Por Francisco José dos Santos Braga
Tive a subida honra de comparecer em Barbacena, na qualidade de Sócio Correspondente da ABL-Academia Barbacenense de Letras e Secretário Especial para Relações Institucionais do IHG-São João del-Rei, à comemoração do centenário de nascimento do saudoso PROF. ALTAIR JOSÉ SAVASSI, patrocinada pela Academia Barbacenense de Letras, no dia 25 de abril p.p. Em reunião muito concorrida na EPCAr-Escola Preparatória dos Cadetes do Ar, com a presença da viúva Déa Arlete Sad Savassi e de familiares do homenageado, os membros da Academia e a sociedade barbacenense se fizeram presentes para homenagear um de seus maiores vultos, numa demonstração clara de seu apreço pela memória de seu benfeitor. Na ocasião, foi proferida pelo Acadêmico José Silvério Ribeiro a "Apologia de Altair José Savassi". Desde 24 de outubro de 2013, membro efetivo daquele Sodalício anfitrião, Silvério Ribeiro demonstrou profundo conhecimento da vida e obra daquele que o precedeu como ocupante da Cadeira nº 2 e cujo patrono é AMÍLCAR SAVASSI (1876-1973), pai do homenageado.
Resta difícil enumerar os predicados que ornaram a fronte de Altair Savassi, tantos foram os seus trunfos e conquistas nos seus 91 anos bem vividos em prol de sua municipalidade. Mesmo assim, em breves palavras, coube a Silvério Ribeiro, autor da referida monografia, enumerar e descrever as grandes realizações do seu biografado ¹:
"(...) Altair José Savassi obteve o bacharelado em Direito pela Universidade de Minas Gerais (1935). Foi delegado de Polícia e Delegado Especial (1938), angariando respeito. Lecionou por muitos anos no Ginásio Mineiro de Barbacena (1947), na EPCAR (1949) e na Escola Agrícola de Barbacena (1947). Era meticuloso e organizado por natureza. Montou importante núcleo bibliográfico, contendo valiosa hemeroteca, se analisado isso for pelos padrões brasileiros.
É de sua autoria várias obras, destacando-se como marco inicial o Resumo Histórico do Município de Barbacena (1954), fruto de uma conferência que proferiu dois anos antes, acerca das comemorações do aniversário da cidade, trabalho esse que foi base para uma posterior publicação de vulto, intitulada Barbacena - 200 Anos, em dois volumes (1991). Membro efetivo da Academia Barbacenense de Letras (sócio fundador, 18-12-1977), da Academia Municipalista de Letras (BH), da Academia de Letras de São João del-Rei (29-01-1978), Academia Anapolina de Filosofia, Ciência e Letras (30-10-1985) e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (BH).
Altair José Savassi foi um notável defensor de Alberto Santos Dumont (1873-1932), como atestam seus artigos produzidos para o Anuário da ABL, e manteve com o pesquisador Oswaldo H. Castello Branco (1906-1997) marcante polêmica sobre o sítio em que o Pai da Aviação teria nascido. Recebeu a Medalha Santos Dumont oferecida pelo Governo de MG (23-10-1980) e a Medalha e o Diploma de Mérito Santos Dumont, do Ministério da Aeronáutica (17-06-1987).
Entre outras contribuições, a partir de sua coleção de jornais e por um trabalho paciente de análise de periódicos por ele empreendido, foi possível se completar as lacunas dos primórdios da História de Barbacena, no que tange aos poderes constituídos de então, e todo o seu acervo serviu de alicerce para a criação, em 2003, do Arquivo Histórico Municipal que também leva seu nome.
(...) Na sede da Câmara Municipal de Barbacena, para se comemorar o aniversário da cidade, Altair José Savassi organizou a exposição de exemplares de alguns jornais antigos de sua coleção; tal iniciativa teve repercussão em todo o Estado de Minas Gerais. (...)"
O Presidente concedeu a palavra ao Dr. Paulo Roberto Maia Lopes, Vice-Presidente da Academia, o qual trouxe excelente contribuição à biografia do Prof. Altair Savassi, nos seguintes termos aqui reproduzidos:
"A EMANCIPAÇÃO DA VILA DE BARBACENA NA ESTRUTURA DO REINO UNIDO DE PORTUGAL E ALGARVES - 14 DE AGOSTO DE 1791
O professor Altair José Savassi (1914-2003), historiador e pesquisador, autor de diversos livros sobre a história de Minas e de Barbacena, defendia sempre a tese de que a data comemorativa do aniversário da cidade de Barbacena deveria ser fixada no dia 14 de agosto, em lugar do dia 9 de março, como vinha sendo feito de longa data.
