sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

HOMENAGEM PÓSTUMA A MEU MELHOR AMIGO, PROF. DR. JACOB ANCELEVICZ


Por Francisco José dos Santos Braga




Sei muito pouco de seus ancestrais. De seu pai Ruwin e de sua mãe Schulamit, ouvi-os dizer que eram naturais de Vilno (ou Vilnius ou Wilno) e se consideravam judeus polacos, sendo falantes do iídiche. Durante as Grandes Guerras, percebendo a iminência do perigo alemão e russo,  o casal decidiu emigrar-se inicialmente para Israel (cidade de Hadera, onde nasceram seus três filhos, Jacob, Yoaav e Mordechai), depois para Londres e, finalmente, para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo. 
 
Da esq. p/ direita: Ruwin, Jacob, Mordechai, Schulamit e Yoaav 
antes de chegarem ao Brasil, provavelmente em Londres

Chegaram ao porto de Santos em 31 de março de 1964 a bordo de um navio. Em São Paulo, o Sr. Ruwin pôde aplicar seus conhecimentos técnicos de construtor civil, morando inicialmente num hotel. Quando a família Vicunha construiu para si o prédio da Avenida Angélica, 696, Sr. Ruwin foi o primeiro a conseguir adquirir um dos apartamentos no 3º andar, por desistência de um diretor. Consta que o casal Ancelevicz solicitou naturalização brasileira, tendo o Ministério da Justiça se manifestado através de portaria nº 17.143/68. ¹

Família Ancelevicz Da esq. p/ dir.: Yoaav, Dª Schulamit, Jacob, Mordechai e Ruwin

Jacob Ancelevicz
Da esq. p/ dir.: Jacob, Dª Schulamit, Mordechai e Yoaav

Como chegaram ao Brasil após o início do ano letivo, Sr. Ruwin decidiu contratar uma professora particular para ensinar a seus filhos a língua portuguesa.  No ano seguinte, matriculou seus filhos no Colégio Rio Branco, cujo diretor era o Prof. Antônio Delorenzo Neto, que iria tornar-se o grande benfeitor de Jacob por toda a sua vida.
Jacob Ancelevicz como aluno do Curso Clássico do Colégio Rio Branco
Jacob como aluno de curso intensivo na USP
Na ocasião que travamos conhecimento, Sr. Ruwin e seu filho Mordechai construíam casas em São Roque-SP. Conheci todos os cinco Ancelevicz em São Paulo em 1976 e pude saborear alguns pratos típicos judeus, divinamente preparados pelas mãos abençoadas de Dª Schulamit, em especial o bolinho de peixe (gefilte fish), o pão sem fermento (matzah), a sopa de beterraba (borscht), o pão redondo (bêigale), a sopa judaica (kneidale que utiliza o caldo de galinha como ingrediente), biscoito com recheio (oznei chaman), etc. Fui acolhido pela família judaica, residente no bairro Higienópolis, com meu enorme apetite e não pequena curiosidade. Aprendi algumas expressões tradicionais dos judeus, como chag samêach (feliz festa!), le chaim (saúde!, literalmente À vida!), mazel tov (boa sorte!), kaballah, Baruch atah Adonai (Bendito sejas, Deus), mitzvah (mandamento), bar mitzvah (festa para o menino adolescente), kosher ou kasher (termo que faz referência aos alimentos adequados ou permitidos pelas leis alimentares do judaísmo), yeshivah (nome genérico para qualquer escola que ensine Torá, Mishná e Talmud), knesset (sinagoga), sêfer (livro), kipah (solidéu, chapéu de cobertura), etc. Além disso, entrei em contato com as principais festas judaicas, como o pêssach (páscoa), rosh hashanah (ano novo), shabat (sábado), purim (festa do sorteio), iom kipur (dia do perdão), sukot (festa das cabanas ou dos tabernáculos), chanukah (festa do candelabro de 9 velas ou menorá), shavuot (festa das colheitas ou das primícias), kibutz, shalom, etc. Devido à minha curiosidade, conquistei logo o coração dessa bondosa família, especialmente de Dª Schulamit. Privei da intimidade dessa família exemplar até meados de 1980, quando fui aprovado no concurso para Agente Fiscal do Tesouro Nacional, abandonando São Paulo e viajando para Brasília, onde me submeti a um curso intensivo na ESAF-Escola de Administração Financeira do Ministério da Fazenda, durante seis meses. Dª Schulamit não viveu por muito mais tempo, vindo então a falecer, deixando saudades no coração de todos que a conhecíamos e estimávamos. 

No início de 1990, tive o prazer de conhecer Israel na companhia de Prof. Jacob e de seu sobrinho Lior. O nosso voo fez escala em New York após o Natal de 1989, onde passamos uma agradável semana em elegante apartamento do pai de seu amigo Elias num ponto central da cidade, que nos acolheu com grande simpatia e cordialidade. Foram dias inesquecíveis os passados em Tel Aviv, Hadera, Haifa, Yaffo, Petach Tikva, Jerusalém (onde residia uma sua tia, que nos hospedou por 15 dias e era assistente de mikveh ou mikvah, um tradicional rito judaico de purificação em piscina para mulheres casadas), deserto de Neguev, Cesareia, Jericó, Massada e Mar Morto, rio Jordão, Eilat, Tibérias e kibutz Brochail. Daí resultou minha admiração pelo povo israelense e meu amor pelo hebraico.
Prof. Jacob em alguma localidade de Israel

Em 1976, o chefe do COFINCO (hoje CFC)-Departamento de Contabilidade, Finanças e Controle da EAESP-FGV, Prof. Antônio Luiz de Campos Gurgel, convidou alguns alunos do Mestrado em Administração a lecionarem a disciplina de Contabilidade Básica para o curso de graduação em Administração de Empresas e Administração Pública, na condição de professores horistas. Entre vários candidatos, foram selecionados quatro mestrandos: Moisés Skitnevsky (então funcionário da Sharpe, atual presidente da Seal Sistemas e Tecnologia de Informação Ltda.), Oscar Malvessi (professor que fez carreira na FGV, além de consultor empresarial e escritor), Nilton Gomes Paz (então funcionário do Metrô de São Paulo, atualmente proprietário de uma empresa de plásticos em Tubarão-SC) e eu. O Professor Titular do COFINCO, Prof.  Dr. Jacob Ancelevicz, foi designado para nos assessorar como orientador pedagógico em nossa tarefa de ministrar a referida disciplina para alunos iniciantes. Algumas características desse professor eram prontamente percebidas: sua prodigiosa inteligência, capacidade gerencial e consultiva, competência pedagógica, facilidade de se relacionar com colegas e alunos, além de sua extraordinária paciência e grande simpatia pessoal. A par disso, exibia um sotaque muito esquisito, para quem a língua materna era o hebraico, talvez um pouco contaminado pelas línguas iídiche, russa e polonesa. Foi assim que entrei em contato com aquele que marcaria minha vida daí por diante de diversas formas, especialmente apresentando-me à sua família e estabelecendo comigo uma relação de amizade que se estendeu por quase quarenta anos.
Jacob Ancelevicz nos seus áureos tempos

