segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

MARTA EGGERTH, a "Callas da opereta"


Por Francisco José dos Santos Braga




I.  INTRODUÇÃO


Em 26 de dezembro de 2013, ficamos consternados com a morte da cantora/atriz Marta Eggerth em sua casa, na cidade de Rye, New York, U.S.A., aos 101 anos de idade. Sua prodigiosa técnica vocal permitiu-lhe continuar na ativa até recentemente. 

Em 1999, com a idade de 87 anos, cantou no palco do Ópera Estatal de Viena num concerto especial televisionado patrocinado pelo empresário e historiador Marcel Prawy, para marcar a primeira produção de A Viúva Alegre de Lehár naquela casa de ópera. Cantou um "pot-pourri" da opereta em quatro línguas, tendo sido muito aplaudida. Repetiu esse "pot-pourri" em 2000, numa noite de gala para marcar o 200º aniversário do Theater an der Wien de Viena.

Em 2001, Eggerth retornou a Londres para An Interview-in-Concert no Wigmore Hall completamente esgotado, acompanhada pelo regente-pianista Alexander Frey, evento patrocinado pelo autor e crítico inglês, Brendon Carroll. Ela também cantou nos concertos anuais da Fundação Licia Albanese-Puccini no Alice Tully Hall do Lincoln Center com estardalhaço. Pôde ainda ser vista na Áustria numa série policial televisiva, Tatort, representando o papel de uma diva idosa suspeita de um assassinato. 

Destaques de 2006/2007 incluíram dois concertos com entrevistas no Metropolitan Museum of Art; espetáculos esgotados no Café Sabarsky em Neue Galerie, entretendo audiências com seu estilo de graça, habilidade artística e canção de cabaré vienense/alemão de pré-guerra; um concerto e discussão mantida como parte dos Osher Lifelong Learning Institutes da Universidade de New York; uma aparição no Fórum Cultural Austríaco como parte de sua série Mostly Operetta; "master classes" de opereta na Manhattan School of Music; bem como uma aparição na Associação Judaica para Serviços para os Idosos (JASA). Sua última apresentação se deu aos 99 anos, em 2011.


II.  NOTAS BIOGRÁFICAS


Marta ou Mártha Eggerth nasceu em Budapeste (antigo Império Austro-Húngaro), atualmente Hungria, em 17 de abril de 1912, filha da judia Tilly (nascida Herzog, ou Herezegh), soprano dramática coloratura, e de Paul Eggerth, diretor do Reichsbank. Ainda criança em Budapeste, ficou sob os cuidados de Erzsi Gervay, que lhe instilou um sólido domínio de controle da respiração. Foi proclamada criança-prodígio, com seu "début" profissional aos 11 anos em "There is Only One Girl in the World" (Há apenas uma garota no mundo), de Paul Abraham, e, logo após, num papel secundário na opereta Mannequin, em que estrelava a atriz húngara Franciska Gaal. Foi nesta época e nos anos seguintes que passou a cantar o repertório de coloratura mais exigente da autoria de Rossini, Meyerbeer, Offenbach e Johann Strauss (filho). Aos 17 anos, foi convidada por Emmerich Kálmán a embarcar numa "tournée" pela Dinamarca, Holanda e Suécia, antes de chegar a Viena. Kálmán a convenceu a apresentar-se como opcional de Adele Kern, a famosa coloratura da Ópera Estatal de Viena, na sua opereta Das Veilchen von Montmartre (A Violeta de Montmartre), no Teatro Johann Strauss de Viena. O que acabou acontecendo foi Eggerth assumir o papel principal — para grande aprovação da crítica —, logo após Kern ter-se declarado impossibilitada de continuar. 

A opereta estava no auge na Europa e Eggerth tornava-se uma diva adolescente da opereta vienense, gênero subestimado no período conhecido como a "Idade da Prata da opereta¹. Embora Gustav Mahler tivesse descrito opereta, de forma desdenhosa como "simplesmente uma operazinha alegre", as audiências se amontoavam para verem obras em que sentiam algo entre a ópera e o musical moderno. Muitos voltaram-se para filmes pelos florescentes estúdios de Berlim da década de 1930. Em 1932, por exemplo, Eggerth apareceu em sete filmes, incluindo Es War Einmal ein Walzer (lançado na Inglaterra no mesmo ano como Once There Was a Waltz) com roteiro de Billy Wilder.

