domingo, 5 de julho de 2015

BATALHA NAVAL DE SALAMINA, À QUAL O OCIDENTE DEVE A SUA EXISTÊNCIA


Por Francisco José dos Santos Braga


 
O monumento e o espaço circundante da Batalha Naval hoje





"E assim, prontos os barcos a tempo e dirigidos por um comandante hábil e de visão, foram com mestria utilizados na invasão de 480 a.C., e a sua atuação mudou a história de Atenas, a da Grécia e até a da Europa. Decorria o início do século V a.C., e a Grécia ainda não havia chegado ao apogeu do período clássico nem produzira as suas mais importantes realizações culturais. E dado que a cultura europeia — e por extensão a ocidental — é profundamente devedora da grega, mesmo quando recebida através da romana, ou de outras posteriores, naturalmente não será difícil imaginar que a nossa cultura seria hoje bem diferente se a vitória em Salamina tivesse pendido para o lado dos Persas."
FERREIRA, José Ribeiro: Um momento crucial para a Europa: As Guerras Medopersas (490-479 a.C.). Revista Debater a Europa, nº 7, jun/dez 2012, p. 12. 

Monumento




I.  INTRODUÇÃO 


Quem lê o título deste trabalho, pode interpretar que haja um exagero por parte deste autor. Mas não é este o caso. Esta pesquisa mostra que muitos outros comungam dessas mesmas ideias e pretendo aqui discutir algumas e apresentar argumentos a favor dessa tese já presentes em obra histórica que data de algumas décadas antes do nascimento de Jesus Cristo.

Para justificar o título do presente trabalho, inicialmente apresento minha tradução do texto "A Batalha Naval de Salamina", por Diodoro Sículo, diretamente da língua grega. Adicionalmente, apresento algumas notas explicativas que vêm em socorro da tese aqui esposada, esclarecendo alguns pontos de vista apresentados no texto.

Há muito venho publicando matérias sobre a língua grega, a música antiga e a cultura helênica, adotando a postura de um "filélinas", alguém que ama o povo grego, inspirando-me no exemplo edificante do mais eminente "filélinas" de todos os tempos, o poeta inglês Lord Byron, que encontrou a morte em Missolonghi (1824), quando lutava pela Independência dos Gregos.

A sugestão para o título desta matéria me foi dada pelo Prof. Alexandre Orfanídis, residente em Atenas, a quem gostaria de agradecer pelas excelentes ideias de produção de novos artigos.



II.  TRADUÇÃO DO TEXTO GREGO POR FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA




A BATALHA NAVAL DE SALAMINA, por Diodoro Sículo ("Biblioteca Histórica" - 11º Livro) ¹




Destruição das áreas circunvizinhas Debate sobre a tese de defesa


Cap. 14. Enquanto ocorriam essas coisas, Xerxes, tendo retirado o seu exército das Termópilas ², avançou através do território da Fócida, saqueando as cidades e arruinando toda a propriedade no campo. Os habitantes da Fócida, que tinham escolhido ficar ao lado dos Gregos, vendo que estes eram incapazes de oferecer resistência, abandonaram todas as suas cidades e refugiaram-se no território intransitável do Parnaso. Na sequência, o rei atravessou o território dos Dórios, sem prejudicar ninguém, porque esses tinham se aliado aos Persas. Ali, deixou parte da sua armada, à qual ordenou ir a Delfos, para incendiar o santuário de Apolo e pilhar as oferendas votivas, enquanto ele acompanhado dos bárbaros restantes avançou até a Beócia, onde também acampou. Aqueles que tinham sido enviados para pilharem o oráculo, avançaram até o templo de Atena Prónoia, mas ali, estranhamente, começaram a cair uma chuva forte e muitos raios do céu e, além disso, a tempestade descolou e lançou sobre o exército de bárbaros grandes rochedos, resultando na morte de um grande número de Persas, quando todos, aterrorizados pela intervenção dos deuses, escaparam às pressas da região. Assim, o oráculo de Delfos, aos cuidados de uma providência divina, escapou do saque. Os habitantes de Delfos, querendo deixar para os pósteros lembrança perene do aparecimento dos deuses (entre os homens), erigiram um troféu junto do templo de Atena Prónoia, no qual gravaram o seguinte poema elegíaco:

"Memorial da guerra que protege os homens e testemunha da vitória, 
os habitantes de Delfos me erigiram, agradecendo a Zeus e a Apolo,
os quais repeliram as fileiras saqueadoras dos Medos e
protegeram o santuário coroado de cobre."

