segunda-feira, 28 de abril de 2025

FRANZ KAFKA E MAX BROD

Por SAUL JAY SINGER *

Tradução do inglês e comentários por Francisco José dos Santos Braga

Matéria publicada no JEWISH PRESS.com em sua edição de 16/01/2019.
 
Crédito pelas fotos: Jewish Press
 
FRANZ KAFKA (1883-1924) foi um dos romancistas mais influentes do século XX, com obras como A Metamorfose (1915) e O Processo (1925) consideradas entre as mais originais da literatura ocidental. Seus temas apresentam a experiência do isolamento total do homem e sua prisão em um labirinto que desafia a compreensão. Seus contos imaginativos, com sua mistura enigmática do ordinário e do bizarro, levaram a uma infinidade de interpretações, e seus personagens são frequentemente pessoas perplexas, traídas por uma sociedade sem sentido e absurda. 
Assim, o termo "kafkiano" passou a significar a impotência terrivelmente fantástica do homem diante de forças poderosas e desconhecidas que o perseguem sem razão. 
Criado em Praga, onde se formou em Direito, trabalhou para uma seguradora. Kafka começou a publicar contos em 1907, mas praticamente todas as suas principais obras foram publicadas após sua morte prematura por tuberculose, aos 41 anos. Após sua morte, ele deixou instruções para que seus escritos fossem destruídos, mas seu amigo, Max Brod, editou e publicou suas obras, incluindo O Processo, O Castelo e A Metamorfose
De acordo com os próprios relatos de Kafka, seu pai patriarcal, trabalhador e dominador, era um forte integracionista e laicista; a família ia à sinagoga apenas em ocasiões especiais, e mesmo essas eram mais como visitas de rotina do que encontros sérios com a tradição judaica. Kafka via as poucas práticas religiosas de seu pai como hipócritas e sem sentido, e se sentia impedido de pertencer à comunidade judaica apática de Praga, que não era apenas irreligiosa, mas ativamente antirreligiosa. 
O interesse de Kafka pelo judaísmo foi despertado quando ele acompanhou Brod a uma apresentação de uma companhia de teatro iídiche de Lvov, e sua identidade judaica se aprofundou após seu contato com os atores iídiches do Leste Europeu, que ele caracterizou como "pessoas que são judias em uma forma especialmente pura porque vivem apenas na religião, fazendo-o sem esforço, compreensão ou angústia". 
Por meio deles, ele passou a admirar os judeus da Europa Oriental, que começaram a afluir a Praga no início da Primeira Guerra Mundial, como "ligados uns aos outros por sua judaicidade em um grau desconhecido para nós". Ele escreveu que "o judaísmo não é meramente uma questão de fé; é acima de tudo uma questão da prática de um modo de vida em uma comunidade condicionada pela fé". 
Esses judeus estrangeiros saciaram sua sede de comunidade judaica em sua vida. Kafka os observou e entrevistou longamente e, embora nunca tivesse se envolvido em nenhuma leitura significativa da Escritura Judaica e textos relacionados, seus diários começaram a refletir exposições sobre a lei rabínica, discussões sobre atividades comunitárias judaicas, reflexões sobre o discurso talmúdico e, mais particularmente, contos populares hassídicos e contos de maravilhas envolvendo rabinos místicos (incluindo um relato notável de sua visita ao Belzer Rebbe). 
Há também referências substanciais em sua correspondência, especialmente com Brod, ao seu sonho sionista de fazer aliyah ¹. Kafka era muito atraído pelo sionismo, mas de uma perspectiva cultural e humanista. Ele era amigo íntimo de muitos sionistas fervorosos, incluindo Brod, leu relatos sobre colônias agrícolas judaicas em Eretz Yisrael ² com grande interesse, participou de debates no 11º Congresso Sionista em Viena em 1913, comprou um anúncio em Die Weld para sua fábrica de amianto, e algumas de suas histórias podem ser lidas como reflexo de uma perspectiva sionista. 
Ele se tornou relativamente proficiente em hebraico, na esperança de se comunicar com os judeus em Eretz Yisrael quando fizesse aliyah e, antes de morrer, falava constantemente de Jerusalém. 
Por outro lado, com a típica ambiguidade kafkiana, criticou o movimento sionista organizado e declarou: "Admiro o sionismo e sinto náuseas por ele". Considerava-se um pária devido ao seu "judaísmo tosco", que ressaltava seu dilema existencial central – sua alienação da ortodoxia judaica, que o deixava autoidentificado com a comunidade judaica, mas de alguma forma fora do povo judeu. 
De qualquer forma, não há dúvida de que seu judaísmo desempenhou um papel fundamental em sua vida e obra, e que grande parte de seus escritos é uma análise simbólica da condição do judeu no mundo moderno. Embora existam inúmeras referências a judeus e ao judaísmo em suas cartas e diários, suas histórias se destacam pela ausência de um único judeu (exceto  possivelmente  sua discussão em "O Julgamento dos pogroms russos" ³). Em última análise, um ponto que muitos de seus biógrafos ignoram: Kafka era mais um judeu que costumava escrever em alemão do que um escritor alemão que era judeu. 
Assinaturas originais de Kafka são muito raras, em parte devido à demanda e em parte porque ele morreu tão jovem. Cito, por exemplo, um envelope de 9 de agosto de 1916, assinado e endereçado à mão por Kafka, que ele enviou de Praga para sua noiva, Felice Bauer, em Westland. Kafka conheceu Felice na casa dos pais de Max Brod, foi noivo dela duas vezes (em 1914 e 1917) e, embora tenha dedicado a ela sua primeira obra adulta, O Veredito (1913), o romance deles se desfez definitivamente em 1917 e as núpcias nunca se realizaram.  
O relacionamento entre o casal evidenciou o conflito em curso em sua vida e foi um fator importante em seu desenvolvimento como escritor. Quando um livro com as cartas de amor de Kafka para Felice foi publicado em 1967 (cerca de quatro décadas após sua morte), ele já era considerado um dos escritores mais excêntricos da história, mas ninguém estava preparado para o compêndio de tormento e culpa que o jovem escritor havia enviado à sua amante. 
Curiosamente, um ano antes de sua morte, Kafka se apaixonou pela filha de 19 anos de judeus hassídicos, com quem frequentou aulas de Talmude, e fez planos de se mudar para Tel Aviv; como Brod descreveu, Kafka ficou encantado com seu "rico tesouro de tradição religiosa judaica". No entanto, quando pediu permissão ao pai dela para se casar, o rabino da família vetou o casamento porque Kafka era um "judeu ocidental". 
 