Em 1929, Eggerth apareceu como a personagem Adele em O Morcego, com a idade de 17 anos, na célebre produção de Max Rheinhardt de 1929 em Hamburgo. Clemens Krauss implorou-lhe abandonar a opereta e, em troca de estudar os papéis de Mozart no Ópera Estatal de Viena, prometia-lhe uma estreia dentro de cinco anos. "Eu adoro Mozart, mas não sou uma cantora de Mozart" teria respondido ao renomado regente. Recusando seu convite e ansiosa por sucesso mais imediato, dispôs-se a fazer sua estreia no cinema com Die Bräutigamswitwe, dirigida por Richard Eichberg em 1931, estrelando ela própria, Georg Alexander e Fritz Kampers — uma versão em língua alemã do filme Let's love and laugh, uma comédia com produção inglesa-alemã dirigida pelo mesmo Richard Eichberg, lançada simultaneamente na Inglaterra.

Eggerth rapidamente tornou-se uma estrela do cinema na Alemanha e Áustria; entre seus primeiros sucessos está Es War Eimal Ein Walzer (Era uma Vez uma Valsa), dirigido por Victor Janson, com uma partitura escrita especialmente para ela por Franz Lehár sobre um roteiro de Billy Wilder. A "première" foi em Berlim em 14 de abril de 1932. Na Inglaterra, saiu no mesmo ano a refilmagem com o nome Where Is This Lady? (Onde está esta moça?).

Como soprano coloratura foi adorada por Franz Lehár e, para prová-lo, Eggerth exibia uma grande fotografia do mestre sobre o seu piano de cauda numa moldura de prata: "À minha adorável compatriota, a encantadora artista Marta Eggerth. Em profunda admiração, Lehar. Viena, 7 de julho de 1933."

1933: ano fatídico para ela. Em janeiro, Hitler torna-se chanceler da Alemanha, sendo, ao mesmo tempo, líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido por Partido Nazista. No dia seguinte à sua investidura na chancelaria, Hitler dissolve o Parlamento e marca novas eleições para 5 de março. Com uma rapidez fulminante e por meios totalmente ilegais, consegue consolidar a ditadura apesar da fraca representação do seu partido no governo e no Parlamento. Contudo, em 1938, após o Anschluss (anexação político-militar da Áustria por parte da Alemanha) declarando que a Áustria era território alemão, com exceção de Lehár, todos os outros compositores de opereta radicados na Áustria (Emmerich Kálmán, Oscar Straus, Robert Stolz e Paul Abraham), sendo judeus, tinham fugido daquele país para os Estados Unidos. Eggerth e seu marido, Jan Kiepura, o célebre tenor polonês, que tinham ambos mães judias, também trocaram a Áustria pelos Estados Unidos, onde continuaram suas carreiras de cantores.

Não obstante, Hitler amava a opereta vienense, embora fosse dominada por compositores, letristas e diretores judeus, sendo seus preferidos Die Csárdásfürstin (A Princesa Cigana), de Kálmán, na versão cinematográfica estrelada por Eggerth, e A Viúva Alegre, de Lehár, cujo papel-título Eggerth cantava ².

Descoberta pela indústria cinematográfica, Eggerth decolou sua carreira como atriz e cantora lírica, ficando famosa internacionalmente. Os principais destaques foram Ein Lied, ein Kuss, ein Mädel (Berlim, 1932 com música de Robert Stolz); versão cinematográfica de Csárdásfürstin, de Emmerich Kálmán (1934); Mein Herz ruft immer nach dir (Meu Coração Sempre Te Chama), com música de Robert Stolz (1934), onde encontrou seu futuro marido, o tenor polonês muito popular chamado Jan Kiepura; outro filme escrito especialmente para ela por Franz Lehár, Die ganze Welt dreht sich um Liebe (Viena, 1935); Die blonde Carmen (Berlim, 1935); Leise flehen meine Lieder ³, em alemão, e The Unfinished Symphony (A Sinfonia Inacabada), em inglês (versões do imaginativo filme biográfico de Franz Schubert, em que Eggerth aparece como a Condessa Sterházy); Casta Diva, a história de Bellini (Roma, 1935), e na sua versão inglesa; Das Hofkonzert (1936); Zauber der Bohème (Encanto da Boêmia), com Jan Kiepura (Viena, 1937, música de Robert Stolz).

Marta Eggerth, conforme apareceu no filme "Casta Diva" (1935) - Fonte: Jane Knox-Kiepura/Marta Eggerth via Bloomberg             

Sobre o filme Mein Herz ruft immer nach dir (1934), onde encontrou seu futuro marido, o tenor polonês muito popular chamado Jan Kiepura, cabe destacar que se apaixonaram e oficialmente se casaram em outubro de 1936 em Katowice, na Polônia. Passaram sua primeira noite no Hotel Monopol. Praticamente, o casal não teve nenhuma noite para si, eis que uma multidão que se reuniu sob a sacada em frente gritava, instando que o noivo saísse e cantasse a madrugada toda.
Juntos, ficariam conhecidos como o "Liebespaar der Operette" (casal apaixonado da opereta), chamando a atenção por onde passavam.