Tholos (construção em formato circular, feita de colunas dóricas, 
em mármore) ao Santuário da deusa Atena Prónoia em Delfos

Neste ínterim, Xerxes e seus homens, atravessando a Beócia, destruíram completamente a região de Thespies, e as Plataies, que estavam desertas, as incendiaram, porque todos os habitantes daquelas cidades tinham fugido para o Peloponeso. Depois disso, penetraram na Ática, onde devastaram o campo, enquanto punham abaixo Atena e queimavam os templos dos deuses. Enquanto o rei estava ocupado com essas coisas, a esquadra velejou de Euboea ³ aportando na Ática, tendo saqueado tanto Euboea quanto as costas da Ática.

Cap. 15. [...]  Os Atenienses que se achavam em Salamina, vendo a Ática queimar e ouvindo dizer que o santuário de Atena tinha sido posto abaixo, desanimaram-se completamente. De igual forma, também os Gregos, que tinham se reunido de todo canto só no Peloponeso, tinham sido tomados de grande temor. Foram ditas muitas e variadas ideias, e os habitantes do Peloponeso, cuidando apenas de sua segurança, afirmavam que a batalha devia se dar na região do Istmo, pois tinha sido fortificado com uma muralha, e assim, se algo não fosse bem na batalha naval, os vencidos poderiam refugiar-se imediatamente em lugar seguro no Peloponeso, enquanto, se todos se engaiolassem juntos na ilhota de Salamina, cairiam nas adversidades, das quais dificilmente escapariam. Temístocles sugeriu que se desse no estreito de Salamina a batalha dos navios, porque teriam grande vantagem aqueles que combatessem com poucos navios contra um número muito superior. De uma maneira geral, demonstrou a que a região ao redor do istmo era completamente imprópria para a batalha naval, porque o combate se daria em mar aberto e os Persas, por causa da amplidão, desfariam facilmente os poucos navios com os seus mais numerosos. Com muitos outros argumentos semelhantes que combinavam com a circunstância, convenceu-os a todos a votarem a favor de seu próprio plano.



A batalha naval de Salamina 



Cap. 16. Quando finalmente se chegou à decisão comum de realizar-se a batalha naval em Salamina, os Gregos começaram os preparativos necessários para enfrentar os Persas e os perigos. O almirante Eurybíades, então, acompanhado por Temístocles, encarregou-se de incitar as tripulações e de instigá-las para encarar o risco vindouro. Contudo, os homens não obedeciam e, como estavam todos aterrorizados pelo tamanho das forças persas, não davam importância aos comandantes, mas todos estavam decididos a deixar o porto de Salamina em direção ao Peloponeso. Mas também a infantaria dos Gregos não temia menos as forças dos inimigos, visto que os aterrorizava a perdição dos homens mais notáveis nas Termópilas, e ao mesmo tempo as ruínas na Ática que se achavam diante de seus olhos provocavam-lhes desfalecimento. Os membros do sinédrio dos Gregos, vendo a agitação das massas e o medo geral, votaram a favor da construção de uma muralha ao longo do Istmo. As obras foram realizadas com rapidez por causa do entusiasmo e da multidão de trabalhadores. Os habitantes do Peloponeso fortaleceram a muralha que se estendia sobre quarenta estádios, de Léchaio até Cenchras, enquanto os que se encontravam em Salamina, juntamente com toda a esquadra, estavam tão atemorizados que não obedeciam mais aos seus comandantes. 

T e m í s t o c l e s

Cap. 17. Temístocles, vendo que o almirante Eurybíades não era capaz de catalisar o ímpeto da multidão mas também que o estreito de Salamina podia contribuir muitíssimo para a vitória, maquinou o seguinte: convenceu alguém a desertar em favor de Xerxes e garantir-lhe que os navios estavam para escapar às escondidas daquela região e reunir-se no Istmo. Assim o rei (Xerxes), que acreditava nessas coisas que lhe eram comunicadas, porque lhe pareciam plausíveis, apressou-se para impedir que as forças navais dos Gregos fizessem contato com as forças da infantaria em terra. Enviou (Temístocles) então imediatamente a frota dos Egípcios, ordenando-lhes obstruir a passagem entre Salamina e a região de Megaris. O contigente principal de seus navios enviou-o a Salamina, dando ordem para provocarem os inimigos e para ser considerado o combate com navios. Os trirremes foram dispostos por ordem de nações, de forma a se ajudarem mutuamente de bom grado, devido à mesma língua e a familiaridade entre si. Quando a esquadra foi alinhada dessa forma, os Fenícios ocuparam a ala direita, enquanto os Gregos se colocaram na ala esquerda do lado dos Persas. Os comandantes dos contingentes jônicos (da esquadra persa) enviaram um homem de Samos aos Gregos para informá-los detalhadamente sobre tudo o que o rei (Xerxes) decidira fazer e sobre a disposição das suas tropas para a batalha, e para dizer que, no curso do combate, haveria deserção por parte dos bárbaros. Quando o habitante de Samos chegou nadando às escondidas e informou Eurybíades sobre isso, Temístocles, constatando que seu estratagema funcionava conforme tinha planejado, estava exultante e estimulava as tripulações à batalha. Os Gregos, encorajando-se com promessa dos Jônios, visto que também a circunstância os obrigava a travar a batalha naval, até mesmo contra a sua própria vontade, desceram todos juntos de bom grado a Salamina para se prepararem para a batalha naval.  


