segunda-feira, 17 de março de 2025

ADEUS A EDUARDO LOPES DE OLIVEIRA


Por Francisco José dos Santos Braga


Quando nasceste, ao teu redor todos riam, só tu choravas. Faze por viver de tal modo que, à hora de tua morte, todos chorem, só tu rias.                                                                                                           Confúcio.

 
Prezados amigos e parentes de Dr. Eduardo Lopes de Oliveira que aqui comparecem para este último adeus; D. Maria José, aceite meus sinceros sentimentos pela partida súbita do marido.
 
Atendendo pedido da nossa família enlutada, e desde já representando todos os parentes que não puderam presencialmente dar o último adeus a Dr. Eduardo Lopes de Oliveira, faço uso da palavra neste momento de dor em que seu corpo será entregue à mãe terra. 
 
Eduardo é o quarto de uma prole de onze filhos do casal Miguel Lopes de Oliveira e Anita, nascido nesta cidade em 28 de junho de 1939. Como bom seguidor do credo católico praticado por sua mãe, no começo dos anos cinquenta, Eduardo foi coroinha na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, nas igrejas do Carmo e de Nossa Senhora do Rosário e na capela da parada do trem no Giarola. 
 
De 1955 a 1957 trabalhou no Transporte Sanjoanense, firma de Sílvio Teixeira. Durante esse período, trabalhava durante o dia e fazia à noite o curso técnico da Escola de Comércio Tiradentes. 
 
Em 1958, Eduardo deixou o emprego na firma para servir o exército no 11º RI. 
 
No segundo semestre de 1959, terminou o curso técnico e começou a se preparar para ir trabalhar em Belo Horizonte, onde sonhava também em cursar Direito. Teve a sorte de ser admitido como estagiário num escritório de advocacia, enquanto cursava Direito na PUC. Após formado, em 1968 foi promovido a funcionário no mesmo escritório de advocacia onde já trabalhava como estagiário e onde dirigiu como sócio por 53 anos, prestando assessoramento jurídico até recentemente. 
 
Após a formatura da sua irmã mais nova, Maria do Carmo em 1979, como normalista pelo Colégio Nossa Sra. das Dores de São João del-Rei, a família Lopes de Oliveira decidiu mudar-se definitivamente para Belo Horizonte, com exceção do filho mais velho (Eduardinho) que decidiu permanecer nesta cidade, porque já constituíra sua família com Dolores Olívia Ferraz. 
 
Assim, no começo de 1980, a família de Eduardo mudou-se para Belo Horizonte, indo morar num apartamento no bairro Anchieta. Logo que possível, adquiriu uma casa no bairro Serra, para onde se deslocou em caráter definitivo. 
 
Foi Eduardo um filho amoroso, com quem sua mãe Anita pôde contar em tempo integral como companhia e cuidador, depois da saída de casa de seus outros filhos e falecimento de seu segundo filho Maurício. 
 
Para maior conforto de sua mãe Anita e no desejo de propiciar-lhe convívio com suas duas irmãs viúvas Olga e Maria das Mercês que permaneceram em São João del-Rei, Eduardo alugou uma casa na rua Getúlio Vargas próxima à Catedral Basílica Nossa Sra. do Pilar, adaptando-a às necessidades de sua mãe, para que ela pudesse receber suas irmãs, amigas, vizinhas e parentes são-joanenses. Essa casa se tornou em breve um ponto de encontro da família e de amigos são-joanenses graças ao carisma de Anita, onde eram recebidos com toda a mordomia, especialmente durante as festividades religiosas dos Passos e da Semana Santa. 
Encontro de primos no Domingo da Paixão (IV Domingo da Quaresma) em 2024, após a rasoura de N. Sra. das Dores, na frente da igreja de N. Sra. do Carmo (da dir. p/ esq.: Laurinha, Eduardo e o autor) - Crédito da foto: Rute Pardini

 
Caro Eduardo, sua falta será sentida por todos nós que apreciávamos sua companhia nessas festividades religiosas, em especial em 16 de julho, dia de Nossa Senhora do Carmo. 
 