* * * * * 
 
Apesar de suas muitas realizações como romancista, poeta, compositor e músico, MAX BROD (1884-1968) é talvez mais conhecido como amigo, apoiador e patrono de Kafka. Brod foi o primeiro a reconhecer e divulgar a grandeza de Kafka, sobre quem escreveu seu romance Das Zauberreich der Liebe (O Reino mágico do Amor, 1928) e uma biografia (1937). Brod também organizou a publicação das obras de Kafka na década de 1930, uma década depois de ter proferido o elogio fúnebre no funeral do amigo. Em particular, Brod salvou O Processo e O Castelo  duas vezes: uma, das mãos do próprio Kafka e outra, dos nazistas. 
Nascido em Praga, Brod estudou Direito na universidade alemã e ingressou no Prager Tagblatt como editor teatral e musical em 1924. Ajudou a fundar o Conselho Nacional dos Judeus na Tchecoslováquia em 1918 e, posteriormente, representou a facção judaica no parlamento tcheco. Brod foi um sionista ativo, até mesmo militante, que mais tarde descobriu Deus em geral e o Deus judeu em particular. Fixou residência em Tel Aviv em 1939, onde trabalhou como crítico musical e consultor de teatro para a Habimah. 
A prolífica obra de Brod inclui poesia, ficção, peças teatrais, crítica literária e ensaios sobre filosofia, política e sionismo. Suas obras mais conhecidas incluem seus 20 romances  alguns românticos, outros históricos, incluindo Unambo (1949), um relato da guerra de independência de Israel  e muitas de suas obras foram traduzidas para o hebraico. 
Suas composições musicais incluem o Requiem Hebraicum, um quinteto para piano, e muitas canções, peças para piano e danças israelenses. Um conceito fundamental em grande parte de seus escritos é o problema do dualismo, ou seja, a dificuldade de conciliar a crença em Deus com o mal que existe no mundo. Ele acreditava que o judaísmo é o caminho para alcançar a tarefa suprema do homem: a busca pela perfeição. 
 
 
Na nota de 26 de julho de 1951 para a Sra. Harrari, mostrada acima, Brod escreve  em hebraico (o que era bastante incomum para ele): “Muito obrigado pelo seu convite. Para meu grande pesar, estou doente e, como tal, estou profundamente perturbado por não poder comparecer. Com grande respeito.” 
 
* * * * * 
 
Abaixo, uma magnífica fotografia original da lápide de Kafka em Praga. A imagem foi encontrada entre os pertences de Brod após sua morte. 
 

 
Durante sua vida, Kafka queimou aproximadamente 90% de sua própria obra e, após sua morte aos 41 anos, uma carta foi descoberta em sua escrivaninha em Praga, endereçada a Brod, solicitando que ele queimasse todos os seus diários, manuscritos e cartas restantes. Brod, no entanto, ignorou seu pedido e preparou e publicou edições póstumas de algumas das obras mais importantes de Kafka. Em 1939, carregando uma mala abarrotada de papéis de Kafka, Brod partiu para Eretz Israel no último trem a deixar Praga  cinco minutos antes de os nazistas fecharem a fronteira tcheca. 
 O conteúdo da mala de Brod tornou-se objeto de mais de 50 anos de disputas judiciais. Os documentos permaneceram em posse de Brod até sua morte em Israel em 1968, quando foram passados ​​por meio de seu testamento de 1961 para sua secretária Esther Hoffe, a quem Brod também havia designado como executora de seu espólio. No entanto, ele também havia previsto que, após a morte de Hoffe, todos os documentos literários de Kafka seriam transferidos para um arquivo público em Israel. Hoffe, porém, já havia vendido e leiloado parte do material, e seu testamento deixou o espólio para suas duas filhas. 
Quando Hoffe faleceu em 2008, suas filhas iniciaram o processo de inventário, mas surgiu uma disputa entre elas e o Estado de Israel, que argumentava que o testamento de Brod deveria ser cumprido e que os arquivos de Kafka eram um tesouro nacional e um recurso essencial para a compreensão da vida judaica pré-Holocausto. A reivindicação de Israel baseava-se, em parte, nos planos de Brod, que ele havia discutido publicamente, de depositar os documentos de Kafka na biblioteca da Universidade Hebraica de Jerusalém, onde Hugo Bergmann, amigo em comum dele e de Kafka, era então bibliotecário e reitor. 
Após anos de acirradas disputas, o Tribunal de Família do Distrito de Tel Aviv decidiu que o testamento de Brod deveria ser mantido e que seu espólio, incluindo obras de Kafka, fosse doado à Biblioteca Nacional. Também concedeu às filhas de Hoffe um direito limitado de receber royalties.
 
* Este autor atua como consultor sênior de ética jurídica na Ordem dos Advogados do Distrito de Columbia e é um colecionador de raros documentos e cartas judaicas originais. 


II. NOTAS EXPLICATIVAS



¹ Esta palavra hebraica literalmente significa subida, mas por gerações foi usada para significar imigração para Israel. Israel tem sido sempre o centro do universo judaico, mas por séculos o sonho de mudar-se para Israel foi apenas isso, um sonho.
 
² O conceito de Terra de Israel corresponde ao de Terra Prometida por Deus aos descendentes de Abraão.

³ Segundo [LÖWY, 47] apud [FERENCZI, Anemarie, 1975], a fonte de inspiração para a trama de O Processo, foram fatos históricos contemporâneos a Kafka. Entre esses fatos, os grandes processos antissemitas de sua época eram um exemplo flagrante da injustiça de Estado. Os mais célebres foram o processo Tisza (Hungria, 1882), o processo Dreyfus (França, 1894-99), o processo Hilsner (Tchecoslováquia, 1899-1900) e o processo Beilis (Rússia, 1912-13). Apesar das diferenças entre as formas de Estado — absolutismo, monarquia constitucional, república — o sistema judiciário condenou, por vezes à pena de morte, vítimas inocentes, cujo único crime era o de serem judeus. 
[LÖWY, 48] transcreve um trecho do livro de Ferenczi: Kafka não quis, pois, ser o profeta de catástrofes futuras, limitou-se a decifrar os aspectos da desgraça do seu tempo. Se as suas descrições aparentam ser, com frequência, efetivamente proféticas, é porque épocas ulteriores constituem sequências lógicas da de Kafka.
Além disso, o filme "O Processo" (1962) dirigido por Orson Welles, baseado no romance homônimo de Kafka, teve em alguns personagens a participação de Anthony Perkins (como Josef K.), Jeanne Moreau, Romy Schneider e o próprio Orson Welles. A sinopse do filme pode ser assim descrita: numa certa manhã, Josef K. é acusado de um crime que, supostamente, sequer sabe que cometeu. Terá que lutar para se defender e, para isso, investigar por que está sendo investigado. 
[LÖWY, 43] descreve o filme da seguinte forma: Orson Welles apropriou-se do romance de Kafka para recriá-lo nos seus próprios termos. O romance de Kafka não exprime uma mensagem política ou doutrinária, mas, sobretudo, um certo estado de espírito antiautoritário. Reencontramos, sob uma outra forma, e com outros meios estéticos, esse mesmo estado de espírito no filme.
 