Em destaque: Salamina, Piréus, Greek main force, 
Persian main force, Corinthian and Egyptian ships

Cap. 18. Por fim, quando os homens de Eurybíades e de Temístocles alinharam as suas tropas, a ala esquerda ocuparam os Atenienses e Lacedemônios, em frente aos navios dos Fenícios, porque estes tinham grande predomínio tanto pelo grande número de navios quanto pela experiência que tinham pelos seus antepassados na habilidade náutica. Os habitantes de Égina e Megaris ocupavam a ala direita, uma vez que eram considerados os melhores marinheiros depois dos Atenienses e pelo fato de que exibiriam o melhor estado de espírito, vendo que apenas eles dentre os Gregos não teriam nenhum refúgio no caso de algo dar errado na batalha naval. A ala central ocuparia a tripulação restante dos Gregos. Então com essa estrutura zarparam e ocuparam a passagem estreita entre Salamina e o Heracleium .  O rei (Xerxes) ordenou a seu almirante avançar contra os inimigos, enquanto ele próprio se movia costa abaixo até um lugar em frente de Salamina, de onde pudesse assistir ao curso da batalha naval. Os Persas, ao avançarem, mantinham a sua formação, visto que tinham muito espaço. Mas quando chegaram ao estreito, porém, foram obrigados a separar da formação alguns navios, criando dessa forma grande desordem. O almirante, que conduzia adiante a formação e foi o primeiro a travar combate, foi morto, tendo lutado gloriosamente. Quando seu navio afundou, a confusão apoderou-se da esquadra dos bárbaros, porque os que mandavam eram agora muitos e não davam todos as mesmas ordens. Consequentemente, pararam o avanço e diminuíram a velocidade dos navios para retornarem ao amplo espaço. Os Atenienses, vendo a desordem dos bárbaros, agora os perseguiam e atingiam também outros navios com os esporões da proa, enquanto privavam outros das fileiras de remos. Como os remadores não podiam fazer o seu trabalho, muitos dos trirremes dos Persas ficaram de lado para o inimigo e eram repetidamente danificados pelo espigão da proa dos navios inimigos. Por isso, pararam de bater em retirada simplesmente e, fazendo giro, punham-se em fuga precipitada.

Xerxes assiste ao desembarque da batalha naval -
Reprodução fictícia a partir da descrição


Cap. 19.  Quando os navios fenícios e cipriotas foram vencidos pelos Atenienses, os navios  dos Cilícios e dos habitantes da Pamphylia, como também os dos Lycios, que os seguiam na linha, inicialmente resistiam vigorosamente, porém mal viram os navios mais possantes, puseram-se em fuga, abandonando esses também o combate. Na outra ala, deu-se forte batalha naval e durante um certo espaço de tempo o combate estava equilibrado. Entretanto, mal os Atenienses retornaram, já que tinham perseguido os Fenícios e os Cipriotas até terra firme, os bárbaros foram obrigados por aqueles a fazer um giro e perderam muitos de seus navios. Desta forma, então, predominaram os Gregos vencendo os bárbaros em batalha naval  ilustre. Durante o combate, foram destruídos quarenta navios dos Gregos, enquanto, dos Persas, mais de duzentos, sem contar os que foram capturados juntamente com sua tripulação. O rei (Xerxes), para quem a derrota tinha sido inesperada, fez executar todos os Fenícios que foram os principais responsáveis pelo início da fuga, e ameaçou castigar também os restantes.  Os Fenícios, temerosos das ameaças, inicialmente desembarcaram na Ática e, quando anoiteceu, abriram as velas rumo à Ásia. Temístocles agora, que foi considerado o causador da vitória, concebeu outro estratagema não inferior àquele que descrevemos. Já que os Gregos temiam combater em terra firme contra tantas dezenas de milhares, diminuiu (Temístocles) drasticamente as forças terrestres dos Persas da seguinte forma: enviou o educador dos seus próprios filhos a Xerxes para informar-lhe que os Gregos pretendiam navegar à ponte de navios   e destruí-la.