Prof. Jacob cursou a sua graduação em Ciências Econômicas (1965-9) na FEAO-Faculdade Municipal de Ciências Econômicas e Administrativas de Osasco, criada pelo Prof. Antônio Delorenzo Neto, o qual foi o seu primeiro diretor. Dizia-me que era uma ótima faculdade, patrocinada pela Prefeitura Municipal de Osasco, cujo corpo docente era da USP. Consta também que, durante os anos de 1970 e 1971, Jacob se especializou em Administração de Empresas na FGV, como bolsista da CAPES-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. No ano de 1976, Jacob era um prestigiado professor titular da FGV  conforme disse  que tinha ingressado no Departamento com o beneplácito do Prof. Wladimir Antônio Puggina (professor de disciplinas superiores relativas ao Mercado de Capitais e que o entusiasmara a cursar o programa de Mestrado em Administração de Empresas na FGV, de 1972 a 1974, sendo o orientador de sua monografia de Mestrado intitulada "Relevância dos Dividendos"). Ao mesmo tempo, Jacob tinha sido também aprovado para professor de carreira da USP, cargo que foi impedido de exercer porque a FGV na ocasião exigia dedicação exclusiva (exceção feita ao Prof. Heinrich Rattner que serviu as duas instituições de ensino superior). Acompanhei o dilema de Prof. Jacob na escolha da universidade que melhor atenderia seus interesses, decidindo-se finalmente pela FGV. 

Reproduzo abaixo um breve resumo das atividades de Prof. Jacob, como integrante do corpo docente e pesquisador do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA da USP, extraído da p. 164 do livro "História da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (1946-1981), Volume Dois: Personália, em especial o constante do item II.1:





Por essa decisão, Prof. Jacob deixou de trabalhar no Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA da USP, abrindo mão de ter muitos de seus projetos e livros aprovados pela FIPECAFI-Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras; afinal, o nome do Prof. Jacob Ancelevicz é mencionado como um dos instituidores da FIPECAFI em 1974. ² Em compensação, ao optar por integrar o quadro de professores e pesquisadores da EAESP-FGV, o Prof. Jacob teve o privilégio de trabalhar ao lado de grandes conhecedores de mercado de capitais, tais como os professores Wladimir Antônio Puggina, Milton Huppert Monte Carmelo e Mário Sérgio Cardim Neto.

Jacob gabava-se de sua excelente amizade com o Prof. da USP, Sérgio de Iudícibus, consagrado autor de livros como "Contabilidade Introdutória" e, mais tarde, "Contabilidade Gerencial", além de coordenador do "Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações", todos lançados pela Editora Atlas; mencionava inclusive que Iudícibus participara da banca de aprovação de sua monografia  de Doutorado em Administração, intitulada "Política de Dividendos", pela FEAO-Faculdade Municipal de Ciências Econômicas e Administrativas de Osasco (1975), a mesma escola onde cursou a sua graduação em Ciências Econômicas (1965-9). 

Para exemplificar o fato de não ser unilateral essa amizade entre os dois ilustres professores, o currículo Lattes do Prof. Sérgio de Iudícibus menciona Prof. Jacob ³ como integrante de banca da qual participava também como jurado.  Em 2003, por exemplo, certamente a convite do Prof. Iudícibus, ambos julgaram a monografia intitulada "Uma Análise Societária das Empresas de Capital Aberto no Setor Imobiliário" ou ainda, no mesmo ano, julgaram a monografia "Contribuição para a escolha de um Sistema de Custos em Instituições de Ensino Superior Privado", ambas defendidas por mestrandos da PUC-SP. 

Outra personalidade, com quem Jacob se orgulhava de manter ótimas relações, era Prof. Antônio Delorenzo Neto, prestigiado diretor da Faculdade de Sociologia e Política da USP em duas gestões e diretor do Instituto de Estudos Municipais, o qual escrevera livros como "Sociologia Aplicada à Administração", "Sociologia Aplicada à Educação", "A Grande São Paulo e a Mudança da Capital", etc. Contam que Prof. Delorenzo, aos 30 anos de idade, ganhou uma bolsa de estudos do governo francês para cursar Pós-Gradução em Direito Internacional na Universidade de Paris. Na época foi convidado pelos  seus mestres a participar de um congresso de Municípios em Haya (Holanda), sendo o referido congresso presidido pela Rainha Juliana, cuja realização coincidiu com o centenário de Rui Barbosa, o "Águia de Haya". Consta que Prof. Delorenzo foi convidado a sentar-se na cadeira do grande jurista brasileiro, em cuja homenagem discursou em francês. Quanto a Prof. Jacob, ele fora acolhido pelo grupo do Prof. Delorenzo e alardeava com muito orgulho suas novas amizades.

Prof. Jacob é agraciado com o anel de doutor pelo diretor/paraninfo Prof. Delorenzo, em 1975
Prof. Jacob, sendo entronizado doutor pelo diretor/paraninfo Prof. Delorenzo, em 1975
Outro traço marcante do Prof. Jacob é que ele possuía, em seu apartamento na Av. Angélica, um portfólio recheado de Letras de Câmbio de diversas empresas, possibilitando que seus amigos mais chegados   da FGV, principalmente Prof. Nilton e eu   tirássemos igualmente proveito de vantagens oferecidas por seus investimentos, o que fazíamos com certa frequência. Ele costumava repassar alguns desses títulos de crédito com certo prazo já transcorrido, quando tínhamos algum excedente de caixa, passando para nós sua parcela de lucro garantido até o vencimento.

De 1977 em diante, Jacob passou a fazer resenhas de livros na área financeira para a RAE-Revista de Administração de Empresas da FGV.  De acordo com a relação de artigos da autoria desse colaborador, posso mencionar que, em 1977, Jacob fez a resenha do livro de Jack Clark Francis, em artigo intitulado "Investments: Analysis and Management", o mesmo nome do livro daquele autor, de 1976. Em 1979, em artigo intitulado "Investments", Jacob apresenta a resenha de um livro do mesmo nome, de 1978, por William F. Sharpe, que, em 1970, já tinha surpreendido o mundo acadêmico com o livro "Portfolio theory and capital markets". Sirvo-me desses dois exemplos para mostrar a contribuição de Jacob para a Academia na área de mercado de capitais e análise de investimentos, evidência de que ele se mantinha plenamente atualizado nas disciplinas de sua especialização. Na relação da RAE acima, Jacob foi colaborador ativo até o ano de 2000, ficando ausente após 2000 e durante quase toda a década de 90, embora em 1999 tenha publicado na RAE um artigo de 98 páginas, pelo NPP-Núcleo de Pesquisa e Publicações da FGV, como resultado do Relatório de Pesquisa 32/1997, intitulado "A Utilização do Sistema de Custos ABC no Brasil", em co-autoria com seu orientado Carlos Yorghi Khoury. Em 2000, escreveu, em co-autoria com Khoury, "Controvérsias Acerca do Sistema de Custos ABC", artigo publicado na RAE, jan/mar 2000 . Cabe mencionar que, em co-autoria com Khoury, Jacob produziu outros trabalhos acadêmicos.