Com o falecimento de sua mãe em 17 de março de 2004, Eduardo não viu razão para continuar alugando o imóvel para o uso temporário de suas vindas a São João. 
 
Quero concluir esta fala, lembrando do amigo e primo Eduardo por alguns gestos generosos, especialmente para com meu pai Roque Braga, irmão de sua mãe Anita. Quando Roque faleceu em 26 de setembro de 1984 no hospital Mater Dei em Belo Horizonte, seu corpo foi inicialmente velado na casa de Anita no bairro Serra. Para o velório e o translado do corpo para São João, Eduardo escolheu seu melhor terno para cobrir o corpo de seu tio. Este é um fato que a família Santos Braga jamais apagará da memória do magnânimo Eduardo. 
 
Outro fato digno de ser lembrado é o cuidado que tinha de visitar os parentes quando de suas vindas à terra natal, especialmente com um carinho todo especial para com suas tias e conhecidos mais idosos. Por esses gestos espontâneos e cordiais, costumávamos tratá-lo de lorde, alguém muito admirado e especial. 
 
Quase sempre só reconhecemos que passou um anjo por nossas vidas quando ocorre uma despedida inesperada, como a que ocorreu com este primo querido, Eduardo. Portanto, como sua alma já voou para os braços do Criador, este não é um momento de pranto, mas de gratidão pela vida de Eduardo: primeiro a Deus, autor da Vida, e segundo a seus pais, seus genitores da sua vida terrena. 
 
Obrigado por todas as suas ações beneméritas, prezado primo e amigo Eduardo. Descanse na paz nos braços do Senhor!

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Em seguida a este elogio fúnebre, foi solicitado a Rute Pardini Braga fazer a leitura de um pequeno poema em prosa, em forma de carta enviada por LUCIANA LOPES DE RESENDE, que, impossibilitada de comparecer àquele serviço fúnebre por estar em Portugal, encaminhara a carta por whatsApp, pedindo que fosse lida imediatamente antes do sepultamento do seu tio Eduardo Lopes de Oliveira, a qual passo a transcrever:
 
Tio Eduardo, querido:
Hoje eu acordei sentindo o cheiro das mexericas e dos figos; senti o orvalho com a brisa fria da manhã, o dia está lindo e o céu está azul e o sol, quentinho. Aqui ainda faz frio, mas já é quase primavera. As flores já estão brotando, os passarinhos cantam muito; ontem até vi uma borboleta amarela aqui na varanda!
Pareço estar naquelas manhãs frias de outono da Serra, quando eu ainda era criança, talvez pré-adolescente, e a gente indo juntos caminhar com os cachorros na Serra do Curral p'ra ver o nascer-do-sol e depois ir tomar café da manhã com a vovó Anita.
Senti o cheiro e o gosto quentinho daquele café-com-leite e da broa com queijo que saiu do forno. Do aconchego de estar com você e com a vovó, e da delícia de depois ir lá à horta com você p'ra me mostrar os passarinhos, aquele tanto de mexericas e flores lindas...
A vovó está na janela vendo a gente com aquele sorriso doce que só ela tem, o vovô Miguel também, e com o cigarrinho na mão.
Senti a alegria de estar na fila p'ra receber o seu presente de Natal e de ir ao Café Palhares p'ra comer o KAOL, e orgulho de ser sua sobrinha.
Tio Eduardo: quanta paz, quanta luz!
Eu sei: é onde você está.
Me espera aí que qualquer dia destes eu estou indo p'ra comer algumas mexericas com você, a vovó e o vovô!
Te amo muito, tio Eduardo. Obrigada por tudo, tio,  de verdade.
Vá em paz!
Meu beijo com muito amor e carinho,
Luciana
P.S.: O Victor e o Sasha mandam muitos beijos e abraços também.
 
Carta de Luciana Lopes de Resende a seu tio Eduardo Lopes de Oliveira



17 comentários:

Francisco José dos Santos Braga disse...