Por essa razão o rei, acreditando nas palavras dele, quando lhe pareceram plausíveis, temeu ser privado da possibilidade do regresso à Ásia, agora que os Gregos controlavam o mar, e decidiu passar por cima apressadamente da Europa para dentro da Ásia, deixando Mardonius atrás na Grécia com cavalaria e infantaria seletas, cujo número total não era menos do que quatrocentos mil. Assim Temístocles, pelo uso dos dois estratagemas, causou notáveis vantagens para os Gregos.

Esses foram os eventos que tiveram lugar na Grécia naquela época.

Fontesite "ΕΛΛΗΝΩΝ ΔΙΚΤΥΟ", in http://www.hellinon.net/ANEOMENA/Salamis.htm



III.  NOTAS EXPLICATIVAS DE FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA



¹  Diodoro Sículo ou Siciliano (Διόδωρος Σικελιώτης) nasceu em Agyrio (hoje Agira), Sicília (Σικελία em grego). São Jerônimo diz que ele floresceu no 4º ano da 180ª Olimpíada (i.e. 49 a.C.). Mas as informações que temos sobre sua vida são todas indiretas, deduzidas de sua própria obra.
Sabe-se, com razoável certeza, que esteve no Egito, entre 60 a.C. e 57 a.C., aproximadamente, onde iniciou as pesquisas necessárias para suas atividades de historiador, trabalho que se prolongou durante os 30 anos seguintes. Parece que em 56 a.C. viajou para Roma e lá ficou durante muito tempo, certamente consultando os arquivos e registros disponíveis.
Diodoro produziu uma única obra, "Biblioteca Histórica" (também chamada de "História Universal"), que reunia 40 livros escritos em língua grega comum ou "koiné", sendo que somente os livros 1-5 e 11-20 sobreviveram, praticamente na íntegra; dos outros, restam apenas alguns fragmentos. Mesmo assim, "Biblioteca Histórica" é o mais extenso relato sobre a história da Grécia e de Roma que chegou até nós, desde as origens míticas até as últimas décadas da República Romana.
Nos capítulos 19 e 20 do 5º livro, ele menciona a viagem de uma frota de Fenícios que teria saído da costa da África, perto de Dakar, e navegado pelo oceano Atlântico, no rumo do Sudoeste. Em função desse registro, especula-se a possibilidade desses Fenícios terem chegado ao continente americano.
A obra de Diodoro é uma compilação frequentemente contraditória, confusa e repetitiva de fontes mais antigas. A cronologia é, via de regra, confiável, mas a narrativa contém afirmativas ingênuas e, às vezes, erros grosseiros, além da ausência de qualquer análise dos fatos. Por isso, Diodoro é geralmente apontado como um compilador competente, mas um mau historiador.

Fonte: Wikipedia, verbete "Diodoro Sículo"

²   No livro "Portões de Fogo - Um Romance Épico da Batalha das Termópilas", seu autor Steven Pressfield faz a seguinte descrição da batalha no desfiladeiro das Termópilas:
"Em 480 a.C., as forças do Império Persa sob o Rei Xerxes, compostas de aproximadamente um ou dois milhões de homens, transpuseram o Helesponto para invadir e escravizar a Grécia.  
Em uma ação retardada e esperada, uma força seleta de trezentos Espartanos foi despachada para o desfiladeiro das Termópilas no norte da Grécia, onde as fronteiras rochosas eram tão estreitas que o grande número de Persas e sua cavalaria seriam, pelo menos em parte, neutralizados. Ali, esperava-se que uma força de elite disposta a sacrificar a própria vida pudesse deter, pelo menos por alguns dias, os milhões de invasores. 
Trezentos Espartanos e seus aliados conseguiram conter, durante sete dias, dois milhões de homens, antes de, suas armas estraçalhadas, arruinadas na matança, lutarem "com mãos vazias e dentes" (como registrado pelo historiador Heródoto) até, finalmente, serem dominados. 
Os Espartanos e seus aliados, os Théspios, morreram até o seu último homem, mas o tempo que conseguiram ao preço de suas vidas permitiu que os Gregos se reorganizassem e, naquele outono e primavera, derrotassem os Persas em Salamina e Plateia, e preservassem a fonte da democracia e liberdade ocidental, impedindo que morressem em seu berço. 
Dois memoriais permanecem ainda hoje nas Termópilas. No moderno, chamado de monumento a Leônidas, em homenagem ao rei espartano que ali caiu, está gravada sua resposta à exigência de Xerxes para que os Espartanos depusessem suas armas. A reposta de Leônidas foram três palavras:  
'Venham pegá-las.'  
O segundo monumento, o antigo, é uma simples pedra sem adorno, gravada com as palavras do poeta Simonides. Seus versos talvez componham o mais famoso de todos os epitáfios guerreiros:  
'Digam aos Espartanos, estranhos que passam, que aqui, obedientes às suas leis, jazemos.' "

³   Ilha de Évvoia, em grego moderno, ou Negroponte, a maior na Grécia depois de Creta.