 
III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA sugerida pelo tradutor
 
 
EMBAIXADA DA REPÚBLICA TCHECA EM WASHINGTON D.C.: 100 ANOS SEM FRANZ KAFKA (1924-2024), matéria transcrita no Blog do Braga em 24/07/2024
 
FERENCZI, Anemarie: Kafka. Subjectivité, Histoire et Structures, Paris: Klincksiek, 1975
 
LÖWY, Michael: Escritas de Luz: Der Prozess - The Trial, revista Terceira Margem da UFRJ (online) – ano XVII, nº 28 /jul.-dez. 2013, pp. 43-78
 


terça-feira, 22 de abril de 2025

JOSÉ MINDLIN E AS DUAS MISSAS PERNAMBUCANAS DE 1772


Por Francisco José dos Santos Braga
 
Certo dia,  lendo um livro do saudoso bibliófilo José Mindlin sobre seu acervo bibliográfico particular, reconhecidamente o maior do Brasil, deparei-me com um assunto que mereceu do seu autor um destaque todo especial: a sua descoberta de duas missas pernambucanas de 1772. Não só pelas imagens ali estampadas, mas também por um único encarte gigantesco usado no seu livro para cativar a atenção do leitor, entre as páginas 150 e 151, percebi logo tratar-se de objeto para uma maior investigação, embora Mindlin tenha apresentado esse material com uma explicação insuficiente, em minha opinião, além de não ter mostrado interesse de dar qualquer destaque à partitura das missas, nem à interpretação do encarte.
Segundo sua descrição, convenci-me de que ele não tinha percebido que se tratava de um material esotérico principalmente por trás das imagens e do soneto do encarte fornecidos, que necessitavam de mais acurada observação.
Esse meu texto se destina a esclarecer apenas os elementos que encontrei no livro Uma Vida entre Livros,  sem ter tido acesso à biblioteca do saudoso Mindlin. 
Resta ainda dizer que, não satisfeito com a exposição do próprio Mindlin no referido livro, busquei outro livro dele  Memórias Esparsas de uma Biblioteca , onde também localizei menção às duas missas pernambucanas.
Para apreciação do leitor, transcrevo a exata descrição dele sobre a sua descoberta das duas missas pernambucanas no primeiro livro: 
 [MINDLIN, 1997, 150] assim se expressou sobre esses itens de seu acervo: 
“(...) Há vários outros manuscritos na biblioteca, mas mencionarei apenas os seguintes: duas missas pernambucanas, de 1772, uma muito refinada, e outra mais rústica, mas ambas com ilustrações, bela caligrafia, e notações musicais, as duas na encadernação original em veludo vermelho: um conjunto de Louvações a Luis Antonio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Matteus (antepassado do editor de Os Lusíadas de 1817), quando assumiu o governo da Capitania de São Paulo, em meados do século XVIII. Trata-se de uma coleção de grande interesse gráfico, além de histórico, pois algumas das "louvações" são de bela caligrafia e ilustração, como se pode ver pelo "soneto diacróstico esférico" que vai reproduzido, e, além disso, mostra que a bajulação aos políticos em altos cargos vem de longe...”

Vejamos agora como [MINDLIN, 2004, 70-71] se refere a essas obras de seu acervo no segundo livro: 
(...) Houve outra ocasião em que fiquei sem duas obras importantes, mas aí a história foi diferente. Eu tinha ido ao Rio ver duas missas manuscritas, de Olinda, século XVIII, que me tinham sido oferecidas por um colecionador, que as havia descoberto anos antes. Achei lindos os manuscritos e ia comprá-los na hora, quando o livreiro Walter Cunha, que estava conosco no apartamento, me sugeriu dizer ao vendedor que ia pensar, pois como ele ia comprar muitas outras coisas, certamente poderia adquirir as missas para mim por preço bem menor. Fui na conversa e quando liguei dias mais tarde, por falta de notícias, o colecionador me informou que as missas tinham sido vendidas, mas sem dizer a quem. Não me lembro se falei ou não com o Walter. É bem provável que sim, mas não fiquei sabendo o que tinha acontecido e restou uma frustração. Acontece que uns dez anos mais tarde, estando na livraria do Walter Cunha, ele me perguntou se eu teria interesse em comprar... duas missas pernambucanas que um irmão dele, também livreiro, tinha oferecido à Biblioteca Nacional, mas que não tinha vendido por falta de verba da Biblioteca. Eram as próprias! A sorte me favoreceu mais uma vez, mas depois disso passei a não me esquecer da lição. Nunca cheguei a saber o que realmente aconteceu, mas comprei os manuscritos pelo mesmo preço, em dólares, que me tinha sido pedido originalmente. (...)”
 
Nas linhas abaixo vou, além de reproduzir as imagens, o soneto e a Esfera Sefirótica publicados por Mindlin, comentar sobre a riqueza de cada um deles, oferecendo a minha  hipótese para a versão do seu idealizador: o Mestre Sapateiro ¹ Manoel Pereira Chrispim (1727-1792), reinol, natural da freguesia do Santíssimo Sacramento, em Lisboa, o qual, emigrou para o Brasil Colônia, desembarcando no Rio de Janeiro, aí ficando durante um mês. Foi como tropeiro para Minas Gerais, de onde partiu em 1748 para São Paulo em caráter definitivo até sua morte em 22 de agosto de 1792. Consta que, entre 1765 e 1776, sustentou sua família com o ofício de sapateiro na maior parte do tempo. ²
 
Missa na festividade do Corpo de Deus que Ao Sr. Capitão-Mor Joseph Timoteo Pereira de Bastos, O.D.C. Caetano da Silva, Cônego na Catedral de Olinda 1772. Obs.: O.D.C. = Ordo Discalceatorum Carmelitarum ou Ordem dos Carmelitas Descalços
 
 
II. Elogio, Panegírico, Endecassílabo, Diacróstico, Esférico. Ao Illustríssimo e Excelentíssimo, Senhor Dom Luis Antonio de Souza, Botelho Mouram. Capitam General de S. Paulo. Exª.
 



Transcrição do Soneto: 
Esta Esfera Sefir. ³ que bem compostas, 
De Republica fatal tam elegante,
Hé Vossa Excelência o seu Atlante,
Uma tem a cargo, e esta as costas.
 
Agora vejo já nessas maons postas,
A Esfera de que a vejo mais lustrante,
Basta por vossos raios, luz brilhante,
E ilustrá-la por nam ficar de costas.
 
Pare a Esfera aqui, pare lustrosa,
Nam seja ao seu Atlante carregada,
Mostre a magnificemcia coriosa.
 
Poblique, que seu Atlante, a tem honrada;
A República, e a Esfera luctuosa,
A nossos hombros está munto ilustrada. 
 
Embaixo do soneto, encontra-se a representação da Esfera Sefirótica com suas emanações primárias e secundárias, assim constituída:
a) no centro, a figura de um sol sob uma letra E, da qual emana o acróstico já visto formado pelo nome de
b) Dom Luis Antonio de Souza Botelho Mourão.
c) Desde a letra E até o acróstico, parte um raio para cada letra do acróstico formando uma primeira irradiação (no mundo espiritual).
d) Em sequência, desde cada letra do acróstico, parte um segundo raio formando uma segunda irradiação (no mundo físico).

Ass.: Manoel Pereira Chrispim - Mestre Sapateiro de Sua Excelência

 

Emanação primária de um feixe de raios do mundo espiritual representando a esfera da transcendência, partindo do E central para formar o acróstico abaixo:

DominantE
OrizontE
MartE
 
LuzentE
VibrantE
IustificantE
SapientE

AstroluzentE
Numen, brilhantE
TutelantE
Omen, ConstantE
No castigo, severantE
Iá premiantE
OnrantE
 
DiligentE
EminentE
 
Sol flamantE
ObedientE
ValentE
ZelantE
ArrogantE
 
BibliotecantE
OuvintE
TementE
EspedientE
LustrantE
HonorificantE
OcultantE
 
MilitantE
OstentantE
VelantE
RespeitantE
AmantE
MercuriantE 

Emanação secundária (do mundo físico) de um feixe de raios representando a esfera da imanência, partindo do acróstico abaixo:

Dominai Senhor, em Régio Colo,
Onde o Orizonte faz o polo, Apolo.
Marte, que em valor a Marte topa,

Luzindo vossos Rayos dessa Europa.
Vibrando Resplendor tam apresado,
Iusto em obrar, proceder justificado.
Saber, Resolver, e Executar,

Astro girando, vendo, e mandar.
Numen, sacro desta Esfera bela,
Todos em vós tem sua tutela.
Omem, fiel ao Rey, sois tão constante,
No obrar, castigar culpas severante.
Iá premiando serviços diligente,
Onrando, enobrecendo muy patente.