No total, ela fez mais de 40 filmes em cinco idiomas: húngaro, inglês, alemão, francês e italiano, com o detalhe que rodava seus filmes em mais de uma língua, com os números musicais filmados ao vivo — nenhuma sincronização labial para uma reprodução, como em Hollywood. 


Jan Kiepura e Marta (Narodowe Archiwum Cyfrowe, sygn. 1-K-8244)


No início de 1938, Kiepura fazia uma bem sucedida estreia no Metropolitan Opera de Nova York, cantando no papel de Rodolfo em La Bohème, de Puccini. Ele foi em frente cantando nos principais papéis em Tosca, Rigoletto, Carmen, Manon e Aída, bem como apresentando-se em mais de 80 concertos ao ano em "tournée" pelos Estados Unidos e Canadá. Enquanto isso, Eggerth tentava adaptar-se às novas circunstâncias nos Estados Unidos, onde a opereta tinha metamorfoseado em musical da Broadway. Portanto, assinou um contrato com o Shubert Theatre, na Broadway, para figurar no musical Higher and Higher, de Richard Rodgers. Em seguida, assinou um contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer em Hollywood e, no começo da década de 1940, fez dois filmes com Judy Garland: em 1942, For Me and My Gal (Idílio em Dó-Ré-Mi), onde Gene Kelly teve seu primeiro papel de destaque, e em 1943, Presenting Lily Mars (Lily, a Teimosa), um veículo para Garland, que tira de Eggerth seus gestos operáticos com as mãos e tudo mais, numa cômica variante da ária "Caro Nome", do Rigoletto de Verdi. Foi o bastante para afastar Eggerth de Hollywood para sempre.

Em Chicago, Eggerth e Kiepura se apresentaram juntos no palco em La Bohème com elogios da crítica. Em 1943, trouxe "glamour" a New York em tempo de guerra a aparição do "casal apaixonado" na Broadway no Majestic Theater numa produção revisada de A Viúva Alegre, de Lehár, com Robert Stolz na regência e George Balanchine na coreografia e, por muitos anos depois da guerra, fizeram "tour" pela Europa em cinco línguas. Em 1945, voltaram juntos à Broadway no musical Polonaise. Depois da II Guerra Mundial, voltaram a um "tour" pela França e a fazer filmes, como em Valse Brillante (1948) e em The Land of Smiles (1952), antes de trazer A Viúva Alegre ao Palace Theatre de Londres (1954).


Marta Eggerth em A Viúva Alegre com Jan Kiepura (TIME&LIFE/GETTY)

Ao longo de sua carreira, Eggerth manteve "tours" ativos para recitais pela Europa, Canadá e Estados Unidos, combinando seu extenso repertório de Lieder, ópera, canções de filmes e, especialmente, opereta vienense. A programação igualmente ativa de recitais de Kiepura frequentemente levantava boatos de que o casal estaria temporariamente separado. Mas os "tours" internacionais do casal geralmente os trazia juntos à mesma cidade, onde se apresentavam a multidões embevecidas. Em Londres, deram dois concertos esgotados numa semana no Royal Albert Hall em 1956. O casal continuou cantando ao longo das décadas de 1950 e 1960 com mais produções de A Viúva Alegre nos Estados Unidos, concertos e outras produções na Europa. Em 1965, trouxeram A Viúva Alegre de volta a Berlim para mais um movimento bem sucedido. O casal Eggerth-Kiepura deve ter apresentado A Viúva Alegre mais de 2.000 vezes, em 5 línguas, pela Europa e América do Norte.

Kiepura morreu em 1966. Da união com Kiepura teve Eggerth dois filhos: Jan e Marjan. O último é concertista em New Hampshire, casado com Jane Knox-Kiepura, que colabora na administração de sua companhia Patria Music.

Eggerth parou de cantar nesta época por vários anos. Finalmente, persuadida por sua mãe, decidiu revitalizar sua carreira. Na década de 1970, começou a fazer aparições televisivas regulares e a retomar concertos na Europa. Em 1984, retornou ao palco norte-americano para estrelar junto com Diana Rigg no musical Colette, de Tom Jones e Harvey Schmidt em Seattle e Denver, e, mais tarde, em Follies, de Stephen Sondheim, em Pittsburgh.