Prof. Jacob na época da apresentação de sua pesquisa ao NPP

Em 1976-7, fiz sozinho a tradução da 2ª edição (de 1976) de Principles of Financial Management (Princípios de Administração Financeira), por Lawrence J. Gitman para a editora, sediada em São Paulo, Harper & Row do Brasil, livro lançado apenas em 1978 e que teve ótima aceitação entre os professores de Administração Financeira de todo o país. Além de eu ser o autor de praticamente todas as notas de rodapé do livro, ainda inovei produzindo um Apêndice de minha lavra para o 2º capítulo do livro denominado O Ambiente Legal, Operacional e Fiscal da Empresa. Prof. Ivan Pinto Dias, em resenha intitulada "Princípios de Administração Financeira", finaliza seus abalizados comentários da seguinte forma:  
"A qualidade da tradução, além da ótima impressão gráfica, com tabelas e gráficos fáceis de serem visualizados, e do fato de o(s) tradutor(es), em vários capítulos iniciais  principalmente aqueles relacionados com a terceira parte "A administração de capital de giro"  ter(em) colocado em notas de rodapé algumas das novidades introduzidas pela Lei nº 6.404 de 15.12.76 [Lei das Sociedades por Ações] e pelo Decreto-lei nº 1.598 de 26.12.77 [Altera a Legislação do Imposto sobre a Renda], faz(em) com que o livro de Gitman seja recomendado a todos aqueles que desejam iniciar-se no campo de administração financeira.   
Observem que assinalei entre parênteses o que não corresponde à realidade: o tradutor foi apenas um e é o autor desta matéria. A revisão técnica da minha tradução, oferecida ao Prof. Dr. João Carlos Hopp, conforme fui informado pela Editora, teve apenas razões mercadológicas e honoríficas, já que o dito professor da FGV era bastante conhecido no mundo acadêmico, contribuindo enormemente para a divulgação do livro.

Além disso, fiz sozinho também a tradução de inúmeros capítulos do livro Practical Controllership (Controladoria Prática), por David Anderson, Leo Schmidt e Andrew McCosh, que apareceram como material didático da FGV. Quando Jacob e eu tentamos negociar a tradução de todo o livro com a Editora Atlas, de São Paulo, não tivemos sorte.

Nesta ocasião, Prof. Jacob criou e organizou um curso que abrangia simultaneamente mercado de capitais e mercado financeiro para seus amigos da Prefeitura de São Roque-SP e das firmas lá sediadas. Os instrutores daquele curso eram operadores do mercado financeiro e corretores da bolsa de valores, bem como funcionários especialistas do mercado de capitais em São Paulo. Prof. Jacob e eu saíamos no fim da tarde acompanhados do especialista que falaria sobre o tema programado para a data e dirigíamo-nos até São Roque. Certamente procurando reduzir os custos que tinha, ele buscava o palestrante à porta de seu escritório e o trazia à sua residência ao final da palestra. Prof. Jacob tinha já antecipadamente reservado um salão para essas brilhantes apresentações, sempre bem avaliadas e inesquecíveis. Recordo-me ter presenciado plena satisfação por parte dos alunos inscritos naquele curso. Não me lembro se, ao final do curso, os que dele participaram fizeram juz a um certificado ou diploma. Imagino que sim.

Entusiasmados com a ótima repercussão que teve a segunda edição do livro Princípios de Administração Financeira de  Gitman no meio acadêmico, Jacob e eu dispusemo-nos a traduzir diversos livros na área financeira. Inicialmente, a Editora Saraiva apostou no lançamento de um livro nosso como co-autores. Para ela escrevemos, como tais, o livro Contabilidade Básica: um Estudo Programado, lançado em janeiro de 1980 que tinha como característica especial ser um livro-texto de contabilidade utilizando o método de estudo programado de maneira inovadora, já que o aluno devia primeiro preencher as informações solicitadas e, só então, conferir as informações corretas, colocando um filtro de acrílico sobre a trama colorida. Esse livro foi escrito em 1979 dentro de um mês na sala de meu apartamento na Alameda Franca, que foi o tempo que Jacob dispunha entre suas diversas ocupações. Por outro lado, a Editora Saraiva-SP lançou em 1980 o livro Casos em Administração Financeira, por Lawrence J. Gitman, Timothy Jonhson e Ross Flaherty, em nossa tradução. Ainda no mesmo ano, a Editora Interamericana-RJ lançou o livro Casos em Administração Financeira - Segunda Edição, por Eugene Brigham, Timothy Nantell e Richard Pettway, traduzido por nós. A mesma editora lançou um novo trabalho de tradução nosso: os livros Contabilidade de Custos-Exercícios e Contabilidade de Custos-Texto, da autoria de David H. Li, respectivamente nos anos de 1980 e 1981. Em 1984, a Harper & Row do Brasil nos contratou como tradutores do livro Princípios de Administração Financeira-Terceira Edição de Lawrence J. Gitman, que ganhou enorme notoriedade (vide imagem abaixo). Fizemos ainda para a Editora Interamericana-RJ a tradução da 7ª edição de Managerial Finance, por Fred Weston e Eugene Brigham, que não sei se foi lançada no Brasil. Ao fazer um retrospecto de nossa fase editorial, observo que Jacob, além de tradutor/parceiro muito disciplinado, era um professor  com grandes conhecimentos na área financeira e da língua inglesa. Ouso dizer que podemos, sem falsa modéstia, ser considerados como introdutores de uma moderna terminologia na área financeira, na língua portuguesa, tendo milhares de professores universitários utilizado nossas traduções modelares de livros-texto consagrados e em uso nas universidades norte-americanas e tendo outros tradutores da área financeira aproveitado nossa contribuição para suas novas edições dos mesmos livros ou de outros autores.

De nossa produção independente menciono apenas um livro: Contabilidade Básica-Exercícios editado em agosto de 1981.
Princípios de Administração Financeira-Terceira Edição, por Lawrence J. Giman
Tradução dos Professores Jacob Ancelevicz e Francisco José dos Santos Braga, 
São Paulo: Editora Harper & Row do Brasil, 1984, 781 p.

Mas não pretendo insistir neste ponto: o de termos sido possivelmente os primeiros no Brasil a divulgar uma moderna terminologia na área de finanças e de contabilidade de custos. O que recordo, neste momento, desolado, é o amigo.