Diligente em saber o que hé aumento,
Eminente em descobrir com muito tento.

Sol Diamantino da Coroa Portuguesa,
Obedece ao preceito Régio, com pureza.
Valor, e mais valor, em toda a empresa,
Zelador da honra, e da Nobreza.
Arrojo no que determina, e manda,
 
Bem que nas Sacras letras, hé em quem anda.
Oouvindo aos Nobress e aos pequenos,
Todos temem a Justiça, por quem a vemos.
Espedindo as ordens arrogante,
Lutando ao inconstante, com constante.
Hé quem honra ao Rey, dá glória a Deus,
Oculto tesouro, e patente para os céus.

Milita em seu peito tais ardores,
Ostenta das Régias cinzas, os verdores.
Vela contínuo em contínua devoçam,
Respeita ao Santo Coro da oraçam.
Amador da paz, terror na guerra,
Mercúrio, em artes, a sombra da terra.
 

III. AGRADECIMENTO

 
O gerente do Blog agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga pela formatação do registro fotográfico utilizado neste trabalho. 
 
 
IV. NOTAS EXPLICATIVAS


¹ Cabe aqui lembrar que há na cidade de Nüremberg, na Alemanha, um símile para o mestre sapateiro de profissão que se tornou poeta: Hans Sachs (1494-1576), um  mestre sapateiro de profissão que se tornou mestre cantor, imortalizado por Richard Wagner na ópera Die Meistersinger von Nürenberg (“Os Mestres Cantores de Nüremberg”). Em homenagem a Hans Sachs, a cidade de Nüremberg mandou erigir sua estátua. Sobre essa estátua há um estranho fato carregado de simbolismo: em meio à ruína e aos escombros, o destino quis assegurar a sobrevivência milagrosa da estátua do mestre cantor, em janeiro de 1945, durante a II Guerra Mundial. Pois bem. Ela permaneceu intacta, mesmo após o devastador bombardeio anglo-americano ter sido despejado sobre a cidade em janeiro de 1945. Tudo ao redor do pedestal onde o artista permanecia sentado foi destruído. Ruínas e escombros estendiam-se até onde o horizonte alcançava. Só ele lá restou imóvel, sereno, reflexivo e bonachão em meio à catástrofe total, empunhando a sua lira, como que esperando que os alemães, como em tantas outras vezes na sua história, voltassem a por em pé tudo de novo.
 
² Para uma breve biografia deste personagem, queira consultar o item 262 constante do link: http://marcopolo.pro.br/genealogia/cof/cofn12.htm

³ Entendo que se trata de uma abreviação para “sefirot” (fem. plural combinando com “compostas”, também no plural).
Para a cabala hebraica, as dez sefirot  são canais através dos quais a Energia Divina flui, permeia e se torna parte de cada coisa que existe, criando assim uma corrente espiritual que liga e vivifica todas as coisas, impregnando-as da Essência Divina. 
Outro conceito possível para as sefirot é que “são emanações divinas que representam diferentes aspectos da natureza de Deus e da realidade cósmica. Cada sefirá (singular de sefirot) é considerada um ponto de ligação entre o mundo físico e o mundo espiritual, e juntas elas formam a Árvore da Vida.” 
Para os cabalistas, Deus é Ein Soph, cujo significado é o Infinito.
 
Em latim, primitivamente o J não se distinguia do I. Assim,  onde se lêem IustificantE e Iá, leiam-se JustificantE e Já.
 
Em latim, V era a notação primitiva do U. Assim, onde se lê SOVZA, leia-se SOUZA.
 
Em português do século XVIII, onde se lê Movram, leia-se Mourão. 


V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


MINDLIN, José: Uma Vida entre Livros: Reencontros com o tempo por José Mindlin, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Companhia das Letras, 1997, 231 p.
 
_____________: Memórias Esparsas de uma Biblioteca com José Mindlin, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004, Coleção Memória do Livro vol. 2, 125 p.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

ALGUMAS BREVES REFLEXÕES POÉTICAS SOBRE UMA RECENTE VIAGEM AO LONGO DA GRÉCIA


Por STEPHEN TSOUSIS
Traduzido do inglês por Francisco José dos Santos Braga

Dedicatória
Escrito para minha esposa, minha alma viajante - Vicky Kapatos - 2006
Abstract
Esta peça reflexiva narra uma jornada pessoal por importantes sítios históricos e mitológicos da Grécia, explorando temas de memória, herança e interação entre a experiência humana e o mundo antigo. Aprofunda-se em rituais ancestrais, no papel do amor e dos deuses nos assuntos humanos e nas conexões pessoais com o passado familiar, ao mesmo tempo em que tece contemplações poéticas sobrNoe o impacto da história na identidade atual.
 
final de maio até o início de outubro de 2006, minha esposa Vicky Kapatos e eu embarcamos em uma jornada para a Grécia e Turquia. Minha intenção era encontrar minhas raízes (já que meu pai é um grego australiano), buscar contato com alguns dos principais sítios arqueológicos e explorar suas energias mitológicas/rituais e ver que imagens poderiam emergir do meu próprio inconsciente coletivo que ajudariam meus estudos esotéricos. Esta jornada provou ser uma rica experiência que ainda estou assimilando. Suas influências tocaram meus vários corpos do ser enquanto escapavam com algumas memórias passadas da vida contínua da minha alma. 
Todas as viagens têm seus destinos e pode-se dizer que a viagem enquanto está sendo planejada, percorrida, explorada, experenciada; antes, durante e depois, também é a viagem. 
 
Tivemos a experiência mas perdemos o significado, 
E o acesso ao significado restaura a experiência 
De uma forma diferente, além de qualquer 
[significado. 
A experiência passada revivida no significado (...) 
Não é a experiência de uma vida apenas 
Mas de muitas gerações (...) 
O olhar para trás da certeza 
Da história documentada (...)”
 
T.S. Eliot: Four Quartets: The Dry Salvages nº 2 
 
Boa viagem, passageiros! Não se livrando do 
[passado 
Imergindo em vidas diferentes, ou em qualquer 
[futuro; 
Não sois os mesmos que deixaram aquela estação 
Ou que chegarão a qualquer terminal (...)”
 
