do Dr. Braga em resgatar o alto valor do TONICO e OS ROUXINÓIS que tanto alegraram a cidade do divino e não podem ser esquecidos.
Parabéns, colega!

Augusto Ambrósio Fidelis (escritor, cronista, chefe da Gerência do Cerimonial da Prefeitura Municipal de Divinópolis e membro da Academia Divinopolitana de Letras, bem como Assessor Especial do Troféu Orfeu e Eventos da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Caríssimo Francisco Braga,

Belíssimo artigo. Os Rouxinóis merecem esse seu olhar de incentivo, para que, quem foi rei, mantenha a majestade.

Abraço

Augusto Fidelis

José Passos de Carvalho (jornalista, genealogista, escritor, presidente da ALL-Academia Lavrense de Letras e membro correspondente do IHG de São João del-Rei e da AFL-Academia Formiguense de Letras) disse...

Prezadissimo amigo e confrade.
Muito obrigado pela lembrança desse belo artigo, que é uma fonte histórica.
Aplaudo a iniciativa e aguardo novos textos.
Com minha admiração e respeito de sempre,

Vamireh Chacon Albuquerque (professor universitário e autor de Os Partidos Brasileiros no Fim do Século XX) disse...

Parabéns pelo seu texto Rouxinóis de Divinópolis.

Ana Lúcia Resende (doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, na PUC Rio) disse...

Boa noite, Braga.
Feita a leitura do artigo só me cabe lhe parabenizar pelo excelente trabalho.
Uma verdadeira aula de história que muito prazer dá ao ser lida.
Agradeço a gentileza de me enviar esta pérola.
Cordialmente.

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Muito grato pelo envio, amigo. Na arte e cultura de nossa cidade, os Rouxinóis significam um ponto saliente da história. Você resgata a criação do Tonico Gontijo com cuidadosa pesquisa. Se puder estar presente em nossas reuniões ( teremos a próxima no dia 4 de novembro), quem sabe possa apresentar este trabalho? Abraço para o amigo e esposa.

Prof. Cupertino Santos (professor de história aposentado de uma escola municipal em Campinas) disse...

Bom dia, professor.
Um excelente registro sobre essa maravilhosa obra dos "Rouxinóis de Divinópolis"! É emocionante! Acabei de assistir em vídeo a apresentação citada do "Panis Angelicus" com Milton/Túlio e o coral. Realmente maravilhoso!
Muito obrigado por essa apresentação daquilo que Divinópolis tem de bom.

Túlio Mourão (compositor, pianista e arranjador divinopolitano e um dos curadores do Festival Internacional de Jazz de Ouro Preto "TIM Tudo É Jazz") disse...

Prezado Francisco
Primeiramente me congratulo com a iniciativa de trazer foco e atenção para o grupo musical que se reveste de grande destaque na cena cultural do centro oeste mineiro.
A história dos Rouxinóis de Divinópolis contém lições relevantes para a contextualização e exercício do empreendedorismo cultural e também sinaliza ao poder público quanto à esfera de prerrogativas e responsabilidades.
Parabéns pela consistente pesquisa, quanto pelo gesto de elevada cidadania.
Abraços.

Agostinho Vieira Neto disse...

Excelente reportagem do jornalista sanjoanense. Lembro-me do LP dos "Salmos" gravado pelo Coral do Frei Joel, em 1961, quando estava em Pará de Minas. O introdutor dos Salmos cantados no Seminário Salesiano foi o padre Alberto dos Santos, que era fã do coral do Frei Joel de Divinópolis. Abraços.

Dr. Ozório Couto (escritor, historiador, membro do IHG-MG e redator de revista) disse...

Caro Braga.
Vi e li alguns trechos do que escreveu sobre os corais de Divinópolis. Gradas lembranças. Já assisti representações dos Rouxinóis há muito tempo atrás. E você me fez recordar Lázaro Barreto, para mim um dos ícones do centro-oeste mineiro.
Um abraço e muito obrigado.

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Muito grato pelo envio do Hino Oficial de Divinópolis, cantado pelos Pequenos Rouxinóis. Na verdade, este hino da terra que me adotou me traz sempre um aroma de infância, uma nostalgia, talvez.

Há, além do Hino Oficial da cidade de Divinópolis, também o Hino do Cinquentenário de autoria do saudoso Zé Bola e da sua esposa, Maria, meus vizinhos na Avenida Sete de Setembro, onde passei minha infância e parte da juventude. De novo agradeço o envio do precioso documento.

Abraço para você e Rute.

Dr. Paulo Milagre (corretor de imóveis, escritor e ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Caro Francisco.
Obrigado pela remessa. Muito bonito.
Paulo Milagre.

Dilermando disse...

Parabéns pela matéria!
Confesso que fiquei com muita saudade porque fui integrante dos Pequenos Rouxinóis de Divinópolis.
Foto de 1965!
Foi um período marcante em minha vida!