Opera News, uma publicação da Associação do Metropolitan Opera, após noticiar a morte de Marta Eggerth, assim se expressou: "Em outubro de 1994, no concerto anual de gala da Fundação Licia Albanese-Puccini, as audiências musicais novaiorquinas fizeram uma importante redescoberta quando Marta Eggerth adentrou o palco no Alice Tully Hall do Lincoln Center e cantou 'Wien, Wien nur du allein". Na ocasião, ela tinha 82 anos, mas cantava as canções com perfeita afinação, linha soberba e absoluto controle dos shadings dinâmicos, e recebeu um aplauso estrondoso. Ela tinha estado longe das audiências novaiorquinas por um longo tempo, mas dessa época em diante, foi uma presença permanente, apresentando-se anualmente na Fundação e dando concertos esgotados no Café Sabarsky da Neue Galerie até que atingiu noventa e tantos anos."

Muitos dos mais famosos compositores de opereta do século XX compuseram obras especialmente para ela, aí incluídos Franz Lehár, Emmerich Kálmán, Fritz Kreisler, Robert Stolz, Oscar Nathan Straus e Paul Abraham.  


III.  ENTREVISTA POR MANUELA HOELTERHOFF ⁶

Não fumante

Eu visitei Eggerth depois de escutar com surpresa seu release de álbum duplo. É uma maravilhosa compilação de árias e canções de operetas, as mais antigas datando de 1932, as mais recentes gravadas em 2002.
Hoelterhoff: Como você conservou sua voz?
Eggerth: Não fumando, não tomando bebidas alcoólicas. Eu sempre vivi para minhas apresentações.
H.: Parece que você se mantém ocupada.
E.: Sim. Hoje, por exemplo, eu recebi três ligações telefônicas — uma de Viena, outra da Alemanha, onde parece que eles querem um show de TV comigo, e uma da Suíça para uma "master class". Isso acontece o tempo todo.
Eu gosto disso. Eu amo dar "master classes". Eu não sou dessas velhas que pensa que tudo o que foi, foi bonito demais. Não. O que é maravilhoso hoje é o progresso. O que é maravilhoso é hoje — que um médico possa lidar com cinco partes do meu coração e me costurou de novo.

Melhor do que nunca

H.: O quê?
E.: Aquele médico pôs meu coração sobre uma mesa e fez algo em volta do buraco e eu estou aqui (depois de um quinto desvio). Isso não foi melhor?
H.: Diria que sim. Mas uma coisa que não está melhor é que não há mais aquele amor difundido da música que você cantava e nós ambas amamos.
E.: Nunca se pode ter tudo. A gente precisa vacinar-se. A gente pode ter muito, mas nunca tudo. Esta é minha experiência de vida longa. E há outra coisa: para tudo há uma conta (a pagar).
H.: Você teve uma grande conta?
E.: Deus foi bom para mim, exceto, claro, a perda do meu bonito, eternamente amado marido. Ele foi a única coisa em minha vida. Nisso eu sou bem "demodée".

Nos bastidores 

H.: Como sua carreira começou?
E.: Emmerich Kálmán me queria na sua opereta, "A Violeta de Montmartre" como opcional de Adele Kern, uma diva da Ópera Estatal de Viena.
H.: Ela ficou doente ou você estava nos bastidores (para lhe tomar o lugar)?
E.: Não, ela não ficou doente, mas houve algum desentendimento com a administração. Então eles disseram: "O.K. Marta, você canta hoje à noite!" Assim eu intervim com pouco ensaio. Foi muito bonito. Eu tive um imenso sucesso. Continuei sendo a partir daí um estrela daquela opereta. O que é isso em que você está digitando?
H.: Um laptop.
E.: Ah, a tecnologia do dia. Eu sou uma idiota total. Eu gosto de caneta e papel.
H.: Não Não acredito. Você nunca foi à Internet e buscou a si mesma no Google? Isso poderia diverti-la.
E.: Por que deveria eu procurar-me? Eu me conheço!

Duas Almas

H.: Uma ária favorita em seu álbum é "Wien, Nur Du Allein". Quais são suas memórias de Viena?
E.: Eu trabalhei duro ali, embora nunca tenha realmente vivido lá. Eu cantei no Theater an der Wien e no Teatro Johann Strauss. Viena como cidade foi algo muito excepcional.
H.: Você pode explicar a era nazista?
E.: Eu não posso. Quem pode? Eu posso citar Goethe: "Duas almas, ah, moram dentro do meu peito." Pessoas simpáticas podem ser assassinas.