T.S. Eliot: Four Quartets: The Dry Salvages nº 3 
 
Começamos em Atenas, hospedados na casa da tia e do tio de Vicky, em Piréus, e partimos para ver alguns dos principais sítios de Atenas. A Acrópole, seus arredores, o Pártenon, o Monte Areópago, onde São Paulo pregou seu sermão ao Deus desconhecido, o Museu Arqueológico Nacional, o Museu Benaki e o Museu da Guerra Grega. Descobrimos que Atenas estava repleta de antiguidades. Durante a primeira semana, absorvemos muito e comecei a sonhar lucidamente com alguns dos deuses e deusas - Apolo, Atena, Dionísio e particularmente Hermes. C.G. Jung disse que "invocados ou não, os deuses estão presentes". Uma excitação encheu-nos a ambos, podíamos esperar o inesperado e com o coração e a mente abertos, poderíamos aprender algo mais sobre a linguagem dos deuses. 
Nossa viagem em suas reviravoltas gerou uma gama de sentimentos, pensamentos, experiências e encontros que espero que enriqueçam o significado da experiência. 
Pegamos nosso carro alugado e, nos 40 dias seguintes, percorremos 4.000 km ao longo da Grécia continental e pelas ilhas de Citera, Cefalônia e Salamina. 
Não muito longe de Atenas fica o antigo sítio de Elêusis, o lugar dos mistérios de Elêusis, onde o rito dionisíaco extático era encenado. Hoje não se sabe muito sobre esses ritos, mas eles representavam o mito central em que Deméter, a deusa da terra, perdeu sua filha Perséfone para Hades. Há uma caverna aqui que os antigos acreditavam que levava ao reino dos Mortos. Os rituais aqui buscavam promover uma união com a terra e sua naturalidade, fertilidade, sexualidade e um tema que unia os opostos. A salvação pessoal poderia ser conquistada fazendo uma descida à complexidade da condição humana. Encarar o abismo, seu caos e escuridão levaria a um desmembramento, morte e ressurreição que lembrava ao iniciado que não existia morte eterna. Em um ponto aqui, ouvi da caverna um profundo gemido feminino extático. Isso era clariaudiência? Notei que Dionísio também era um deus desmembrado, moribundo e ressuscitado, e esse era um tema comum nos mitos do herói em todo o mundo.
Esse sítio, como todos os que estávamos para visitar, me cativou e eu devo ter passado horas me debruçando sobre esses lugares; caminhando, imaginando, sentindo, pensando, percebendo, fotografando e bebendo o que me era oferecido. Em muitos locais, Vicky e eu conduzimos um ritual simples que, na maioria dos casos, era feito em silêncio, pois as palavras nos faltavam. Essa viagem me ensinou mais uma vez que dentro da minha personalidade histórica havia uma alma arcaica que conseguia se lembrar de alguns dos princípios e práticas dos antigos. Não é isso que a Nova Era pretende ser, um ressurgimento invisível restaurando um equilíbrio com a alma da Terra e tudo o que vive e viveu aqui? 
Em direção à antiga Corinto, Paulo, o apóstolo, o escritor de grande parte do Novo Testamento, esteve aqui. Nós cruzaríamos o caminho de Paulo algumas vezes nessa jornada. Lembro-me da eloquência da 1ª carta aos Coríntios, 13 e recitei esse capítulo sobre o amor onde, uma vez, já havia sido proclamado. O amor é um poder profundamente incompreendido, sinto que acima de tudo é uma tolerância para com todas as coisas, livre de julgamento; e que compreensão isso exigiria! De Corinto, viajamos para Micenas. Aqui há fortes ligações com a história da Guerra de Troia, conforme contada por Homero na Ilíada. Li a Ilíada durante esta viagem e o que ficou claro em minha mente foi o poder, a influência e o envolvimento dos deuses nos assuntos dos Gregos e Troianos que lutavam para entender o que estava acontecendo com eles. Ambos adoravam os mesmos deuses/deusas, mas esses arquétipos mudavam de lado de acordo com suas paixões, caprichos, tudo apesar das lições que desejavam ensinar aos mortais. Homens inconstantes criam deuses inconstantes e, na arena deste drama, quem pode ser sensato? 
Na vila de Micenas, não muito longe do local da idade do bronze, ficamos em La Belle Helene e, para minha alegria, descobri que muitas pessoas famosas e sem fama ficaram aqui. Reis, rainhas, escritores, historiadores, arqueólogos, atores e atrizes, além de nazistas. Todos vieram visitar o lugar de Helena, Páris, Agamenon e Menelau. Passamos duas noites no mesmo quarto em que C.G.Jung e sua esposa Emma ficaram durante a década de 1930.
Grandes sonhos, arquétipos, símbolos do meu terceiro olho permearam, desafiando-me a dar sentido a tudo aquilo. 
Qual a nossa opinião sobre mito - contos de fadas, estórias que possivelmente não poderiam ser verdadeiras, energias, arquétipos, exemplos de lições que todos nós precisamos aprender, níveis de realidades que a mente moderna não consegue captar. Quanto temos pago por levar para a escuridão o que acreditamos não poder ser verdadeiro. Se simplesmente não acreditamos que ele seja, isso o torna falso.
 
Não sei muita coisa sobre deuses; mas creio que o 
[rio 
É um forte deus pardo – taciturno, selvagem e 
[intratável, 
Paciente até certo ponto, em princípio reconhecido 
[como fronteira, 
Útil, não confiável, tal um caixeiro-viajante; 
Depois, apenas um problema enfrentando o 
[construtor de pontes. 
Uma vez resolvido o problema, o deus pardo é quase 
[esquecido 
Pelos moradores nas cidades – sempre, contudo, 
[implacável. 
Fiel a suas estações de cheia e sanhas, destróier, 
[lembrando 
O que os homens preferem esquecer. (...)”
 
T.S. Eliot: Four Quartets: The Dry Salvages nº 1
 
Perto de Micenas fomos para a Antiga Nemea, onde uma das tarefas de Hércules foi matar o leão de Nemea. Em Argos, os Argonautas chegaram e partiram em sua busca do Velocino de Ouro. Vimos muitos lugares conectados com o mito. Lembro-me do que Joseph Campbell disse uma vez. O mito é a história de sonho coletivo de uma cultura. O mito nos obriga a fazer uma jornada nas profundezas de nós mesmos. Sim, é uma tarefa hercúlea. Aqui encontramos os obstáculos da psique inconsciente guardada por monstros, demônios, hárpias, grifos, dragões, medusas e outros; mas eles são os guardiões de um grande segredo hermético, um tesouro, um ouro filosófico  a mônada divina dentro de cada um. Esta pérola de grande valor nunca foi destinada a ser encontrada facilmente. Somente o Herói se envolve nisso. Pisa no fio da navalha. Sofre até à morte sem saber se pode haver uma ressurreição, mas, ao conseguir isso, o herói pode em breve retornar com uma bênção, um presente, uma nova direção para um povo perdido em crises alimentadas por deuses que não são facilmente apaziguados. 
Seguimos para Epidauro para ver seu antigo teatro e Asclépio. Asclépio era filho de Apolo, a quem foi dado o dom da cura. Todas as jornadas mitológicas envolvem a necessidade de ser curado e restabelecido. O símbolo de Asclépio é o caduceu, um cajado, geralmente em forma de cruz, em torno do qual uma serpente simples ou dupla se enrosca. Este também é o cajado que Hermes carrega. 
A medicina ainda usa este símbolo hoje. Métodos alternativos modernos de cura não são novos. Os Asclépios eram os antigos hospitais gregos. Situados entre a beleza natural, água, lama, argila, oração, meditação, confissão, aconselhamento, psicoterapia, sono e sonhos eram empregados para restaurar o equilíbrio. Os gregos antigos sonhando em ser mordidos por uma serpente consideravam isso um presságio favorável. A serpente ainda hoje demonizada permanece como um símbolo constante em muitos mitos. É o símbolo de um guardião da cura que une os opostos e guia o Herói para uma verdade preciosa. A troca de pele de cobra é necessária através da jornada de muitas camadas do ser. Cada camada do ser carrega seu próprio significado. 
 