Observe-se que na ocasião da publicação da 3ª edição de Princípios de Administração Financeira, por Lawrence J. Gitman, Prof. Jacob era chefe do NATAD-Núcleo de Assessoria Técnica e Administrativa da EAESP-FGV, ou seja, era um professor que priorizava sua vida acadêmica, extremamente valorizado por seu Departamento CFC.

Durante a minha estada no Departamento CFC, havia sempre a realização de Seminários internos de fim de ano para previsão de atividades da EAESP-FGV, normalmente num grande hotel sediado em Águas de Lindóia ou em Águas de São Pedro. Nesses Seminários era obrigatória a participação de professores titulares e de carreira, mas eventualmente eu era convidado a comparecer pelo Diretor Administrativo e de Benefícios, Sr. Reynaldo Magri, por quem nutria amizade e admiração. A respeito deste funcionário exemplar, comentava-se que o fundador da FGV, Luiz Simões Lopes,  depositava nele total confiança.
Da esq. p/ dir.: Professores Jacob Anceleviz, Victor Colella (autor do livro Auditoria: Controle Interno e Estoques) e o autor

Em 1980, Prof. Jacob venceu um concurso de monografia pela ABAMEC-Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais, pelo qual foi premiado. Provavelmente meu homenageado tenha concorrido com o artigo "Estágio da Análise de Investimento no Brasil", publicado na Revista da ABAMEC, São Paulo, nº 31, pp. 71-98, 1979. Posteriormente, de 21 a 23 de novembro de 1984, Prof. Jacob compareceu ao VII Congresso da ABAMEC, no Centro de Convenções de Brasília.
Prof. Jacob participando do VII Congresso da ABAMEC

De 1985 em diante, por cerca de dez anos, fizemos Jacob e eu várias viagens aos Estados Unidos. Nosso destino era normalmente o Estado da Flórida, com exceção de uma vez que fizemos escala em New York com destino a Israel e de outra vez que fomos a New York encontrar um seu primo, rabino ortodoxo que supervisionava açougues de carne kasher e que veio algumas vezes à América Latina, inclusive ao Brasil.  Costumávamos alugar um carro no aeroporto de Miami ou Orlando e percorríamos a Flórida ou subíamos em direção a Washington (onde certa vez assistimos à apresentação de uma cantata do compositor Leonard Bernstein, sob a sua regência, na escadaria do Capitólio no 4 de julho), New York e Boston. Nos Estados Unidos residiam vários parentes de meu amigo. Lembro-me especialmente de Leonard Zion , de sua esposa pianista Deborah e de sua filha Alana, que, se não me falha a memória, residiam em Providence, Rhode Island. Visitamos essa família algumas vezes e Leonard Zion teve a oportunidade de vir a São Paulo proferir uma palestra sobre assunto de sua especialidade a convite da EAESP-FGV, como professor visitante. Lembro-me ainda muito bem de Scott Daniels, seu primo, que residia em Tampa, Flórida, aonde íamos visitá-lo de carro. Lembro-me ainda de uma tia (provavelmente irmã de Leonard Zion) que residia num condomínio, também na Flórida, e que Jacob sempre visitava, quando passava férias nos Estados Unidos. Conforme se vê, meu amigo Jacob tinha muitos familiares nos Estados Unidos e em Jerusalém, diferentemente dos Ancelevicz que deram com os costados em São Paulo, ficando um pouco isolados e mostrando com tal decisão muita independência em relação ao restante da família.

Convém lembrar que Jacob foi excelente orientador de monografias e teses, de que se beneficiaram diversos alunos mestrandos e doutorandos. Temos que reconhecer que ele sabia como fazer parcerias importantes e permanentes, onde observamos sua habilidade inata de excelente negociador, desenvolvendo com seus parceiros laços de amizade duradouros e definitivos. É justo lembrar aqui alguns nomes que podem comprovar a veracidade dessas informações: Oldemar Santos Filho (1983-Mestrado), Oscar Malvessi (1983-Mestrado), Nelson Carlos Ribeiro (1994; Mestrado), José Francisco Calil (1991-2000; Doutorado), Peter Greiner (1995; Doutorado), Jean Jacques Salim (1995; Doutorado), Edson de Oliveira Pamplona (1997; Doutorado), Carlos Yorghi Khoury (1997; Doutorado), Marcus Canavarros Stephan (2000; Mestrado), Rodrigo Ramalho Dubeux (2001; Mestrado), Arlos Renato Bernardi (2005; Doutorado) e muitos outros, conforme se pode localizar na Internet e ler no currículo Lattes do Prof. Dr. Jacob Ancelevicz.

Prof. Jacob foi também catedrático em outras instituições de ensino superior, a saber: professor titular do Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo do Campo e professor convidado sem vínculo da UNIMEP-Universidade Metodista de Piracicaba, na época em que a Profª Maria Antônia Fioravanti, uma das orientadas pelo Prof. Jacob em Mestrado, coordenava o curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Gestão Financeira.

Em 1995, Prof. Jacob obteve, junto à Universidade da Carolina do Sul (College of Business Administration), um Prêmio de Realização Acadêmica em reconhecimento da excelência com que se houve quando participou do Programa do FDIB-Faculty Development in International Business (Desenvolvimento de Corpo Docente em Negócio Internacional).




Nos últimos anos, juntamente com sua aposentadoria da Fundação Getúlio Vargas, Prof. Jacob teve uma especial alegria ao constituir uma empresa com o nome fantasia Revestir Revestindo Couros, com showroom na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 248, em sociedade com sua esposa, procuradora do Estado de São Paulo, Scarlet Andrade Buchalla. Iniciava-se então a sua fase de indivíduo empresário em 15 de setembro de 2005, data da abertura da firma. Na direção da empresa, Jacob cuidava de tudo: administrava, gerenciava compras, preparava orçamentos, sendo muito querido no meio dos arquitetos. Scarlet cuidava do desenvolvimento dos produtos no ramo desse mercado de luxo. Cada produto tinha a característica de ser artesanal, ou seja, único. O casal orgulhava-se de executar projetos sob encomenda e com exclusividade: o serviço da empresa abrangia desde o revestimento de uma maçaneta até o de paredes e tetos. 

E foi na labuta diária que Prof. Jacob sofreu um acidente dentro de sua empresa, ao cair do alto de uma escada. Esse acidente lhe foi fatal. Prof. Jacob "ficou encantado" em 3 de dezembro de 2015, deixando-nos órfãos de sua alegria contagiante e de seu otimismo persistente. "A gente não morre. Fica encantado" foi a feliz expressão de Guimarães Rosa recitada no seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras. Como o escritor mineiro, que, três dias depois do famoso discurso, faleceu para espanto de todos os seus leitores,  premonição ou profecia? , Prof. Jacob igualmente nos surpreendeu a todos quando partiu assim, sem dar adeus a tantos quantos o amávamos e o admirávamos como ser humano digno, correto e leal. Estávamos tão acostumados com a sua força interior descomunal que não percebemos quão frágil era sua anatomia humana. Alguns dirão que ele partiu cedo demais. Não para Deus que entendeu que Prof. Jacob já tinha realizado tudo o que anelava e cumprido suas diversas missões nesta vida.