Otto Klemperer

H.: Então você viveu fora de Viena?
E.: Eu me lembro de que aluguei um apartamento no hotel de um parque. Certo regente ao lado bateu em minha porta: "Senhorita Eggerth, eu ouço você tocar piano no seu quarto. Posso usá-lo enquanto você estiver no estúdio?" Eu disse que sim.
Quando voltei, o quarto estava todo escuro com fumaça de charuto e havia meias em minha cama. Ele era um pouco louco. Era o regente Klemperer.

Jan Kiepura

H.: Foi uma amor à primeira vista com seu marido?
E.: Eu não gostei dele. Havia 20 ou mais mulheres em volta dele todo o tempo.
H.: O seu álbum de CD está acompanhado por encantadoras fotografias de você trajando costumes deslumbrantes. Eu especialmente gosto desta imagem de você usando um vestido tomara-que-caia, sentada pensativa ao piano. Em qual filme?
E.: Seu nome é "Casta Diva" e foi baseado na vida de Bellini. Eu representei uma cantora que estava apaixonada por ele. Morri no fim (do filme), se me lembro bem.


IV.   SUGESTÕES DE VÍDEOS DE MARTA EGGERTH NO YOUTUBE


2) Serenata de Schubert: http://youtu.be/QuaGuwrwGtY
3) Cantando em alemão e húngaro: http://youtu.be/dWY7XFv4ktw
4) Cantando um dueto com Paul Hörbiger no filme A Princesa Cigana (1934): http://youtu.be/e24fvQDh4ZQ (Detalhe importante: sem playback!)
5) In Memoriam 1912-2013: Melodia "Musikanten sind da!", de Franz Grothe, cantada em francês como "Mon coeur à toi se donne": http://youtu.be/phHFIRlpsN4
6) Vozes da Primavera, de Johann Strauss: http://youtu.be/2lcRDwKAoHI
7) Cantando com Jan Kiepura, do filme "Encanto da Boêmia": dueto "Ich liebe dich", de Robert Stolz com texto de Ernst Marischka: http://youtu.be/IrAQIYRBeFo
8) Cantando com Jan Kiepura o dueto "Lippen schweigen", valsa de A Viúva Alegre, de Franz Lehár (em polonês: Usta milczą):  http://youtu.be/DgqGQqJXLV0


V.  NOTAS DO AUTOR


¹   [BROUGHTON, 1992) resumiu assim o que deve ser entendido pelas Idades do Ouro e da Prata da opereta vienense: "(...) A história da opereta vienense é geralmente dividida em Idades do Ouro e da Prata. A Idade do Ouro teve como estrelas Strauss e Millocker e refletia a sociedade Habsburgo no seu auge. O  Barão Cigano, por exemplo, com sua montagem húngara, exalta a Monarquia Dual Austro-Húngara estabelecida em 1867 e foram ambas politicamente admiradas e comercialmente bem sucedidas em Viena e Budapeste.
As obras da Idade da Prata, inaugurada por A Viúva Alegre em 1905, eram mais nostálgicas e românticas. A opereta vienense era sempre escapista, mas os sonhos de um período podem ser vistos como uma espécie de espelho distorcedor de suas preocupações. Depois da Primeira Grande Guerra, principal entre elas estava um anseio nostálgico pelo Império que tinha sido varrido. A Idade do Ouro da opereta foi um escape do presente, enquanto a Idade da Prata foi um refúgio no passado.(...)
Com o surgimento de Hitler, todos os escrivães de opereta caíram na real. Muitos dos compositores eram Judeus (Kálmán, Straus, Leon Jessel, Edmund Eysler, Paul Abraham) e a maioria dos escritores de livros. Isso explica a fascinação da opereta por Ciganos e sua música? Os Ciganos e Judeus eram os músicos profissionais naqueles territórios puritanos em que muitas das obras eram montadas, tocando por encomenda para fazer o povo esquecer de suas preocupações. Será que os compositores e libretistas viam nos românticos personagens ciganos uma analogia para seu próprio trabalho criando um país dos sonhos musical?
A perseguição nazista uniu o destino de Ciganos e Judeus ainda mais. Os sortudos fugiram para os Estados Unidos (Robert Stolz desempenhou um importante papel em contrabandear Judeus para a segurança) e foram influentes no teatro musical norte-americano de pós-guerra. Outros, como Leon Jessel, compositor de A Moça da Floresta Negra, e Fritz Lohner-Beda, um dos libretistas de A Terra dos Sorrisos, morreram nas mãos da Gestapo ou em campos de concentração. (...)"