Neste ponto, comecei a sentir um chamado para visitar a ilha de Citera, o local de nascimento dos pais do meu pai. Então partimos para Gythio, onde poderíamos pegar uma balsa para Citera, também o local de nascimento de Afrodite. Nosso quarto em Gythio tinha vista para uma ilhota que os moradores acreditavam ser o lugar onde Helena e Páris fizeram sexo, mais exatamente sob o encantamento de Afrodite, já que ela havia seduzido Páris a escolher a beleza juvenil em vez da idade e da sabedoria. Essa escolha impulsionou tanto gregos quanto troianos a uma longa e custosa guerra. 
Passamos uma semana em Citera e eu refiz os passos do único irmão do meu pai, George, que esteve aqui no início dos anos 70. Visitei a vila do meu avô, Viarádika, e a vila da minha avó, Katsouliánika. Ambos os lugares eram pequenas aldeias com evidências de abandono por toda parte. Viarádika tem apenas um punhado de habitantes hoje, quinze, eu acredito, e incha como grande parte de Citera no verão com os citerianos australianos que retornam de sua diáspora. Foi profundamente comovente para mim estar entre as ruínas do antigo torrão natal do meu avô. O lugar onde ele cresceu e saiu quando tinha 16 anos é um prédio desabado, de pedra e lama, que abrigava muitas pessoas e seus animais. Ele fede a pobreza. Comecei a entender por que ele havia partido para uma vida melhor na Austrália. O que ele havia deixado estava cheio de lixo e desolado ao seu redor. A localidade de Nanna, embora completamente reconstruída, parecia ter sido uma aldeia mais próspera, ainda, pelos nossos padrões, pobre, paroquial e presa em seus resultados e expectativas daquilo que a vida deve ser se alguém tivesse permanecido. Uma das experiências mais emocionantes para mim nesta viagem foi ficar onde meus avós nasceram, foram criados e partiram. Isso me deu arrepios na espinha. Chorei pelo que havia sido perdido aqui: terra, propriedade, herança, deslocamento, desapropriação onde velhos laços foram rompidos, pois nenhum deles retornou. Houve um momento de clareza na casa da minha avó. Vi meus avós envoltos em luz branca e percebi que eles haviam retornado comigo em um ato final de reconciliação. Eu os vi sorrir, era como se tivessem esperado que seu neto primogênito fizesse esta jornada em um elo de responsabilidade que une os vivos e os mortos.
 
Só sei dizer que lá temos estado mas não sei dizer 
[onde. 
Não sei dizer quanto tempo, pois isto é colocá-lo no 
[tempo.(...) 
Por uma graça de sentido, uma luz branca estática e 
[móvel, 
Elevação sem movimento, concentração 
Sem eliminação, tanto o mundo novo 
Quanto o velho tornaram explícito, entenderam 
Na conclusão do seu parcial êxtase, 
Na resolução de seu horror parcial.
 
T.S. Eliot: Four Quartets: The Dry Salvages nº 1
 
Mal tínhamos deixado Potamós, encontramos a Praça das Dores, marcada por uma única alfarrobeira. Aqui, mais de 50.000 citerianos se despediram de tudo o que conheciam em sua busca por vidas melhores. O mito da migração. Os psicólogos sabem do trauma que tal partida acarreta e aqui nessa praça imaginei meus dois avós se despedindo do mundo que conheciam. Eles nem sabiam um do outro aqui, pois iriam se encontrar na Austrália, embora suas aldeias não fossem geograficamente distantes. 
Anna Cominos, uma escritora citeriana, diz isso bem, pois foi o que experimentei aqui. “Visite a Praça das Dores em um dia ventoso. Feche os olhos e você ouvirá as oliveiras imitando o lamento das mães enquanto se agarram aos seus filhos, filhas, maridos, irmãos, pais e amigos pela última vez.” 
Grandes jornadas trazem grandes dores. 
 
Entre dois mundos ficam muito iguais um ao outro, 
Então eu encontro palavras que nunca pensei em 
[falar 
Em ruas que nunca pensei que eu revisitaria 
Quando deixei meu corpo numa praia distante. 
Visto que nossa preocupação era fala, e fala nos 
[impelia 
A purificar o dialeto da tribo 
E instar a mente a pós-visão e previsão (...) 
 
T.S. Eliot. Little Gidding. nº 4. Four quartets.
 
Avançar na viagem é o que devemos fazer. Parte de mim, citeriano, parte de mim, antigo, parte de mim, moderno, parte de mim, perdido, parte de mim, encontrado, e o todo, uma parte daquilo que é maior do que eu. O ponto da jornada é ter a experiência e encontrar seu significado. 
Visitamos Palióchora, um assentamento bizantino em ruínas que já foi a capital conhecida como Ágios Dimítrios. Foi construído na parte nordeste de Citera, na intersecção de duas ravinas a cerca de um quilômetro do mar. Era para ser um lugar sagrado de segurança e refúgio contra piratas. Enquanto eu caminhava cuidadosamente por seus estreitos e perigosos caminhos de terra, tive uma breve visão de pessoas pulando para a morte. Mais tarde, descobri que o pirata turco, Barbarossa, no final dos anos 1500, atacou implacavelmente este local e alguns citerianos pularam para a morte em vez de enfrentar seu ataque. Os sobreviventes foram vendidos como escravos. Cabras selvagens são os únicos habitantes aqui hoje. Fui compelido a gritar em alta voz: O Grande Deus Pan está morto. O Grande Deus Pan não está morto. As ravinas ecoaram e ricochetearam minha invocação para para trás e para a frente. Os mortos sorriram. Foi dito que, quando o Cristianismo surgiu como a religião dominante na Grécia, os marinheiros no mar ouviram este grito e lamentação  Pan está morto. Nas encruzilhadas em que as religiões antigas e novas se chocam, podemos pensar que o que era antes foi deixado para trás, mas Pan se foi e podemos nos dar ao luxo de matar um deus da Natureza. Nossas crescentes ansiedades, medo e pânico são evidências suficientes de que Pan está vivo. Ele se expressará mais fortemente em união com Zeus, à medida que nosso clima continuar a se tornar tumultuado e destrutivo. 
O que ficou bem claro na minha consciência nessa viagem foi a ascensão e queda das civilizações. Aqui um povo já esteve e conquistou, destruiu, suplantou e reconstruiu apenas para ser repetido através da lição da História por conquista, destruição, suplantação e reconstrução até que tudo o que resta são ruínas de uma terra devastada. Esta também é a história do Mito, especialmente quando falhamos em nos relacionar conscientemente com ele. 
Era hora de deixar Citera e atender ao aceno de Esparta. Nós voltamos de balsa para o continente e partimos para continuar nossa jornada no Peloponeso. Esparta me impressionou desde a infância. Meu avô uma vez me disse que eu tinha sangue espartano em minhas veias e isso pode muito bem ser verdade, já que Citera caiu sob influência espartana na antiguidade. Visitar Esparta era um imperativo, um dever, uma ordem. Antes mesmo que essa viagem se tornasse realidade. Eu tive vários sonhos lúcidos com Leônidas, espartanos e a Esfinge. Eu até tinha visto a Esfinge se mexer, ficar de pé e vestir os vestígios escarlates de um guerreiro espartano. Não resta muita arqueologia na Esparta moderna, mas não é preciso muito para seguir os fios enquanto eles tecem sua história. Não há melhor história do que o poema The Second Comingde W.B. Yeats.
 