  Ou seja, toda a Acrópole.

  Conta-se que houve longa discussão entre o comandante espartano Eurybíades e o general ateniense Temístocles acerca da melhor estratégia para vencer os Persas invasores. Cego de ira, Eurybíades levantou seu bastão para bater em Temístocles e este exclamou: "Bate, mas escuta!" Acalmados os ânimos, foram levados a cabo os planos de Temístocles e ambos (o comandante e o general) conseguiram vencer, o que demonstra que é melhor o diálogo do que a violência.

  O Heracleium era um santuário de Hércules no continente onde apenas uma passagem estreita separava a ilha da Ática.

  Helesponto, hoje estreito dos Dardanelos, ligação entre a Europa e a Ásia e lugar de grande importância estratégica e comercial, já que domina a entrada do mar Mediterrâneo para Istambul e para o mar Negro. O estreito dos Dardanelos ocupa, junto com o de Bósforo, um papel relevante na história do Velho Mundo. Liga o mar Egeu ao de Mármara e separa a península de Gallipoli, na Europa, da de Anatólia, na Ásia. Com 61km de extensão, sua largura varia de apenas 1.200m (em frente à cidade de Çanakkale) a sete quilômetros, com 55 a 95m de profundidade.
Os Dardanelos (o antigo Helesponto dos Gregos) deve seu nome à cidade de Dardanus (próxima à antiga Tróia).
Em 480 a.C., os persas, comandados por Xerxes, cruzaram o estreito com uma ponte de barcos; sua intenção era conquistar a Grécia. Em 334 a.C., Alexandre o Grande também o atravessou, mas em direção contrária.

Fonte: WIKIPEDIA, verbete "Hellespont"




IV.  REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS 




FERREIRA, José Ribeiro: Um momento crucial para a Europa: As Guerras Medopersas (490-479 a.C.). Revista Debater a Europa, nº 7, jun/dez 2012


PRESSFIELD, Steven: Portões de Fogo - Um Romance Épico da Batalha das Termópilas, Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001

Site "ΕΛΛΗΝΩΝ ΔΙΚΤΥΟ": Η ΝΑΥΜΑΧΙΑ ΤΗΣ  ΣΑΛΑΜΙΝΟΣ, in http://www.hellinon.net/ANEOMENA/Salamis.htm  Acesso em 4 de julho de 2015. 

WIKIPEDIA: verbete "Diodoro Sículo".

YOUTUBE: A batalha naval de Salamina (Parte I)  -  https://youtu.be/x4yp9MEfrCc
A batalha naval de Salamina (Parte II)  -   https://youtu.be/xerVahosJ28

14 comentários:

Benedito Franco (cronista e escritor) disse...

Caro Amigo

Gostaria de ler seu interessante texto – a história grega é sempre de meu interesse – mas as letras são muito pequenas e, como o texto não pode ser copiado, não consigo lê-lo.
Abraços
Benedito Franco

Anônimo disse...

Caro Braga
sua cultura é de tirar o chapéu justamente com seu fôlego. Minha nossa que inveja em bom sentido. Com meu mais sincero apreço. Éric Ponty

Eduardo Oliveira (ex-salesiano e animador sociocultural) disse...

Este seu blog é fantástico.​
Eduardo

Gilberto Mendonça Teles (pesquisador, poeta e crítico literário) disse...

Francisco Braga, obrigado por mais este texto.
Abraço do Gilberto Mendonça Teles

Augusto Fidélis (poeta, ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras e político divinopolitano) disse...

PARABÉNS, BRAGA, TRABALHO SUPER INTERESSANTE.

ABRAÇO

AUGUSTO FIDELIS

Marcelo Nóbrega da Câmara Torres (ex-Consultor do Senado Federal, jornalista, escritor, editor, consultor cultural e especialista em cachaça) disse...

Amigos e Amigas,

Francisco Braga, um velho amigo, intelectual erudito, humanista de verdade, helenista, mineiro que vive em São João Del Rey, traduz o texto A Batalha Naval de Salamina, por Diodoro Sículo, diretamente da língua grega e escreve notas explicativas. A todo o trabalho, o Braga dá o título Batalha Naval de Salamina, à qual o Ocidente deve a sua existência.

Para quem gosta de História, o trabalho é denso e fascinante.

Abraços

Marcelo Câmara

Prof. José Luiz Celeste (professor universitário, ex-professor da EAESP-Fundação Getúlio Vargas, ensaísta, tradutor e pesquisador) disse...