O dia 9 de março referia-se ao ano de 1840, quando a vila de Barbacena foi elevada a cidade. Argumentava, com bem fundadas razões, o mestre Savassi, apoiado por outros intelectuais de renome, que a data a ser festejada como de nascimento de Barbacena como entidade autônoma era o dia 14 de agosto de 1791. Foi quando o antigo Arraial da Igreja Nova da Borda do Campo ganhou da rainha de Portugal, D. Maria I, a Piedosa, o foral de Vila, com os privilégios inerentes: entre outros, o direito de eleger sua própria Câmara de Vereadores e erigir o pelourinho, símbolo da nova dignidade. Foi também a data em que recebeu o nome atual de Barbacena, em homenagem ao então governador e capitão-general da Província das Minas Gerais, Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro, 6º visconde e 1º conde de Barbacena (1754-1830).
No ano de 1990, quando a cidade se preparava para comemorar o sesquicentenário de existência, liderou o professor Savassi, com o apoio da Academia Barbacenense de Letras, da qual era membro fundador, e, sobretudo, de seu presidente vitalício, Plínio Tostes de Alvarenga, uma campanha para que o erro histórico fosse reparado. Com o respaldo da administração municipal da época (prefeito Vicente Araújo e vice-prefeito Amarílio de Andrade, também acadêmico barbacenense), foi proposto e aprovado pela Câmara Municipal projeto de Lei oficializando a data de emancipação de Barbacena em 14 de agosto de 1791. As festividades, antes previstas para 1990, tiveram lugar no ano seguinte, com a celebração do bicentenário da cidade, mantendo-se também o título conferido à vila por D. Pedro I em 1822, de 'Mui Nobre e Leal', pela ativa participação que tivera no movimento pela Independência do Brasil."
Importa aqui relembrar as qualidades e características que ornaram a fronte do grande intelectual barbacenense, em particular. Além disso, ao mesmo tempo, vou servir-me de uma outra citação, desta vez do poeta Honório Armond (1891-1958), prefaciador do Resumo Histórico do Município de Barbacena ², da autoria do Prof. Altair Savassi, que em 1952 escreveu para o leitor formar uma ideia do historiador rigoroso, metódico e imparcial que foi e fez escola na "Cidade das Rosas" ³:
"Um inteligente e brilhante ex-aluno e hoje caro colega — Altair Savassi — deu-me o fácil e amável encargo de escrever algumas palavras sobre o interessantíssimo trabalho que aqui vai a público e que, apesar da modéstia de seu autor e de sua aparente simplicidade se reveste de muita importância como ensaio histórico de clara e marcante relevância. Altair Savassi tem a fibra de um historiador, pois que nele sobram as qualidades maîtresses de quem faz História: curiosidade, paciência, imparcialidade e faro para separar o trigo opulento da palha leve e inútil..."
A coordenadora do Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Savassi, Edna Maria Resende, publicou interessante matéria intitulada "Centenário de nascimento de Altair José Savassi", em blog da Associação Cultural do referido órgão, onde se lê ⁴:
"A leitura de sua riquíssima obra não deixa dúvidas sobre a sua atividade de maior relevo: o professor, o aviador e o sapiente homem de letras Altair José Savassi será lembrado como historiador e memorialista, acima de tudo. Incansável em suas perambulações por cartórios, arquivos, bibliotecas, reunindo depoimentos, acessando fontes primárias, algumas hoje desaparecidas, Altair Savassi mergulhou de corpo e alma na pesquisa histórica e deixou um legado invejável às novas gerações de pesquisadores.
Indiscutivelmente, a obra do professor Altair Savassi é imprescindível a todo historiador que, hoje, se proponha a reconstruir a história de Barbacena e região, resgatando seu posicionamento no cenário mineiro e nacional e contribuindo para o preenchimento das lacunas que marcam a história local em Minas Gerais."