A SEGUNDA VINDA 
 
Girando e girando na rotação ampliada 
O falcão não pode escutar o falcoeiro; 
Tudo se parte; o centro não segura. 
Mera anarquia se solta sobre o mundo, 
O sangue - maré turva se solta, e em toda parte 
O rito de inocência é submerso. 
Falta aos melhores toda convicção, enquanto 
Os piores se enchem de passional intensidade.
 
Decerto, está perto a revelação; 
Decerto, está perto a Segunda Vinda. 
Segunda Vinda! Mal são ditas aquelas palavras 
Quando uma vasta imagem do Spiritus Mundi 
Distorce-me a vista:algures, em areias do deserto 
Uma forma com corpo de leão e cabeça humana, 
Um olhar vazio e impiedoso como o sol, 
Move as lentas coxas, e ao redor 
Bobinam sombras dos pássaros coléricos de deserto. 
Cai de novo a escuridão; mas eu sei agora 
Que vinte séculos de sono pétreo 
Foram atormentados com pesadelo por um embalo 
[de berço
E que besta rude, chegada enfim sua hora, 
Arrasta-se a Belém para nascer?
 
Minha esposa e eu estávamos pisando no chão de conquistas antigas seguindo os passos de gregos, persas, Alexandre, imperiais romanos, Paulo, duas guerras mundiais, guerras civis antigas e modernas. Sangue encharcado em questões cármicas. O convite para Termópilas era forte. Ele tem-me assombrado por talvez mais do que algumas vidas. 
 
Termópilas à frente e outros lugares para visitar. Minha jornada faz sentido apenas em termos de reprises, retornos, repetições e atos simbólicos em perpetuidade. Todas as coisas do mito, só agora eu sei que o centro pode segurar, talvez seja a única realidade duradoura.
Viajamos para o território Mani. Eles acreditam ser descendentes dos antigos espartanos e por séculos praticaram rixas de sangue onde os vizinhos atiravam uns nos outros e até explodiam com tiros de canhão as casas de pedra com ameias de castelo. Rivais por terras e poder. Eles estavam entre os últimos gregos a adotar a ortodoxia. Ficamos algumas noites em Areópolis, apropriadamente chamada em homenagem a Áries, o deus da guerra. Ao lado do forte com ameias de torre em que ficamos, há uma igreja em homenagem ao Arcanjo Miguel. Fiquei fascinado por seus antigos glifos astrológicos. O glifo que mais chamou minha atenção foi Capricórnio, que mostrava uma figura com cabeça de cabra e cauda de peixe. Peixes, sereias, tritões, nereidas e deuses pescadores ficaram todos impressos em minha consciência por meio de sonhos e visões despertas no início desta viagem. 
Todos os símbolos do profundo inconsciente coletivo. Símbolos do discípulo e adepto que é capaz de viver tanto no mundo físico quanto atravessa os amplos espectros dos mundos astral, mental, causal e monádico. Esses são mundos que se mostraram a mim ao longo dos últimos vinte anos da minha jornada para dentro dos princípios da Teosofia. 
 
Olímpia, Patra, Cefalônia, outrora governadas pelo Rei Odisseu, de volta por Atenas, pegamos a estrada para Tebas e nas encruzilhadas edipianas me lembrei da chave para esse mito trágico tão eloquentemente reintroduzido ao mundo por Sigmund Freud. Édipo, a criança ferida e abandonada, deveria, sem absolutamente o saber, matar seu pai e se casar com sua mãe. Ele deveria se cegar na percepção do que havia feito e essa tragédia de um relacionamento inconsciente com seus pais afetaria seu reino. A psicologia moderna tem mantido um ensinamento bastante consistente em muitos modelos de que nossa falha em lidar com as questões da maternidade e da paternidade em nossa infância leva a muitos problemas de saúde mental. Ainda continua sendo um aspecto muito impopular na psicologia hoje. Portanto, é bastante comum, sob o ideal do que é normal, que os pecados do pai e da mãe sejam transmitidos de geração em geração. O mito também nos lembra disso e nos diz quais serão as consequências. 
 
Delfos, à primeira vista, é um lugar notável, situado no alto de um terreno íngreme. Era um antigo centro de oráculos, hoje visitado por pessoas do mundo todo. O lugar ainda exala um ambiente espiritual e pode-se imaginar o quão impressionante deve ter sido. As cidades-estado gregas mantinham ricos tesouros aqui; construíam monumentos e templos enquanto esbanjavam atenção para seus deuses. Ninguém sabe realmente onde o Oráculo estava situado. Ele foi encontrado na rocha Sybil? Ela foi localizada em algumas das fendas rochosas e cavernas ao redor do recinto? Ela foi encontrada dentro do templo principal? Eu tinha a sensação de que, como todos os oráculos, havia uma sutileza oculta. O melhor oráculo ainda permanece oculto em significados deles. Eu queria consultar a energia do oráculo deste sítio e pedi um presságio. 
Presságios são coisas interessantes. Até mesmo o sítio de Delfos foi fundado em um presságio. Zeus havia liberado duas águias, uma de sua mão direita e a outra de sua esquerda. Ambas as águias voaram ao redor do mundo e se encontraram em Delfos. O encontro dessas águias ainda é marcado por um ómphalos, pedra do umbigo, considerada o centro do mundo pelos antigos. Pode-se ver o ómphalos original no museu de Delfos localizado no sítio. 
Meu presságio naquela noite veio de uma lua crescente délfica pairando baixa no céu. Vi 18 gotas de lágrimas douradas caírem. Isso me lembrou a carta de baralho do Tarô Rider-Waite, A Lua. É um bom sinal alquímico do orvalho do Filósofo. Esse orvalho é semelhante às águas mercuriais necessárias no experimento para estabilizar o ouro no seu interior. Um símbolo de água espiritual comparado a um ato de graça onde no final o discípulo é conduzido por aqueles que sabem. Na melhor das hipóteses, ainda somos ignorantes dos Mistérios. 
À primeira vista, Termópilas parece ser de pouco interesse, há uma importante rodovia atravessando o antigo campo da batalha. Num lado, há uma grande parede branca com uma grande figura de Leônidas e, no outro lado, há uma pequena colina conhecida como Kolonos. Se alguém não explorasse o solo, a gente poderia facilmente perder os portões quentes jorrando como fontes termais. Essas fontes termais dão nome ao lugar. Antes de deixar Atenas, a tia da minha esposa fez uma leitura de café da manhã para mim e indicou um padrão de quatro arvorezinhas que eu deveria procurar em minha jornada. Ela havia dito que essas quatro árvores me ajudariam a lembrar. 
Caminhar por este solo e subir até o topo de Kolonos liberaram uma enchente de imagens, visões, memórias e emoções profundas do que havia acontecido aqui há muito tempo. Eu conhecia este lugar. Foi em Kolonos que o último dos 300 espartanos combateu uma superioridade numérica persa com sua última trincheira. Lutando até que o último homem morresse, o sobrevivente remanescente protegeu o corpo de seu guerreiro morto, rei Leônidas, enquanto uma saraivada de flechas, lanças e estilingues tapava o sol. Foi um momento poderoso de orgulhosa tristeza. O filósofo do século I d.C., Apolônio de Tiana, com o nome inicial de Balinas, visitou Kolonos e lhe perguntaram Qual é a montanha mais alta do mundo? Sua resposta foi: Kolonos é a montanha mais alta do mundo porque nesta montanha a manutenção da lei e o nobre auto-sacrifício ergueram um monumento que tem sua base na terra e alcança as estrelas.Tirei minhas roupas e tomei banho em uma fonte termal próxima. Lembro-me de ter feito isso uma vez antes aqui. No topo de Kolonos há uma placa laranja terrosa que diz: “Vá dizer aos espartanos, estrangeiro que passa, que aqui, obedientes às suas leis, jazemos.” 
“Vá dizer aos espartanos, estrangeiro que passa, que aqui, obedientes às suas leis, jazemos.” Alguns consideram este o epitáfio mais nobre já escrito. Homens de poucas palavras, esses espartanos. Até mesmo a resposta de Leônidas ao rei persa Xerxes, quando ele lhes ofereceu passagem segura se eles apenas depusessem suas armas, foi um conciso “Venha pegá-las.” (ΜΟΛΩΝ ΛΑΒΕ, em grego) Ao deixar Kolonos, fiz questão de dar uma última olhada para trás e lá no topo desta pequena colina vi as quatro árvores na configuração exata da xícara de café. Eu quase tinha esquecido, mas então li isso em voz alta bem aqui, onde eu havia celebrado uma morte que não era uma morte:
 