Prezado: Esta batalha, o episódio das Termópilas e outros da história grega estão muito distantes da parafernália que vivemos no Brasil. Estou convencido de que esse espírito não é comum entre Brasileiros. Poucos estariam dispostos a qq sacrifício pela pátria...
Parece que foge ao entendimento do nosso povo. Há um historiador, Alfred Weber (não é o Max), que tem um livro sobre a civilização romana, onde defende a tese de que havia um complexo básico na estrutura psicológica dos Romanos em geral que os "obrigava" aos maiores sacrifícios por Roma: PRO ROMA FIANT EXIMIA, um lema verdadeiro por lá. Quando se troca Roma por BRASILIA ...
Celeste

Dr. Lúcio Flávio Baioneta (conferencista, proprietário da Análise Comercial Ltda em Belo Horizonte e colaborador do Blog de São João del-Rei) disse...

Meu prezado amigo FJSBraga, mais uma vez você nos brinda com o brilho invulgar de sua inteligência. A sua tradução dos originais do historiador grego Diodoro Sículo é uma prova cabal disto. Meus parabéns. Fantástico.
A sua afirmação de que foi a batalha de Salamina que decidiu o destino da civilização ocidental está corretíssima. Não é nenhum exagero. Eu concordo plenamente e gostaria, se você me permitir, de salientar dois pontos:-

1- Xerxes conseguiu vencer Leônidas na passagem dos Portões de Fogo (Termópilas) porque um pastor de cabras mostrou a Xerxes uma passagem que permitiu aos Persas atacar os Espartanos pela retaguarda. Frente à frente, os Espartanos eram invencíveis. A resistência de 300 guerreiros frente a 2 milhões de soldados persas durante 7 dias, mostra isto. Não existe prova mais contundente.
O rei persa, com esta vitória, que chamarei de vitória de Pirro, passou a imaginar que todo grego era um traidor e disto se valeu o brilhante general ateniense, Temístocles, que colocou um falso informante na corte de Xerxes.
O dono do mundo, rei de todos os Persas, senhor absoluto de toda a verdade e justiça, passou a acreditar em tudo o que aquele informante, plantado pelo general grego em sua corte, dizia e, mais uma vez, dividiu a sua frota que já tinha sido dividida quando da saída de Dardanelos e que foi destruída por uma tempestade. Então, Temístocles, com a nova divisão sugerida pelo informante, enfrentou apenas 1/4 dos navios persas, e além disso, para tornar mais real a sua fraqueza militar, fingiu esconder sua frota onde não havia espaço para grandes manobras marítimas e o rei persa acreditou novamente no informante e ordenou que seu almirante atacasse pelos dois lados da ilha, pensando que iria massacrar os gregos como nas Termópilas e que no final do dia teria a vitória.
Do alto de uma colina, o rei Persa, senhor do mundo, assistiu aterrorizado ao desaparecimento de sua frota naval afundada pelos esporões dos trirremes gregos e viu os seus soldados serem mortos pelas flechas, pelas lanças e pelo mar grego.

Tinha ainda mais um detalhe que Temístocles armou para o Rei. Sabendo que os Persas atravessaram Dardanelos em uma ponte de navios (Helesponto), colocou o mestre de seus filhos junto a Xerxes para lhe dizer que Temístocles estava seguindo para destruir o restante da frota e impedir a volta dos Persas à Mesopotâmia.
Xerxes, acreditando nesta informação, devido ao alto cargo ocupado pelo informante entre os Gregos, bateu em retirada com seu exército de terra e o que ficou daquele exército de 2,5 milhões de homens, foi derrotado no ano seguinte em mais duas memoráveis batalhas.
Vence a guerra quem possui as melhores informações e não necessariamente os maiores exércitos ou as melhores armas.

2- Quando foi travada a batalha de Salamina, em setembro 480 a.c., existia um garoto ateniense, membro de uma importante família, de aproximadamente 11 ou 12 anos, e que, se os persas tivessem vencido, teria sido morto na eliminação de todos os Atenienses, como queria Xerxes. Graças à vitoria dos Gregos em Salamina, aquele menino pôde crescer livre, aprendendo as artes da guerra, o valor da democracia, da honra, da virtude e da cultura grega. Viveu até o ano de 429 a.C., quando morreu vitimado pela tristeza e pela peste, talvez tifóide...
Durante o período em que aquele jovem, depois homem e depois velho, governou os Gregos, foi o mais esplêndido da civilização grega, tão importante que o século que ele viveu passou a ter o seu nome:- PÉRICLES.
A Acrópolis, obra de Péricles, continua até hoje a mostrar aos homens que existem homens perante cujos feitos até os deuses emudecem.
Um grande abraço do amigo,
Lúcio Flavio.

Fontes consultadas:
-aula do eminente Prof. Domingos Horta, proferida aos alunos do 4o.ano do Ginásio Santo Antônio, de SJDR, em 1957 e por mim assistida e guardada dentro das minhas mais fortes lembranças.

