quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

LUDWIG VAN BEETHOVEN EM HEILIGENSTADT


Post de El Sitio de Ludwig van Beethoven
Traduzido do espanhol por Francisco José dos Santos Braga


Em maio de 1802, e por recomendação do Dr. Johann Adam Schmidt, Beethoven mudou-se para Heiligenstadt para descansar na temporada de verão, como era sempre seu costume e como o foi por toda a sua vida.

O verão no campo era uma etapa anual que Beethoven necessitava de forma imprescindível. Desejava a natureza, a sensação de liberdade, as caminhadas por trilhas do bosque, etc. Era também muitas vezes o período do ano no qual apareciam suas ideias musicais. Anotava-as em seus inúmeros cadernos de apontamentos e usava o inverno em Viena para passar a limpo e terminar as obras que haviam surgido durante o verão.

Naquele ano em particular, Beethoven estava atormentado pelo aumento de sua surdez, tinha já a sensação de que era uma enfermidade que não ia abandoná-lo facilmente e sentia toda a sua vida ameaçada por ela. A indicação do Dr. Schmidt abria uma esperança de que com solidão e silêncio uma temporada no campo poderia descansar seu ouvido e recuperar sua saúde.

Heiligenstadt era naquele momento um pequeno povoado separado de Viena. Não somente um bairro, parte da mesma cidade, como atualmente. Levava algum tempo para chegar ali de carruagem.

Deprimido e já incapaz de esconder sua enfermidade crescente, em 6 de outubro de 1802, Beethoven escreveu um documento que guardou logo cuidadosamente e que foi chamado depois "O Testamento de Heiligenstadt". 

Lacre do documento
O começo do Testamento de Heiligenstadt: "para meus irmãos Carl e..."

Abre o testamento a cláusula que incumbe seus irmãos de cumprir as suas disposições de última vontade, isto é, para ser lido e executado depois de sua morte ("para meus irmãos Carl e...") Neste emocionante documento, Beethoven revela sua enfermidade e sua angústia frente a ela. O escrito tem uma qualidade emocional verdadeiramente impactante, quando o lemos hoje em dia. Uma segunda parte do testamento foi escrita uns poucos dias depois, mais exatamente em 10 de outubro de 1802, e tem o caráter de um epílogo do escrito anteriormente (separada por ♧      ♧       ♧ em "O Testamento de Heiligenstadt em poema"). 

A redação mesma do "Testamento" se acha cheia de erros de sintaxe e exibe uma pontuação absolutamente pessoal. As orações são extensas, às vezes de difícil compreensão. Evidentemente o documento foi escrito sob uma forte pressão emocional e tem uma qualidade muito forte de imediatez e impacto. A personalidade de Beethoven é claramente perceptível. Isso resta evidente também na leitura de suas inúmeras cartas. Em que pese o compositor dizer amiúde que não tinha nenhuma facilidade para escrevê-las, conseguia acertá-las perfeitamente para transmitir seus fortes pensamentos e emoções, claro que não com a mesma qualidade estética que na música, apesar de utilizar uma qualidade emocional muito parecida.

É importante recordar que esse testamento foi encontrado no mesmo esconderijo secreto de seu escritório, junto com a carta à Amada Imortal, escrita em 1812.

Finalmente, Beethoven escreveu depois ainda dois testamentos, em 1824 e poucos dias antes de morrer em 1827. Esses foram documentos principalmente formais, redigidos por um advogado e racionalmente destinados a legar seus poucos bens.

4 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Salomea Gandelman (professora universitária, autora do livro "36 Compositores Brasileiros-obras para piano (1950-1988)) disse...

Muito obrigada pelas preciosas informações. Abraços, Salomea

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

O Blog do Braga tem o prazer de apresentar O TESTAMENTO DE HEILIGENSTADT, produzido por LUDWIG VAN BEETHOVEN, que consiste de duas partes: a primeira parte, de 06/10/1802, e a segunda, de 10/10/1802, num momento crucial da vida do compositor, quando se encontrava atormentado pelo aumento de sua surdez e se julgava incapaz de concluir suas grandes obras, no povoado de Heiligenstadt próximo a Viena. O testamento, como se sabe, é um documento oficial a ser lido e executado após a morte do inventariante.

JUDAS ISGOROGOTA, natural de Lagoa da Canoa-AL, 15/09/1901? – São Paulo, 10/01/1979, é o pseudônimo do poeta e jornalista alagoano Agnelo Rodrigues de Melo, que se aventurou a transformar em versos a tradução do referido Testamento em prosa, de que resultou um belíssima peça de criação poética, em que o eu lírico do poeta extravasa além dos limites da prosa em que o testamento fora originalmente escrito e se realiza em versos rimados de rara beleza em um padrão não uniforme de versificação.

Fiz a tradução de uma matéria relativa ao célebre Testamento para contextualizar o rico poema de Judas Isgorogota, diretamente de El Sitio de Ludwig van Beethoven (site espanhol especializado em Beethoven).

Poema: O Testamento de Heiligenstadt por Judas Isgorogota

https://bragamusician.blogspot.com/2019/02/o-testamento-de-heiligenstadt-em-poema.html


Minha tradução de post de El Sitio de Ludwig van Beethoven

https://bragamusician.blogspot.com/2019/02/ludwig-van-beethoven-em-heiligenstadt.html


Cordial abraço,

Francisco Braga

Mario Bruno Gonçalves Carezzato disse...

Gostei muito, obrigado.