Da esq. p/ dir. (ano 2002): Dr. Cláudio Haddad, o autor, 
Oldemar Santos Filho e Jacob
Da esq. p/ dir. (num aniversário do homenageado): 
Jacob, Dr. Cláudio Haddad e o autor

É muito difícil, nesta hora, deixar de lembrar algumas gentilezas de que fui alvo por parte do Prof. Jacob. Como poderia esquecer-me de sua hospitalidade quando me hospedou no período pós-cirúrgico de um tratamento ortodôntico?! Acaso seria possível esquecer-me de sua  assistência e apoio psicológicos a mim dispensados, quando do acidente automobilístico que envolveu o meu veículo Escort com uma Variant, ocorrido na primeira quinzena de dezembro de 1994 num trevo de Pirassununga-SP, próximo à Cachoeira das Emas, o que o levou a abandonar seus afazeres na capital e dirigir-se com a maior boa vontade ao local da avaria, auxiliando-me no acordo com o outro motorista envolvido no acidente? Também não poderia silenciar-me sobre o empenho do Prof. Jacob em favorecer-me, durante nossa viagem à Grécia em 2000, quando insistiu e conseguiu que enviassem da EAESP-FGV à Universidade Aristotélica de Salônica um fax atestando minha conclusão do curso de Mestrado em Administração com proficiência e aprovação de monografia em 1983, para que eu pudesse cursar um Seminário para Assessores da União Europeia, oferecido pela Escola de Grego Moderno da referida universidade grega; ao reconhecer que o curso era importante para mim, sabia que automaticamente a minha frequência ao curso levaria à interrupção de nossa viagem  de turismo à ilha de Creta; o resultado foi que realmente privei o casal Scarlet e Jacob da minha companhia no restante da viagem. E lá se foram Scarlet e seu "παππούλης" ou papúlis (diminutivo de papús ou "παππούς"=vovô) para a ilha de Creta. Como calar-me diante de sua disponibilidade em buscar minha saudosa mãe Celina dos Santos Braga na estação rodoviária do Tietê, nas madrugadas frias, na minha companhia, para que ela pudesse submeter-se a sessões de acupuntura na Pauliceia? São muitíssimos os motivos para me emocionar diante de tantos mimos recebidos. 
 
Em uma de nossas viagens, em algum aeroporto do mundo


Talvez eu tenha tido a oportunidade de retribuir-lhe, dentro de minhas modestas possibilidades, um pouco, à minha maneira, ao acompanhar o meu saudoso amigo aos Estados Unidos por diversas vezes e uma única vez a Israel e, em 2000, sendo guia do casal amigo em nossa viagem à Grécia. Inesquecível e digno de registro, nesta última viagem turística, foi o convite para uma lauta refeição que recebemos do Sr. Theodore Kopolo Sotírios, um vizinho muito querido do casal em São Paulo, a fim de degustarmos variadas iguarias da culinária grega num dos mais prestigiados restaurantes do porto de Piréus.

Em uma de nossas idas aos Estados Unidos

Como eu sei quão difícil é trabalhar em grupo, motivar, incentivar e entusiasmar uma equipe focada no mesmo objetivo, queria aqui reconhecer que Prof. Jacob foi muito eficiente em lidar com grupos e chegar a grandes realizações. Além de excelente professor e consultor em mercado de capitais, fez importantes pesquisas e, como já vimos anteriormente, orientou diversos alunos a fazerem suas monografias e teses de Mestrado e Doutoramento.  

Igualmente não pode ser esquecida sua capacidade de fazer amigos e influenciar pessoas com seu carisma pessoal, suas tiradas espontâneas e seus gestos francos. Por isso, quero aproveitar o ensejo para agradecer a todos os que o auxiliaram a realizar tudo o que deixou como legado e testemunho de sua enorme competência em todas as áreas em que atuou. Outro traço característico de Prof. Jacob era seu permanente e cativante sorriso que levava seu interlocutor a fazer tudo o que aquele lhe pedia (fosse sua secretária, seu faxineiro, seu colega, seu superior, um advogado, um arquiteto ou uma autoridade). Com isso quero dizer que Jacob Ancelevicz, um dos temperamentos mais gregários que conheci, tinha o dom de atrair e de fazer amigos, vivendo rodeado de pessoas. Muito prestativo,  apreciava quando algum amigo solicitava a sua colaboração. Alegre e comunicativo, seu sorriso era contagiante. 


Pedi à esposa do Prof. Jacob, Dra. Scarlet Andrade Buchalla, que desse seu depoimento a respeito da sua vida ao lado do meu saudoso amigo. Segundo ela, ambos se realizaram plenamente na vida conjugal. Relatou que ela foi a sua primeira namorada e o grande amor da sua vida, com quem ele viveu por 27 anos um intenso amor (de 1988 a 2015) e a quem ele se dedicou de corpo e alma como eterno namorado. Disse ainda que, com a sua chegada, Jacob amadureceu como homem, pois até então ele tinha se realizado intelectual e profissionalmente, mas faltava ainda encontrar alguém a quem se dedicasse e dispensasse seu amor. Verificou-se consequentemente um encaixe perfeito entre o casal com base na intelectualidade, havendo debate entre os dois enamorados, cada um deles afirmando a superioridade intelectual do parceiro. 

Em inúmeras ocasiões, testemunhei o crescimento desse amor: inicialmente, no primeiro encontro  do casal na Avenida Angélica; no namoro que se seguiu; na ida do casal a São João del-Rei, durante a Semana Santa de 1993, para assistir a um concerto de piano e trompa no Teatro Municipal, tendo na trompa Celso José Benedito e no piano o autor dessas notas; em uma viagem à Grécia em 2000 na minha companhia; nos encontros na casa de praia de Juqueí, onde o casal franqueava a entrada a todos os de seu círculo, principalmente aos seus colegas e amigos professores da FGV, transformando-a num verdadeiro clube; na comemoração do 62º aniversário de Jacob (em 10/07/2010), quando foi registrado o comparecimento de mais de 100 convidados e o aniversariante foi homenageado com declarações da parte de sua amada e músicas interpretadas pela cantora lírica Rute Pardini acompanhada ao piano por seu esposo, autor dessas notas. A respeito desse piano, quero aqui deixar registrada a enorme consideração de Scarlet, ao adquirir para execução deste pianista, um piano digital Yamaha modelo Clavinova, que animou inúmeros recitais, especialmente o que comemorou o citado aniversário de Jacob, em uma noite repleta de enlevo e declarações de amor do casal enamorado.