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Prezad@,
Hoje foi um daqueles dias intermináveis em que jorram emoções pelas bocas e olhos de todas as pessoas presentes ao serviço fúnebre.
Depois vem a encomendação da alma do falecido.
Interrompendo o procedimento de fechar a urna, faz-se ouvir a voz maviosa da soprano Rute Pardini cantando a cappella o dolente Magnificat de Monsenhor Frisina.
Depois, vem a procissão em direção ao cemitério.
Lá dentro, o orador pede para fazer uso da palavra para evocar as qualidades do falecido. Um se aventura a ler uma carta para o falecido, outro, a recitar uma oração para meditação dos presentes.
Por fim, cantam uma canção cheia de páthos, provocando compaixão ou empatia no aglomerado de pessoas presentes ao ofício fúnebre.
Sugiro a leitura de minha elegia em prosa ADEUS A EDUARDO LOPES DE OLIVEIRA ao primo e amigo, falecido ontem e inumado hoje, e de uma terna carta escrita em Portugal de uma sobrinha para seu tio.

Link: https://bragamusician.blogspot.com/2025/03/adeus-eduardo-lopes-de-oliveira.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Francisco José dos Santos Braga disse...

Pedro Rogério Moreira (jornalista e sócio da Gracián Telecom, cronista e memorialista brasileiro) disse...
Meus sentimentos pela perda de Eduardo!

Francisco José dos Santos Braga disse...

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, atual Terceiro Vice-Presidente TJMG, escritor e membro do IHG-MG e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...
Muito triste, eu o estimava muito.
Descanse em paz!
Amém.

Francisco José dos Santos Braga disse...

Pedro Paulo Torga da Silva disse...
Nosso último encontro foi no Domingo de Páscoa 2024.

Francisco José dos Santos Braga disse...

Marina (prima) disse...
Acabei de ler. Que linda que foi a Vida do Eduardo e parabéns por suas palavras, pelo carinho e gratidão. Que carta amorosa da Luciana, tenho certeza de que ele recebeu todo esse carinho e energia. Que ele siga em paz!
Até mais primo, dê um beijo na Rute.🥰

Francisco José dos Santos Braga disse...

Merania Aparecida de Oliveira (jornalista e sócia-diretora da Associação Instituto Roque Camêllo) disse...
Dr. Francisco,
bom-dia, paz, saúde e apesar de tudo alegria!
Receba meu abraço de solidariedade extensivo a todos da família.
Que o Dr. Eduardo Lopes de Oliveira, descanse em paz!
Merania

Francisco José dos Santos Braga disse...

Neudon Bosco Barbosa (jornalista, editor do Jornal de Minas e da revista Em Voga e membro efetivo do IHG-São João del-Rei) disse...
Emocionante!
Lembro -me dele na Festa do Carmo com camisa de linho. De tudo o que li e de seus nobres gestos, só podia ser um Cavalheiro!
E o foi.

Francisco José dos Santos Braga disse...

João Paulo Guimarães (escritor, gerente da TV DelRei e colaborador do Blog de São João del-Rei) disse...
Meus sentimentos, Francisco!

Francisco José dos Santos Braga disse...


Frederico Azevedo (advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, mestre em Direito pelo IDP e sócio do escritório de advocacia Azevedo & Souza em Divinópolis) disse...
Bom dia, meu grande amigo.

É com profundo pesar que recebi a notícia do seu recente luto pela perda de dois entes queridos. Neste momento de dor e reflexão, venho expressar minhas mais sinceras condolências e solidariedade diante de tão significativa perda.

A ausência daqueles que amamos cria um vazio que palavras dificilmente conseguem preencher. No entanto, é importante lembrar que o legado e as memórias construídas permanecem vivos em nossos corações e ações cotidianas, transformando-se em força para seguirmos adiante.

Permita-se vivenciar o luto em seu próprio tempo e maneira, respeitando seus sentimentos e o processo natural de elaboração da perda. Saiba que estarei à disposição para oferecer apoio nas diversas necessidades que possam surgir neste período delicado.