Prof. José Luiz Celeste (professor universitário, ex-professor da EAESP-Fundação Getúlio Vargas, ensaísta, tradutor e pesquisador) disse...

Braga: lembrei-me um pouco mais acerca do "complexo" de que falei... O autor, Alfred Weber, chama de "COMPLEXO MÁGICO". Consta entre os complexos de Jung, quer dizer, não foi o Alfred que inventou. Celeste.

José Luiz Alqueres disse...

Prezado Braga,

Esses temas gregos são do meu grande gosto e costumava discuti-los com o querido John Parsons, recentemente falecido.

Os textos que você escreve, como os de Santorini por exemplo, alimentaram boas conversas nossas, cujas lembranças me são muito caras.

Dentre os muitos livros sobre o assunto que li destaco as Guerras Medo-Persas do Peter Green, textos bem pesquisados e interessantes e que provavelmente você conhece.

Talvez a mais significativa das correções às narrativas antigas é a que se refere à quantidade de embarcações e soldados (milhares e não milhões), o que em nada tira o mérito dos Gregos de manterem os Asiáticos do lado de lá (como antes de Xerxes fizeram com os Troianos e, depois, com os Turcos que resistiram até 1453).

Mas a importância e a vibração deste feito histórico você consegue transmitir muito bem na sua tradução.

Estive naqueles locais (e, cá entre nós, este Xerxes devia enxergar muito bem para querer controlar a batalha àquela distância!)

Abraço e muito obrigado
J Luiz

José Carlos Hernandez Prieto (tradutor, escritor, articulista, membro do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Muito interessante. Somos o que somos pelos eventos que nos antecederam. Ás vezes, os cronistas antigos deixavam-se levar pelo exagero e aumentavam exponencialmente o número de combatentes nas batalhas. Vemos isso, por exemplo, nas crônicas medievais que narram as batalhas entre mouros e cristãos na península ibérica (a Reconquista também foi fundamental para que hoje, filhos da Ibéria, sejamos o que somos. Não fora ela, hoje seríamos muçulmanos). Na narrativa de Salamina, também há exageros quando falam de quatrocentos mil ou dois milhões de soldados na linha de frente. Deveriam ter então dez milhões na intendência, apoio logístico, linhas de abastecimento, etc. Não é crível, numa época que as cidades-estado contavam quando muito setenta, oitenta mil pessoas, entre homens, mulheres, crianças e velhos.

Grande abraço e, mais uma vez, obrigado pela aula de história.

Francisco José dos Santos Braga (gerente do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@ leitor(a),
Dra. Merania de Oliveira da Academia Marianense de Letras enviou-me, a título de colaboração, a sinopse, feita por Maria Júlia Ferraz, de um livro de Victor Davis Hanson, intitulado "Porque o Ocidente Venceu", da Editora Ediouro, 703 páginas.
Cf. a íntegra dessa sinopse in http://www.midiaamais.com.br/?c=ver_noticia&codigo_noticia=1096
De acordo com Ferraz, "Hanson analisa os motivos que levaram o Ocidente a superar outros exércitos numericamente superiores ao longo da história. E, através dessa análise, destaca os grandes valores ocidentais que, ao lado da tecnologia e de armas superiores, fizeram da cultura ocidental uma cultura muito superior a de seus inimigos, tanto na guerra, como na paz.
Victor Hanson escreveu mais que uma simples análise das estratégias militares e de recursos bélicos do Ocidente, ele conseguiu analisar a estrutura que tornou o desenvolvimento do Ocidente em um diferencial. Ou seja, em cada uma das batalhas analisadas, demonstra como o governo, a economia de mercado, a estrutura política, o desenvolvimento tecnológico, a ideia de liberdade tiveram sérias consequências na defesa do individualismo, no desenvolvimento tecnológico e para a história ocidental."
A primeira parte do livro, denominada Criação pelo autor, "abrange as batalhas da antiguidade clássica, como Salamina, em que gregos guerrearam contra os persas (480 a.C); Gaugamela, onde os macedônios conquistaram os persas (331 a.C) e Cana, em que os romanos lutaram contra os cartagineses (216 a.C)." Ao todo, o livro analisa 9 grandes batalhas.
Nesta parte (Criação), em que são analisadas 3 batalhas da Antiguidade clássica, "é demonstrado como os conceitos de individualismo e liberdade amplamente difundidos na Grécia Antiga fizeram diferença para os hoplitas que defenderam sua pátria contra um exército de escravos. Hanson tem a percepção que falta a muitos historiadores ao perceber que, além da disciplina, os soldados gregos tinham em si a busca pela liberdade. Não essa liberdade que muitas vezes é usada apenas como discurso ideológico, mas a liberdade prática, que evitaria que suas mulheres e seus filhos se tornasse escravos para o Império Persa.
Dessa maneira, é em cima da ânsia pela eleutheria (liberdade), pelos valores políticos caros ao cidadão grego que o genial Temístocles elabora sua estratégia naquela que seria uma das mais sangrentas e fascinantes batalhas navais de todos os tempos: a de Salamina, entre gregos e persas.
A guerra para os gregos tem valor político e cultural, além da questão militar. Para os persas, não há motivação e sim coerção intensa dos generais, além da carga tributária. Nesse aspecto há um traço comum entre persas, otomanos e astecas: eles são uma imensa sociedade dividida em milhões de habitantes, governados por autocratas e coagidos por generais.
Em Salamina ou em Midway, centenas de séculos depois, a luta pela manutenção cultural, pelos valores cultivados, possuem um individualismo que torna-se uma máquina de guerra conjunta.
No caso da batalha que tingiu de vermelho o mar dos Estreitos de Salamina, tão bem narrada por Heródoto, a base racional e humanista obrigava aos líderes ouvir seus oficiais. (...)
A batalha naval liderada por Temístocles não foi a única para libertar os gregos da ânsia de dominação dos persas. Mas, foi a decisiva. Não teria sido possível a vitória em Mícale, sem Salamina e Plateia. Foi a estratégia grega, aliada aos valores descritos que venceram o imenso e, numericamente, superior exército persa. Ou seja, Salamina é a prova de que povos livres lutam melhor que os escravizados, ainda que essa escravidão seja intelectual."
Sendo o que interessa ao leitor do presente artigo do Blog do Braga, fico com um forte abraço.
Cordialmente,
Francisco José dos Santos Braga