²  A Viúva Alegre (ing. The Merry Widow, germ. Die lustige Witwe, franc. La Veuve Joyeuse, ital. La Vedova Allegra), opereta do húngaro Franz Lehár (1870-1948), nascido Ferenc Lehár, foi estreada em 30 de dezembro de 1905 no Theater an der Wien (teatro em Viena localizado às margens do Rio Wien). Os libretistas Viktor Léon e Leo Stein basearam-se numa história sobre uma viúva rica, Hanna Glawari, e sua tentativa de encontrar um marido já abordada na comédia de 1861, L' Attaché d'ambassade (O Adido da embaixada), por Henri Meilhac (1830-1897), que foi autor francês dramático, famoso libretista de operetas e de óperas.

³  O título desse filme — Leise flehen meine Lieder — corresponde ao primeiro verso do poema de (Heinrich Friedrich) Ludwig Rellstab (1797-1860), intitulado Ständchen, cuja letra Schubert (1797-1828) utilizou para compor seu Lied de mesmo título, Ständchen D. 957 nr. 4, sua canção mais conhecida. Tal canção popularizou-se entre nós como Serenata de Schubert, uma das peças mais conhecidas em todo o mundo.
Foi composta no último ano de vida do compositor (1828) e integra o Ciclo Schwanengesang (O Canto do Cisne), que foi publicada no ano seguinte, alguns meses após a morte do compositor. Para integrar todo o Ciclo Schwanengesang, Schubert musicou 7 poemas de Ludwig Rellstab (inclusive Ständchen, que é o quarto na sequência), 6 poemas de Heinrich Heine e um poema da autoria de Johann Gabriel Seidl.

 Shading é um efeito interpretativo em música obtido especialmente por sutis alterações na dinâmica.


  Manuela Hoelterhoff é editora-chefe de Bloomberg News.  

 Patria Productions (http://www.patriamusic.com/marta.php) informa que "este álbum contém o mais famoso repertório de Eggerth, incluindo seleções por Franz Lehár, Emmerich Kálmán, Robert Stolz, Paul Abraham e outros luminares da opereta, que especialmente escreveram trabalhos para ela. (...) Dividido em dois CDs, o primeiro inclui suas iniciais gravações de Puccini, Bellini e Rossini e suas muitas canções que ficaram famosas com seus filmes. O segundo são gravações (cobrindo de 1955 a 2002) de seus números favoritos incluindo seu próprio arranjo de "pot-pourris"de A Viúva Alegre, Princesa Cigana de Kálmán, canções de Robert Stolz e John Kander, bem como seleções de Lieder de Ravel e Chopin. (...)"

  Metade de uma citação do Fausto, de Goethe (linhas 1112-3): 
Zwei Seelen wohnen, ach! in meiner Brust,
Die eine will sich von der andern trennen; (...)
que, em tradução literal, ficaria:
Duas almas moram em meu peito,
Uma quer da outra separar-se; (...)

  O texto do dueto "Lippen Schweigen", cantado por Kiepura-Eggerth em polonês, é conforme segue:

Kiepura:
Usta milczą, serce śpiewa
Kochaj mnie...
Usta milczą, dusza śpiewa
Kocham cię...
Każdy uścisk ręki
Słodko błaga cię
Mówi mi że kocham cię
Że kochasz mnie

Eggerth:
Tak jest to duszy głos
Tak jest to serca
Więc przemów pieśnia tą
nie wzdychaj już
ja błagam cię...
Chociaż usta milczą
Ty głosem serca powiedz tak
Opiewaj miłośc mą
Ja jestem twą...

Razem:
Usta milczą, serce śpiewa
Kochaj mnie...
Usta milczą dusza śpiewa
Kocham cię
Każdy uścisk ręki
Słodko mówi mi
mówi mi że kocham cię
że kochasz mnie

Ja kocham cię
Sein mein, ja mein


A letra original, em alemão, de "Lippen schweigen" é conforme segue:

Lippen schweigen, 's flüstern Geigen: "Hab' mich lieb!"
All' die Schritte sagen: "Bitte, hab' mich lieb!"
Jeder Druck der Hände deutlich mir's beschrieb,
Er sagt: "Klar, 's ist wahr, 's ist wahr, du hast mich lieb!"

Bei jedem Walzerschritt tanzt auch die Seele mit.
Da hüpft das Herzchen klein, es klopft und pocht:
"Sei mein! Sei mein!"
Und der Mund, er spricht kein Wort,
doch tönt es fort und immer fort:
"Ich hab' dich ja so lieb, ich hab' dich lieb!"
Jeder Druck der Hände deutlich mir's beschrieb,
Er sagt:  "Klar: 's ist wahr, 's ist wahr, du hast mich lieb!"