E para concluir esta breve resenha de apreciações abalizadas do trabalho legado pelo Prof. Altair Savassi, vejamos finalmente a crítica feita pelo cronista do "Estado de Minas", José Clemente (pseudônimo do jornalista mineiro Moacir Andrade), publicada naquele jornal de Belo Horizonte, em relação à 1ª edição do Resumo Histórico do Município de Barbacena, prefaciado pelo poeta Honório Armond ⁵:
"VIDA SOCIAL
História de Barbacena
Tratamos, há dias, aqui, da "Notícia de São João del-Rei", do sr. Augusto Viegas. Acentuamos, então, a utilidade de trabalhos dessa natureza, para conhecimentos mais profundos da História de Minas, através da história particular de seus municípios. Entretanto, são poucas as obras feitas com a preocupação de instruir e, portanto, produtos de pesquisa honesta.
Vêem-se muitos "álbuns" de municípios. Neles, entretanto, pouca cousa se salva como boa informação histórica, merecido a desconfiança para a consulta ou referência. São trabalhos, até muitas vezes bonitos, vistosos, mas editados com propósitos apenas de lucro material e destinados ao pavoneamento de administradores episódicos das comunas.
Recebemos agora, editado pela Prefeitura de Barbacena, um modesto folheto sobre aquele grande e próspero município, com um resumo de sua história. Um pouco da história da imprensa barbacenense, desde o aparecimento, em 1836, do primeiro jornal da terra até os nossos dias, e informações estatísticas sobre o município atual.
É seu autor o sr. Altair José Savassi, barbacenense inteligente e culto e que, sobretudo, ama a sua terra, o que é essencial aos que se entregam a tais iniciativas, que exigem muito devotamento. Trata-se de um resumo histórico do município, isto é, de uma condensação de episódios marcantes da história de Barbacena que é muito ampla. Foi uma conferência que o sr. Altair Savassi realizou e uma palestra, evidentemente, não poderia comportar, pela limitação do tempo, um largo estudo histórico, que é matéria para livro. Não obstante esse "enquadramento" a que se obriga o conferencista, o sr. Altair Savassi anotou, cronologicamente, os fatos principais da história de Barbacena, dando de cada um deles notícia fiel, com base em documentos. Pelo que apresenta, vê-se perfeitamente a capacidade do autor. E está muito nítido o seu pendor pelas investigações históricas, o que foi justamente assinalado pelo eminente escritor Honório Armond, que prefaciou o interessante ensaio. Se não estuda os acontecimentos registrados com a amplitude requerida pelo que, em verdade, representaram no tempo (como, por exemplo, a participação de Barbacena na Revolução de 1842), os registros são, entretanto, acompanhados de informações que bem caracterizam a sua importância. O sr. Altair Savassi tem neste seu trabalho, que lhe revela a garra do historiador, uma auto-convocação para escrever sobre Barbacena um trabalho de maior vulto pois talento não lhe falta para a empresa e já lhe é familiar o documentário sobre o assunto.
O capítulo sobre a imprensa em Barbacena é uma preciosa contribuição para um estudo completo da Imprensa em Minas, trabalho que um dia ainda terá de ser feito." (grifos meus)
NOTAS EXPLICATIVAS
¹ RIBEIRO, J.S.: Apologia de Altair José Savassi, pp. 8-10.
² Altair Savassi, como introdução a seu livro "Barbacena - 200 anos", julgou necessária uma explicação ao leitor sobre a obra anterior (de 1952) que ele em 1991 procedia a uma segunda edição, verbis: "Em nove de março de 1952, atendendo a um honroso convite da Prefeitura Municipal, fizemos uma conferência que versou sobre o "Resumo Histórico do Município de Barbacena". Achou o exmo. sr. Prefeito de então, dr. José Edwards Ribeiro, que seria oportuna a sua publicação em folhetos, acrescida de um outro trabalho que havíamos penosamente concluído sobre A Imprensa em Barbacena (sede) e de "Barbacena atual pelos dados estatísticos". (grifos meus)
Tanto a conferência quanto os dois outros títulos são capítulos do volume 1 do livro Barbacena - 200 Anos, que constitui relançamento em 1991 daquele trabalho pioneiro de 1952;.
O que se passou é que, quase quarenta anos depois, já aposentado, foi instado a providenciar "nova publicação, atualizada e um pouco aumentada" daquele trabalho original.
Segundo ele, foram acrescidas àquela obra de 1952 algumas crônicas publicadas na 'Tribuna da Montanha', além de outras notas cuja divulgação julgou ser de interesse, "como subsídios para a História de Barbacena".
³ SAVASSI, A.J.: Barbacena - 200 Anos, pp. 25-26.
⁴ RESENDE, E.M.: Centenário de Nascimento de Altair José Savassi (1914-2003), 13 de abril de 2014 (Cf. http://acahmpas.blogspot.com.br/2014/04/centenario-de-nascimento-de-altair-jose.html)
⁵ SAVASSI, A.J.: ibidem, pp. 17-18.