Pe. Wolfgang Gruen, SDB (professor de Cultura Religiosa e Língua e Literatura Inglesa na FDB-Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras) disse...

Primeiramente, devo agradecer as excelentes pesquisas que me tem enviado, e que sempre leio com interesse, especialmente quando abordam temas ligados a S. João del-Rei e à Grécia Antiga, sua língua, literatura e cultura. Estudei um pouco de romaico quando de meu curso de Teologia (1950-1953): entre os pedreiros que trabalhavam na construção de um novo prédio, havia dois gregos analfabetos – em grego e em português (de grego só sabiam o alfabeto e escrever o próprio nome). Como eles moravam na área da construção, todas as noites eu ia lá para alfabetizá-los, em romaico e em português; e eles me ensinavam um pouco de romaico: meia hora cada. Claro que saí perdendo, pois eu dedicava mais tempo a eles; mas valeu para eu ter ao menos uma ideia das mudanças. Depois, consegui um livrinho de conversação (romaico-italiano).
Um forte abraço do amigo
Gruen

Dr. Lúcio Flávio Baioneta (escritor, conferencista, proprietário da Análise Comercial Ltda em Belo Horizonte e colaborador do Blog de São João del-Rei) disse...

Meu prezado amigo FJSBraga,
procurei em minha memória onde eu me encontrava em dezembro de 1967.
Morava em Curitiba PR, onde, abandonando minha profissão de engenheiro civil, dava os primeiros passos no também incipiente mercado de capitais.
Tenho comigo a mesma crença de Guimarães Rosa, que magistralmente escreveu:- "os grandes mortos não morrem nunca, eles ficam encantados".
Meus mestres, eternos mestres, não morreram, ficaram encantados.
Lembro-me claramente do Prof. Domingos Horta. De seu vestir impecável, de como tirava do bolso interno do paletó uma caneta Parker 51, cinza; em seguida abria o diário de classe e iniciava a chamada.
Finda aquela tarefa, pedia por favor, a um aluno que limpasse o quadro negro, que era verde, assoprava o giz, abotoava o paletó e iniciava a aula como se fosse nos ensinar uma oração.
Sou capaz de repetir, em detalhes a sua aula sobre Leônidas, rei de Esparta e seus 300 soldados que morreram nas Termópilas, para que o mundo pudesse ser livre. Uma oração aos princípios da liberdade dos povos. Falava da Tessália como se fosse o jardim de sua casa. Cantava odes a Péricles. Sou capaz de desenhar a posição da frota grega e dos persas na épica batalha de Salamina.
"Mestre não é quem ensina, mas quem,de repente aprende", dizia o Rosa.
Os ensinamentos que ele e outros brilhantes professores do Ginásio Santo Antônio me entregaram, acompanharam-me pela vida toda, e, agora quando os meus cabelos se tornaram alvacentos, vejo-os nas madrugadas insones. Continuam me ensinando.
Passaram-se 60 anos. Foi ontem.
Parabéns pelo excelente artigo de Abgar sobre Domingos Horta. Li e chorei.
Abraços do
Lucio Flavio