Scarlet e Prof. Jacob num momento de descontração
Segundo ela, o convívio de ambos foi marcado por muitas alegrias, pela sociabilidade e envolvimento com outras pessoas e seus muitos amigos, de jovens a idosos (Shoshanah, Zacarias, Salim, tia Elisa, D. Marcela, sua sogra Dª Mucha, etc.). Seu apartamento no quinto andar da Avenida Angélica, 580, acolhia amigos de diversos Estados da Federação, tais como eu próprio de Brasília, Heleno de Foz do Iguaçu, Antônio Mesquita e todo o grupo de São Luiz-MA, Arlete Andreazza do Rio Grande do Sul, etc. Também foi motivo de grandes alegrias para o casal o casarão que alugaram em Juqueí até 2007 para seu lazer e para acolher diversas famílias e pessoas amigas nos fins de semana. 

Em Juqueí: Prof. Jacob e Scarlet, e convidados Rute Pardini e este autor

Ela ainda relembrou que várias famílias de São Luiz-MA adotaram o casal, como se fosse de casa: Cibele Lauande, Dr. Maranhão, Mesquita, Calixto, Ilma, juiz Carlos Nina e juiz Carlos Nina. Quando o casal ingressou na escola do Viola, em São Paulo, encontrou um grupo que não se falava. Dentro de pouco tempo, conseguiu congregar grupos de pessoas dentro de um mesmo espaço, dando muitas provas de carinho e amizade entre ambos, em tempos de dança, música e festas

 
Rute, Jacob e o autor no antigo apartamento da Avenida Angélica, 580


 
Frases inesquecíveis de Prof. Jacob:
"A melhor cidade para mim é onde há poluição."
"Eu amo São Paulo. Em Brasília há muita corrupção."
"Menino, recolha-se à sua insignificância." (quando uma criança falta ao respeito para com seus pais)
"O comprador tem primazia, pode escolher e decidir com toda a calma; o estresse é de quem precisa vender."
"Não interessa." (diante dos problemas)
"Eu tenho você; você tem a mim. Nós dois juntos somos fortes." (declaração de amor a Scarlet, conforme esta, quando Jacob a cumulava de outros elogios, como "minha princesa", "minha bambina" e "meu amor".)

Réveillon de 2001: o autor e sua esposa Rute, Jacob  e sua esposa Scarlet




Foto  recente de Scarlet e Prof. Jacob (Natal de 2014)

 

I.  NOTAS  EXPLICATIVAS


¹ http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2990235/pg-7-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-07-08-1968

² Cf. http://www.fipecafi.org/downloads/biblioteca/livro-comemorativo-35-anos.pdf, p. 66

³ Cf. https://uspdigital.usp.br/tycho/CurriculoLattesMostrar?codpub=D7A0A998C96D

⁴  Cf.  http://rae.fgv.br/autor/jacob-ancelevicz

⁵   http://www.scielo.br/pdf/rae/v40n1/v40n1a07.pdf

⁶   Cf. http://www.scielo.br/pdf/rae/v19n2/v19n2a13.pdf

⁷  Fui informado que Leonard Zion faleceu em 2006, mas, alguns anos antes, publicou um emocionante livro de poemas: "Finding another voice: Moments of Wonder", quando padecia de um distúrbio conhecido como afasia (perda parcial ou total da fala). É possível a visualização desse seu livro, disponível na Internet:
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⁸  Cf. http://lattes.cnpq.br/7667975641875882



II.  AGRADECIMENTO


Agradeço à minha esposa Rute Pardini sua colaboração, pesquisando os nossos arquivos fotográficos e da Dra. Scarlet e eternizando em imagens aqui postadas as fotografias do saudoso Prof. Jacob, parceiro de inúmeras viagens e amigo certo das horas incertas. Agradeço-lhe ainda por ter-se disposto a prestar uma homenagem à memória de Jacob Ancelevicz, cantando o Lied de Schubert intitulado "Du bist die Ruh" (Vós Sois a Tranquilidade) na Missa de 7º Dia (09/12/2015), após a comunhão, na igreja do Imaculado Coração de Maria, no bairro de Santa Cecília, acompanhada ao piano pelo autor desta matéria.


 

29 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (escritor, pianista e compositor, gerente do Blog de São João del-Rei e do Blog do Braga) disse...

Acabo de publicar um elogio a meu amigo e ex-colega de trabalho, Prof. Jacob Ancelevicz, falecido em 03 de dezembro último, com quem convivi em estreita amizade desde 1976.
Amigo íntegro, cortês e leal, jamais o vi contemporizar diante das dificuldades da vida.
Prof. Jacob foi muito eficiente em lidar com grupos e chegar a grandes realizações. Além de excelente professor e consultor em mercado de capitais, fez importantes pesquisas e orientou diversos alunos a fazerem suas monografias e teses de Mestrado e Doutoramento. Igualmente não pode ser esquecida sua capacidade de fazer amigos e influenciar pessoas com seu carisma pessoal, suas tiradas espontâneas e seus gestos francos.
Abraço cordial,
Francisco Braga

Prof. José Luiz Celeste (escritor, latinista e ex-professor da EAESP- Fundação Getúlio Vargas) disse...

Olá, Braga:
No dia seguinte ao falecimento de nosso amigo, cheguei ao local do velório às 16:25H, a 5 minutos do momento de fecharem o caixão. Dei meus pêsames a Scarlet, que estava inconsolável, abraçada com o Jacob. Este no esquife, rejuvenescido pela morte. Logo vieram umas moças, que cobriram o caixão com sua tampa. Scarlet já tinha deixado a sala.
O mais surpreendente é que a casa onde se deu o velório fica na São Carlos do Pinhal, exatamente do outro lado da rua, em frente à entrada da garage do meu prédio. Aquele prédio onde eu morava, na Paulista, que tinha outra frente para a r. São Carlos. É uma vasta mansão, em estilo colonial português, pintada em vermelho desbotado, muito imponente. As janelas e a porta de entrada emolduradas com pedra cinzelada, onde se vê o costumeiro desenho barroco, em cuja cumieira aparece, na porta, o brazão de armas. Foi tombada pelo patrimônio, por isso sobreviveu. Lá habitava um casal de velhos. Depois, não sei se morreram, mas ficou à venda nos últimos tempos em que lá morei. Vê-se que os proprietários não pouparam recursos para construí-la e eu anelava conhecê-la por dentro. Veja vc em que circunstâncias isso ocorreu. Lembrei-me da casa de meus avós na R Maria Figueiredo, 350, onde morei alguns anos. A de meus avós era em outro estilo, Renascença Florentina, mas tinha semelhanças.

Quando entrei na câmara ardente, a Scarlet me reconheceu e, soluçando, dirigiu-se a mim... ”Viu, Celeste?” .... “Eu... sinto muito, Scarlet”... e... fitando nosso amigo, disse ainda: ”Ele está jovem”...

Abrçs
Celeste

Prof. José Luiz Celeste (escritor, latinista e ex-professor da EAESP- Fundação Getúlio Vargas) disse...