VI.  BLOGS E SITES CONSULTADOS


1) Opera News - a publication of the Metropolitan Opera guild:
http://www.operanews.com/Opera_News_Magazine/2013/12/News/Marta_Eggerth.html
6) The New York Times: http://www.nytimes.com/2013/12/31/arts/music/marta-eggerth-the-callas-of-operetta-dies-at-101.html?partner=rss&emc=rss&_r=0 
7) Bloomberg Luxury: http://www.bloomberg.com/news/2013-12-27/-merry-widow-star-marta-eggerth-dies-at-101-interview.html  
8) The Guardian: http://www.theguardian.com/film/2013/dec/30/marta-eggerth


VI.  ARTIGOS CONSULTADOS


ALIPERTI, Cliff: "The Centenarians - Movie Folk Who Lived 100 Years or More", Immortal Ephemera, artigo de 30 de dezembro de 2013, disponível na Internet.

BERGAN, Ronald: "Marta Eggerth obituary: Viennese operetta and film star of the 30s who fled to America after the Anschluss", The Guardian, artigo de 30 de dezembro de 2013, disponível na Internet. 

BONAVIDES, Marcelo: "Martha Eggerth e seus 101 anos de vida!", Estrelas que Nunca se Apagam, artigo postado em 17 de abril de 2013.

BROUGHTON, Simon: "Return to dreamland: Has the musical killed off operetta? Simon Broughton looks back to Vienna's Gold and Silver Ages and argues that there's more to Lehar than Lloyd Webber in Austro-Hungarian dress", 1992, disponível na Internet.

FOX, Margalit: "Marta Eggerth, the Callas of the operetta, Dies at 101", The New York Times, artigo de 30 de dezembro de 2013, disponível na Internet.
 
HOELTERHOFF, Manuela: "Merry Widow Star Marta Eggerth Dies at 101: Interview", artigo de 
27 de dezembro de 2013, disponível na Internet. 

OPERA NEWS: "Marta Eggerth, 101, Incomparable Star of Operettas and Musicals on Both Stage 
and Screen, Has Died", artigo de 27 de dezembro de 2013, disponível na Internet.

PATRIA PRODUCTIONS: "In Memoriam: Marta Eggerth, Callas of the operetta, Dies at 101", artigo disponível na Internet.

SIGMAN, Michael: "Marta Eggerth, Operetta Superstar, Turning 100", The Huffington Post, artigo de 9 de fevereiro de 2012, disponível na Internet.

THE TELEGRAPH: "Márta Eggerth - obituary", artigo de 29 de dezembro de 2013, disponível na Internet.

12 comentários:

Anderson Braga Horta (poeta e Membro do IHG-DF e da Academia Brasiliense de Letras) disse...

Bela homenagem.
Obrigado, meu caro.
Abraços

Guilherme Carneiro da Cunha Bauer (professor de Música e Membro da Academia Brasileira de Música) disse...

Caro Francisco Braga,

Meus cumprimentos pelo excelentre artigo que me fez voltar à adolescência, época em que a ouvia cercado de elogios proferidos por meu pai que a admirava profundamente.

Grande abraço,

Guilherme

Prof. Mário Celso Rios (presidente da Academia Barbacenense de Letras) disse...

Caro BRAGA, tudo bem com voce e RUTE neste nosso Verão propício ao lazer e descanso?
Obrigado pelo seu c-e s/ MARTA EGGERTH que faleceu aos 101 anos de idade, em 26 de dezembro de 2013. Pude ver SHOWBOAT
e me lembro de "For me and my gal", conforme noticia The Washington Post de hoje on line
http://www.washingtonpost.com/entertainment/music/marta-eggerth-still-singing-at-100/2012/04/11/gIQAZgzXBT_story.html
e
ontem também fiquei sabendo do óbito de Claudio Abbado, conforme a Folha de São Paulo on line
(http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/01/1400090-morre-maestro-italiano-claudio-abbado-aos-80-anos.shtml ).
AMIGO, quando se vai um talento desses para a dimensão que ultrapassa nossa transitoriedade, nossa sensação é de que muitos seres humanos têm algo como uma estrela que os faz brilhar e brilhar... Pena que tudo passa num relance!
Você é atento e sua grandeza para mim é saber que você valoriza o que realmente tem MÉRITO!
Abraço, M. CELSO

Sônia Vieira (pianista e Membro da Academia Brasileira de Música) disse...