Que as boas lembranças possam, gradualmente, sobrepor-se à dor da ausência, trazendo conforto e serenidade em meio ao sofrimento. A vida, em sua complexidade, nos ensina sobre a importância de valorizar cada momento compartilhado com aqueles que amamos. (É justamente o que conversamos no último fim de semana sobre viver cada segundo de forma única - saímos e não sabemos se voltamos).

Receba, por meio destas palavras, meu abraço fraterno e a certeza de minha presença constante, mesmo que em silêncio respeitoso, nesta jornada de reconstrução e ressignificação.
Estamos em oração, fiquem com Deus.

Atenciosamente,

Frederico Azevedo

Francisco José dos Santos Braga disse...

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, atual Terceiro Vice-Presidente TJMG, escritor e membro do IHG-MG e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...
Meu amigo,

Foi morte súbita?
Eu gostava muito dele, que Deus receba sua generosa alma!
Abs

Francisco José dos Santos Braga disse...

Primo Braga ,
Ontem Você nos confortando com palavras doces e sinceras para meu Irmão Eduardo através de um discurso verdadeiro e lindo...
Hoje aceite meus pêsames pela perda do seu irmão Roque,
que foi/ fomos grandes amigos além do nosso parentesco. Aquí em Lavras, agora, rezei na Paróquia de Santana pedindo a Deus que o conduza até o seu Reino Espiritual🙏🙏🙏

Francisco José dos Santos Braga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Francisco José dos Santos Braga disse...

Danilo Gomes (escritor, jornalista e cronista, membro das Academias Mineira de Letras, Marianense de Letras e Brasiliense de Letras) disse...
Mestre Dr. Francisco Braga, meu amigo, li todo o texto. Aceite você e aceitem todos da família e amigos os meus pêsames pelo falecimento do ilustre Dr. Eduardo Lopes de Oliveira (1939- 2025). Sua elegia em prosa, o Magnificat cantado pela Dra. Rute Pardini Braga, a carta da sobrinha, a tristeza de todos, tudo isso emociona e contagia. Que bela e edificante vida a desse ilustre sanjoanense ! Sim, que ele descanse nos braços do Nosso Pai Criador, lá nos páramos da glória e da paz! Muito cordialmente, Danilo Gomes, mineiro de Mariana.

Francisco José dos Santos Braga disse...

João Carlos Ramos (poeta, escritor, membro e ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras e sócio correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Lavrense de Letras) disse...
Meus sentimentos, Francisco!

Geraldo Reis Poeta disse...

Braga! Emocionante a justa homenagem ao primo querido, o Dr. Eduardo Lopes de Oliveira, que sendo pessoa tão especial já deixou saudade, mais do que isso, lições de vida. Unimos os nossos sentimentos à família. Dele podemos dizer: Cumpriu a missão! E como remate, na expressão que roubo a Guimarães Rosa: Está no Deus! Nosso forte abraço e nossas condolências. (Geraldo Reis, Maria Lúcia Camelo e família).

Francisco José dos Santos Braga disse...

Benjamin Batista (fundador de diversas Academias de Letras na Bahia, presidente da Academia de Cultura da Bahia, showman e barítono de sucesso) disse...
Nossos sentimentos, confrade. Como somos espírito, na essência, ninguém morre só porque morreu.
Abraço.
BB

Elizabeth dos Santos Braga disse...

Querido Franz,
lindo o seu elogio fúnebre ao nosso querido primo Eduardo. Eu também me lembrei, quando soube de seu falecimento, de seu cavalheirismo, gentileza e amorosidade, em especial para com a Tia Anita, de quem cuidou até o fim. Também me recordo de suas visitas à nossa casa e do carinho para com Papai, Mamãe e todos nós. Eles gostavam tanto dele que o chamaram para ser padrinho de batismo do Fael. Outra lembrança que tive foi do Papai ter sido enterrado com seu terno; isso marcou a todos nós da família.
O Eduardo foi uma presença simpática e agradável em nossas vidas e nunca nos esqueceremos dele!
Linda e tocante a carta da Luciana! Com certeza, ele foi essa presença amorosa na vida de todos os sobrinhos! Do café com broa na casa da Tia Anita eu também morro de saudade!
Com gratidão e admiração,
Petete