Braga:
Lembrei-me de uma elegia de Catullus e fui procurá-la na minha correspondência antiga. Encontrei também uma tradução dela na Internet, que me paraceu boa, mas que se distanciava do que dizia o texto. Dessas indagações e insatisfações veio-me a ideia de traduzir o texto, eu mesmo.
Que pretensão! Aqui vai o resultado, em duas colunas, o texto latino e a minha tradução. O texto é de arrepiar, não sei se vc o conhece. Abaixo, o texto latino: Multas per gentes et multa per aequora vectus
advenio has miseras, frater, ad inferias,

ut te postremo donarem munere mortis
et mutam nequiquam alloquerer cinerem.

Quandoquidem fortuna mihi tete abstulit ipsum.
Heu miser indigne frater adempte mihi,

nunc tamen interea haec, prisco quae more parentum
tradita sunt tristi munere ad inferias,

accipe fraterno multum manantia fletu,
atque in perpetuum, frater, ave atque vale.

Minha tradução:
Muitas terras e muitos mares transpus, ó irmão,
e venho a essas míseras exéquias para cumprir

o derradeiro dever para com a morte,
e interrogar inutilmente as mudas cinzas.

Vez que a fortuna me privou de ti,ai de mim,
pobre irmão, indignamente arrebatado, ao menos recebe agora,

conforme o antigo costume paterno, essas tristes oferendas que trago,
banhadas de muito pranto fraterno. E para sempre, irmão, eu te saúdo. Adeus.

Abrçs,
Celeste

Francisco Sylvio de Oliveira Mazzucca (professor do CFC, chefe do Departamento de CFC e diretor da EAESP-Fundação Getúlio Vargas) disse...

Caro Braga,
Linda homenagem ao Jacob!
Um grande abraço,
Mazzucca

Prof. Dr. Oscar Malvessi (professor da EAESP-Fundação Getúlio Vargas, autor de livros e artigos, e sócio-presidente da Oscar Malvessi Consultoria Empresarial) disse...

Valeu Braga,
Lendo recordei de algumas coisas do passado, CFC, livros, artigos, outras, etc...
Excelente o teu trabalho e dedicação
abração
sds
Oscar

Marcos Vinicius Fittipaldi (administrador de empresas e economista; professo do Departamento de CFC da EAESP-Fundação Getúlio Vargas desde 1973; coordenador de cursos fechados. Executivo e consultor na área financeira) disse...

Amigo Francisco Braga

Lí com atenção seu elogio ao nosso colega Jacob Ancelevicz, onde encontrei vários momentos nos quais estivemos juntos .

Infelizmente estive em viagem tanto na data do sepultamento como na data da missa de sétimo dia do Jacob e não pude encontrar você para conversarmos.

Grande abraço e votos de um excelente 2016!

Marcos. V. Fittipaldi

Geraldo Ananias Pinheiro (escritor e autor de inúmeros romances) disse...

Caro amigo Braga, li com atenção a homenagem póstuma feita a seu amigo. Meus sentimentos e parabéns pela iniciativa e pelo emocionante texto. É assim que se faz!
Abraços.
Feliz 2016.

Prof. José Lourenço Parreira (capitão do Exército, professor de música, violinista, compositor, maestro e escritor) disse...

Caríssimo BRAGA, li, extasiado, sua bela oração laudatória do gigante Professor Doutor JACOB.

Emocionou-me saber a existência de um ser humano tão elevado e, muito importante, seu amigo e, de certa forma, mecenas.

Consolidou-se em mim o que já pensava a seu respeito, meu amigo: você também é um gigante que honra a Pátria com suas cultura e erudição!

Lourenço, que, perto de você, descobre-se diminuto!

Anônimo disse...

Amigo Braga, belo exemplo de vida do homenageado e parabéns por homenagear ilustre personalidade de nossa história.Sucesso e honra seja feita a quem merece!
Lavras,02 jan 2016.
Passos de Carvalho,

ADILSON NASCIMENTO disse...

Muito mais do que uma homenagem. Aqui , um profundo conhecimento a um verdadeiro amigo. Ponto a ponto uma lembrança daquele que era um grande amigo. Belíssima homenagem.

Sônia Márcia (proprietária da corretora Paris Imóveis) disse...

Dr. Francisco:
Sabe qual é a ironia da vida?
Pensamos sempre ao contrário, temos pressa de crescer e depois suspiramos pela infância perdida. Perdemos a saúde para ter dinheiro e logo em seguida perdemos o dinheiro para termos saúde... Pensamos tão ansiosamente no futuro que esquecemos o presente. Assim nem vivemos o presente nem o futuro e esquecemos muitas vezes da família e amigos. Vivemos como se nunca fôssemos morrer e morremos como se nunca tivéssemos vivido. A Vida é feita basicamente de contrários. A palavra Vida tem apenas um "V", o resto é só "ida"... Desfrute do presente e da companhia de todos os que você ama!!
Meus sentimentos pelo falecimento do Sr. Jacob.
Amizade assim é para sempre!
Sônia Márcia

Prof. Fernando Teixeira (professor universitário, escritor e Secretário Geral da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Obrigado pelo trabalho enviado. É memória e saudade que ganham significado no seu excelente texto.
Abraço do Fernando Teixeira

José Passos de Carvalho (jornalista, escritor e presidente da Academia Lavrense de Letras) disse...

Bom dia amigo.
Obrigado. Brindado com este artigo, é um excelente começo de ano e renovação. Parabéns e muito obrigado!

Passos de Carvalho

Hélio Petrus (escultor e poeta) disse...

Caro Braga:
Excelente Homenagem de um Amigo de Verdade!
Tudo serve de pretexto quando aproxima nossa Hora. A Morte é uma amiga imprevisível. Tão frágil e vulnerável nossa existência que um simples tombo pode cortar-lhe o fio. O mais importante é estar com o Passaporte ( ATUALIZADO E NÃO VENCIDO) para a Viagem Definitiva, Viagem sem retorno, que todos haveremos de empreender, só Deus sabe quando!...
Feliz Ano Novo com muitos anos para produzir suas belíssimas mensagens.
Abs do Hélio.

Prof. José Maurício de Carvalho (professor universitário, escritor, filósofo, coordenador de colóquios de filosofia "Antero de Quental" e membro de várias Academias) disse...

Muito bem. É uma pena que os bons vão cedo, sempre temos a sensação de que fariam muito mais.
Mauricio.

Dr. Lúcio Flávio Baioneta (conferencista, proprietário da Análise Comercial Ltda em Belo Horizonte e colaborador do Blog de São João del-Rei) disse...

Meu prezado amigo FJSBRAGA,
Quando vc deu me a notícia do falecimento de um amigo seu, percebi que se tratava de um amigo por toda a vida. Não sei explicar. São coisas que sinto e não sei traduzir.
"Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito".
Quando partem sem avisar, nos assombra.
Abraços do Lucio Flávio

Eliane Habib Tiburski (pós-graduada em Finanças pela EAESP-FGV, com 20 anos de experiência como diretora no Citibank, Head Trader da mesa de Investidores Institucionais e Dívida Externa, premiada com o IFR Best Fixed Income Desk-2000) disse...