É muda a palavra que eles foram ouvir na alta 
[montanha Dodona 
Quando ventos sopravam nos carvalhos e tangiam 
[todos os caldeirões, 
E muda é a pedra central do umbigo ao lado da 
[fonte cantante, 
E ecos escolhem o silêncio agora onde deuses  
[contaram mentiras antigas. 
 
Levei minha pergunta ao santuário que não cessou 
[de falar, 
O coração interior, que diz a verdade e a diz duas  
[vezes mais claramente; 
E da caverna dos oráculos ouvi a sacerdotisa gritando 
Que ela e eu certamente morreríamos e nunca mais 
[viveríamos. 
 
Ó sacerdotisa, o que você grita é claro, e parece 
[bom senso, eu acho; 
Mas deixe os ecos gritantes descansarem, e não mais 
[espume sua boca. 
É verdade que há bebida melhor do que salmoura, 
[mas aquele que se afoga deve bebê-la; 
E oh, minha moça, as notícias são notícias que os  
[homens já ouviram antes. 
 
O rei com metade do Leste no calcanhar é levado de 
 [terras de manhã; 
Seus lutadores bebem os rios, sua lança obscurece o 
[ar, 
E aquele que se mantém firme morrerá por nada, e  
[para casa não há retorno. 
Os espartanos na rocha molhada do mar sentaram-se 
[e pentearam seus cabelos.
 
A.E. Housman: XXV - Os Oráculos.
 
Tendo aliviado meu sofrimento nas Termópilas, partimos para Metéora. Aqui, um punhado de mosteiros está empoleirado em altos pináculos nus de rochas salientes. Hoje, eles são centros ativos de reflexão, estudo e meditação, tais coisas ainda valorizadas na Ortodoxia Grega.
 
Deixando Metéora, partimos para a alta montanha Dodona. Aqui pode-se encontrar o sítio do oráculo de Dodoni. Um sítio que antecede Delfi. Um sítio outrora consagrado para o feminino. Aqui Deucalión, o Noé grego, veio descansar em sua arca. Aqui Zeus falou através das folhas de um carvalho sagrado. O sítio é espaçoso e verde e um carvalho floresce nas ruínas da casa ritual. Não é o carvalho original, pois foi destruído pelos primeiros cristãos. 
Dirigimo-nos à Macedônia. Eu queria ver onde Alexandre, o Grande, nasceu em Pella e queria visitar os túmulos reais macedônios em Vergina. Pella é atravessada por uma estrada asfaltada, de um lado um museu, do outro escavações em andamento. É preciso realmente usar a imaginação para capturar o que deve ter sido a grandeza deste lugar. Vergina é muito mais impressionante: você entra no subsolo e diante de você, os restos dos túmulos reais são encontrados entre uma impressionante exibição arqueológica de tesouros e riquezas macedônicas. Cada museu que visitamos tinha diferentes aspectos da cultura, vida e arte dos antigos e Vergina, na minha mente, é um destaque. Pode-se ver diademas dourados, uma armadura quase completa usada por Filipe, o pai de Alexandre, e muito mais. Curiosamente, não há muito de Alexandre aqui, mas ele não ficou no mesmo lugar. Em algum lugar neste território, ele teve sua visão, seu chamado, sua missão de helenizar tanto quanto pudesse do mundo. Visitamos Dion e foi aqui que Alexandre sacrificou aos deuses e partiu para conquistar em nome do deus que ele pensava que era. O que podemos fazer com Alexandre? A história registra suas façanhas e sua morte aos 33 anos. Todos nós sabemos que ele acreditava em si mesmo como divino. Ele até se considerava Dionísio renascido e Dionísio era sem dúvida um deus do renascimento. Implícita na História está uma reverência pela grandeza de Alexandre. Talvez ele fosse um rito de passagem dionisíaco se realizando. Poder, excesso, êxtase, embriaguez, rituais de fogo e destruição, luxúrias desenfreadas, irrestritas, derrubando e reconstruindo tudo o que caiu diante dele, mas amado e reverenciado por aqueles que lutaram com e contra ele. Os deuses são grandes e Alexandre também era. 
A Nova Era, movimento moderno nascido da Teosofia, está lutando com essa mesma revelação. Nós também somos a substância da Divindade por trás da multiplicidade de forma. Essa fonte é uma consciência de energia. Um determinante propulsor da mudança e evolução, quem quer que sejamos, somos responsáveis ​​por compor a peça que é nossas vidas individuais e coletivas. É um mito tão antigo quanto o primeiro mito já contado e talvez esse primeiro mito sempre tenha dito eu sou.... Cabe a nós terminar esta sentença incompleta. Uma maneira de fazer isso é na restauração da mente antiga dentro de nós. 
Estou perdido na Hélade, fui encontrado na Hélade e estou continuando a longa sentença da minha vida. Meu mito é o seu mito, que é o nosso mito. Um mito fixado em um retorno eterno. O que o mito quer de nós? Uma restauração da profunda espiritualidade perceptível que pode ser encontrada no tempo presente, no tempo passado, no tempo futuro que é apenas o tempo agora. 
Leônidas sorri e diz isso: “Espere o inesperado; sempre foi esperado. Assuntos da Escuridão são o único caminho para a Luz.” 
Portanto os oráculos, seus deuses e deusas, os mitos e rituais ainda têm o poder de nos abalar até o âmago. O centro pode segurar. O que está oculto está sendo revelado pelo Uno Poderoso. Quão terrível é uma revelação de outra vinda e certamente será mitológica.