Prezado amigo,

Meus pais sempre falavam dela e de Jan Kiepura, seu marido. Não sabia
que havia falecido em dezembro passado. Mais uma grande artista que se
vai; este ano passado foi terrível para os músicos! Estamos ficando cada vez mais pobres em arte... uma tristeza!
Obrigada pela belíssima página a ela dedicada.
Abraços da amiga

Sonia Maria

Prof. Fernando Teixeira (Secretário Geral da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Grato pelo envio, caro Braga. Como sempre, o texto confirma o autor dotado de domínio pleno da teoria musical e do instrumental literário. Reitero cumprimentos por este e outros trabalhos. Abraço do confrade Fernando Teixeira

Francisco Braga disse...

Prezad@,
Venho divulgar publicação de mais um artigo de minha lavra em um meio de comunicação sério e especializado: o Portal Concertino. A oportunidade de colaborar com um Portal de tal magnitude engrandece qualquer trabalho escrito na área da Música.
Por isso, senti-me muito honrado quando Profª Elza Moraes Fernandes Costa me convidou para colaborar com seu Portal, disponibilizando meu artigo intitulado "Marta Eggerth, a ‘Callas da opereta’”, que faleceu aos 101 anos de idade, no dia 26 de dezembro de 2013.
Incomparável estrela de operetas e musicais, dotada de uma voz capaz de alcançar alturas consideráveis com facilidade e desenvoltura, Eggerth foi capaz de marcar profundamente a época que se convencionou chamar de A IDADE DA PRATA da opereta vienense, com certo preconceito por parte de certos autores que consideram a opereta um gênero menor. Atriz e cantora a um só tempo, poderia ter sido grande, cantando Mozart, mas preferiu seus autores contemporâneos de opereta, quase todos vivos, para projetá-los: Franz Lehár, Emmerich Kálmán, Robert Stolz, Oscar Nathan Straus, Paul Abraham e outros luminares da opereta. No meu texto, despido do mencionado preconceito, analiso a contribuição de Eggerth para a opereta e para a aparição do musical, inclusive para a indústria cinematográfica, já que ela atuou em mais de 40 filmes! Para ler a matéria, queira clicar no seguinte link: http://www.concertino.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5473
Com meu abraço cordial,
Francisco Braga

Profª Elza de Moraes Fernandes Costa (diretora do Portal Concertino) disse...

Boa tarde, Braga!
Agradeço muito a sua divulgação do Concertino, também.
Um abraço,
Elza

Musse Hallak (pianista e Membro da Academia de Letras de SJDR) disse...

Caro Ilustre Francisco Braga,

Cordiais saudações.

Obrigado por nos trazer este exemplar trabalho sobre Marta Eggerth. Como sempre, enriquecendo-nos de conhecimentos , principalmente, no nicho da áurea clássica.

Ouvi a Serenata de Schubert no YouTube, sugerido em seu artigo. Sem dúvida, é uma voz primorosa e divina, aliás, timbre de voz de Rute Pardini, viu? Simplesmente, maravilhosa!
Forte abraço.

Musse

Chico Flávio Rodrigues disse...

Prezado Professor Braga,

Fiquei encantado com a sua matéria em homenagem à Marta Eggerth - a legendária soprano, que infelizmente não a conhecia.
Aos 65 anos, estou desvendando a Ópera a partir do trabalho de Lauro Machado Coelho, pois levei mais de 50 anos de minha vida ao redor do Jazz.
Agradeço as noticias que me chegam por email acerca de suas aventuras.
Acompanharei suas andanças neste fabuloso mundo da Música. E sempre que puder, darei algum retorno.
A Música é a melhor das razões da vida !
Nisto, somos irmãos.

Um abraço.

Pedro Paulo Torga da Silva disse...

Obrigado, Francisco. Fico feliz com sua projeção em Portal tão importante, como o Portal Concertino. Vamos agradecer a Deus pelo dom de sua vida, tão proveitosa! Abração pra vc e Rute.
Abração.

Prof. Ulisses Passarelli (folclorista e Membro da Academia de Letras de SJDR) disse...

Outro extraordinário trabalho! Admirável, caro Francisco, tanto o conjunto de sua obra quanto, sob olhar focal, cada contribuição em si. Por gentileza, continue me enviando seus artigos e postagens para apreciação e aprendizado.
Com grata atenção me despeço, desejando-lhe um ótimo dia.
Abç,
UP.

Pedro Silva (escritor português) disse...

Saudações.

Meu amigo,

agradeço as palavras.

Se puder partilhar - junto da sua lista de contacto, o meu website e a minha página oficial no Facebook, ficar-lhe-ia agradecido.
https://www.facebook.com/escritorpedrosilva
http://escritorpedrosilva.pt/

Quanto ao mais, parabéns por novo artigo de qualidade.

Um abraço,
Pedro Silva