Muito legal professor. Luz para Professor Jacob.
Eliane

Claudio Rahal (arquiteto e designer) disse...

Braga,
Que homenagem linda você registrou para eternizar o querido amigo Jacob.
Em determinados momentos não acredito que tenha acontecido pela falta que nos faz o querido Jacob.
Espero que você é Ruth estejam bem e que muito em breve possamos nos encontrar!

Feliz 2016 e muita saúde e paz para vocês !

Atenciosamente,

Claudio

Prof. José Luiz Celeste (escritor, latinista e ex-professor da EAESP- Fundação Getúlio Vargas) disse...

Ficou muito bom, Braga. Parabéns pela dedicação e extrema lealdade ao nosso amigo.
Abrçs,
Celeste

Unknown disse...

Fernando Buchalla

Caro Braga,

Uma bela homenagem como esta so' poderia ser escrita por um verdadeiro amigo. O Jacob deixou um vazio enorme e uma saudade muito grande.

Abraco,

Fernando

Unknown disse...

Prezado Braga

Belíssima homenagem ao nosso amigo Jacob!!!

Pude desfrutar muitos bons momentos com ele e Scarlet, no Juqueí, São Paulo e Nova Iorque (fui apresentado à Scarlet lá, onde estávamos por coincidência!).

Sem dúvida foi uma vida muito bem vivida a do nosso Jacob.

Amigo dos amigos, merece todas as homenagens!

Grande abraço

Ruben Keinert

PS - Na noite da missa de 7º dia, fui chamado por minha filha para buscá-la e não pude acompanhá-los na casa da Scarlet.

Pe. Vicente de Paula Rigolon, SDB (padre salesiano do Instituto São José, de Resende-RJ) disse...

RECORDAR É VIVER! PARABENS PELA "MEMÓRIA DE SEU GRANDE AMIGO"!!!!
Pe. Rigolon

José Ribas da Costa Filho (antiquário e aeronauta da reserva) disse...

Obrigado Braga, forte abraço.
Ribas

Dra. Mariza Haddad (dentista) disse...

Bela homenagem ao nosso amigo Jacob.
Perdemos um grande amigo, parceiro e exemplo de otimismo.
Beijos para vocês.
Mariza

Elizabeth dos Santos Braga disse...

Franz,
muito linda a homenagem prestada ao Jacob. Muito verdadeiras as palavras a seu respeito. Ele era uma pessoa muito prestativa. Lembro-me bem do dia em que me levou à FAPESP para encaminhar meu projeto de mestrado nos idos de 1992. Não havia tempo hábil para encaminhá-lo pelo correio e eu não sabia andar em S.Paulo. Ele me buscou e me levou de volta ao Terminal Tietê, depois de me levar para jantar, o que era muito bom para uma estudante que vivia com o final do seguro desemprego em Campinas.
Com certeza, foi um grande amigo para você, um grande profissional e um bom companheiro de vida para a Scarlet.
Merecida homenagem!
Petete

bragatiz disse...

Muito linda essa homenagem Padrinho.
As fotos são maravilhosas,
Atenciosamente,
Beatriz

Maria do Carmo Lopes de Oliveira Braga (escritora e autora de "Anita, uma vida a serviço do amor" disse...

Francisco,
Li com muita atenção e carinho o testemunho que você prestou a seu prezado amigo Jacob, a quem eu e Fernando tivemos a oportunidade de conhecer aqui em São João del-Rei.
Ao dizer que "você conquistou o coração da bondosa família do Prof. Jacob devido à sua curiosidade", tenho certeza que não foi somente a curiosidade, mas principalmente o seu jeito mineiro de saber escolher os bons amigos fez com que se aproximasse dessa família tão especial, criando esse elo de amizade tão forte, comprovando que os sentimentos na vida são bilaterais.
Ao citar as revistas e livros que Ele e Você participaram como autores e /ou tradutores me fez voltar à década de oitenta quando trabalhei como Bibliotecária na Biblioteca Técnica, Administrativa e Financeira da CEMIG, em Belo Horizonte e me lembro que essas publicações eram muito requisitadas pelos leitores, devido ao seu valioso conteúdo técnico científico.
Ambos fizeram uma sociedade voltada ao saber e tenho certeza que perdurará pela eternidade.
Parabéns! Com o abraço afetuoso de sua prima e cunhada,
Maria do Carmo

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Estive em Israel por volta de 1980 em companhia de Jacob Ancelevicz, meu melhor amigo, cuja memória deixei registrada aqui com rico material documental sobre ambos (mim e ele) e cujos pais eram ashkenazim falando iídiche e hebraico.
Naquela ocasião, em nossa ida passamos o Natal em New York em casa de um amigo e o Ano Novo em Israel em casa da tia dele em Jerusalém.
Ficamos em Eretz Israel por volta de 40 dias. Jacob tinha nascido em Hadera, onde estivemos para resolver assuntos sobre propriedades de seu pai Ruwin, deixadas para trás aos cuidados de um amigo dele quando emigrou para o Brasil, e onde vimos muitos palestinianos convivendo e trabalhando em obras de construção civil para os habitantes de Hadera.

Visitamos Tel-Aviv; Petah Tikva; Haifa e seu monte Karmel; Jerusalém e seus monumentos, seu Monte do Templo (cidade de Davi), seu mercado árabe da Cidade Velha, a Cúpula da Rocha, o Muro das Lamentações; o kibutz Bror Chail para onde - dizem - foi o primeiro grupo de brasileiros em 1948; passamos pelas colinas do Golan, pelo deserto de Negev até Eilat. Dentre todas as cidades, a que mais me impressionou foi Jaffa, o porto mais antigo do mundo - dizem - e visitei parte da Jaffa antiga, uma cidade egípcia sob a Jaffa atual. Claro, alugamos um carro e viajava conosco um menino muito divertido, Lior, sobrinho de Jacob, que estava aprendendo o hebraico. Jacob o levou consigo porque queria incentivar seus estudos da língua.

Na ocasião pretendíamos ir ao Egito, mas desistimos diante da ocorrência comum de assalto a ônibus durante o percurso.

Marcelo Miranda Guimarães (escritor, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MG e presidente do Museu da História da Inquisição, sediado em Belo Horizonte) disse...

Que história fantástica! Parabéns por esta frutífera amizade com a família Ancelevicz. Se você visitar Israel hoje, você não conhecerá Tel Aviv, Petah Tikvah e Jerusalém, por exemplo. Eu visitei Israel bem depois de você, em 1993, 30 anos, uma considerável mudança e desenvolvimento.
Forte abraço, shabat shalom!
Marcelo MG