BIBLIOGRAFIA
RESENDE, E.M.: Centenário de Nascimento de Altair José Savassi (1914-2003), 13 de abril de 2014
(Cf. http://acahmpas.blogspot.com.br/2014/04/centenario-de-nascimento-de-altair-jose.html)
RIBEIRO, J.S.: — Apologia de Altair José Savassi, Barbacena: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2014, 16 p.
— História Econômica do Município de Barbacena, vol I (1889-1930) - Tempos de Esperança, Barbacena: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2012, 700 p.
SAVASSI, A.J.: Barbacena - 200 Anos, vol. 1 e 2, 2ª edição, Belo Horizonte: Editora Lemi S.A., 1991, 287 p. e 258 p. respectivamente.
14 comentários:
Prezado Braga, muito obrigado pelo envio do texto. Impõe-se o resgate da memória de pessoas de destaque nas diversas comunidades, pois, com isto, a ampla história de um país. Parabéns. Lembranças à Rute. Fernando Teixeira
Muito obrigado. Mais um grande trabalho de biografia, fazendo justiça aos baluartes da cultura.
Abç. Ulisses.
Muito obrigado pela lembrança.
MUITO BEM!
GRATO E ABS.
ROGERIO
Parabéns Francisco.
Parabéns pela matéria sobre o Altair Savassi.
Att. Jclaudio.
Obrigado, Braga. Gente boa que o país lamenta a perda e os amigos custam a se conformar. Mauricio.
Obrigado, Braga. Gente boa que o país lamenta a perda e os amigos custam a se conformar. Mauricio.
Agradeço, BRAGA, pela edição de 10 de junho de seu importante BLOG, a matéria sobre o saudoso Savassi. Acabei de vir de Juiz de Fora, onde participei do V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo e lá vi uma obra sobre os FERREIRA ARMONDE e na bibliografia era citado o Arquivo H M ALTAIR SAVASSI e a obra do José Cláudio sobre Matosinhos. Interessante é que me lembrei também de você e de sua dedicação com a preservação de nossa memória. Abraço, M. CELSO
Oi, AMIGO, obrigado pelas referências a nossa última reunião da ABL!
Abraço, M. CELSO
Assim, como em nossa São João, Barbacena também teve e sempre terá o atributo de notáveis homens, como foi em seu blog perfilado, o Prof. Altair José Savassi.Muito alvissareiro para todos nós, conhecer esta figura magnifica.
Mais uma vez, congratulamos com o amigo acadêmico Francisco Braga, de incansável trabalho em prol a cultura mineira e brasileira.
Musse João Hallak
Prezado amigo Francisco Braga,
Receba minhas efusivas congratulações pelo seu texto, junto aos agradecimentos, pessoais e pela Academia Barbacenense, por suas generosas referências à iniciativa de homenagear o inesquecível mestre Altair Savassi.
Muito nos engrandece tê-lo próximo a nós e poder contar com sua inteligência e dedicação à causa da cultura. O alcance e a excelência de suas publicações já se integram, com as possibilidades oferecidas pelos novos meios de difusão das ideias, ao moderno patrimônio intelectual de nossa terra. É gratificante ver enriquecido, em grau tão altaneiro, o ambiente tradicional de nossas letras, história e arte.
Dê-nos sempre a honra de sua presença e o valor inestimável de suas produções, que abrangem um tão variado espectro de temas, capazes de despertar o interesse, estimular a pesquisa e valorizar o que temos de bom.
Com meu cordial abraço,
Paulo.
Ótimas notícias. Um dia irei conhecer essa cidade (Barbacena) e região. Conheço Três Corações. Salve Minas Gerais! Aproveite para prestigiar nossas atividades acadêmicas. Visite www.youtube pesquisar benjaminbatista e procurar título Academia de Cultura da Bahia apresentação de ZÉ DA MALA. Vale à pena. Sorriso certo. Abraços. BB.
Obrigado pelo artigo. É interessante o segundo epíteto de D. Maria, a Piedosa, mais conhecida na história como a Louca, mãe do nosso primeiro rei como nação independente, D. João VI.
Digo primeiro rei, na condição brasileira de sede da Corte e do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Tecnicamente, o que aconteceu em 7 de setembro de 1822 não foi nossa independência, e sim nossa secessão.
Abraço fraterno.
José Carlos Hernández
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