quarta-feira, 12 de junho de 2019

UM VELHO DISCÍPULO DO AUTOR DE “MANON” ESCREVE UMA ÓPERA INSPIRADA NA GRANDE OBRA DE EUCLIDES DA CUNHA



Por Francisco José dos Santos Braga

Efígie de Fernand Jouteux (1866-1956), por autor desconhecido, 
provavelmente desenhada em Paris no 2º período francês (entre 1921-1925)




I. INTRODUÇÃO


Continuemos a acompanhar os passos de Fernand Jouteux na sua marcha pelo País. Ei-lo agora recebendo a visita de um repórter do Correio da Manhã, que vem do Rio de Janeiro em outubro de 1938, se hospeda em algum hotel de São João del-Rei e toma um ônibus com destino a Tiradentes, onde o compositor francês se radicou em companhia de sua esposa Magdeleine Aubry.

Lá chegando, o repórter não encontra o músico, mas sua esposa, que o deixa maravilhado por sua facilidade de expressão, intensidade de seu amor pelo marido, mesmo diante do fato de serem "caminheiros errantes" – certamente passando por privações –, e conhecimento profundo da ópera O Sertão, composta por seu marido "nas cordilheiras de Garanhuns-PE" e que ele identifica estar num “dossier”, em cuja capa lia-se em letras azuis bordadas de vermelho: “O Sertão – Drama musical em 4 actos. Letra e musica de Fernand Jouteux” sobre uma mesinha rústica.

A decepção do repórter também é nossa, porque não temos propriamente uma entrevista feita com o compositor francês, conforme era o objetivo inicial, mas sim com sua esposa. Mas a decepção inicial do repórter se transforma em vivo entusiasmo à medida que mme. Magdeleine se expressa, revelando a grandeza do seu sentimento em relação ao marido, à sua obra e a seu ideal artístico, o que leva aquele a dar-nos a exata dimensão do perfeito conhecimento de tudo por parte dela. E isso é encantador e é uma prova de como Jouteux era feliz ao lado dessa mulher excepcional.

Diante dessa figura feminina, não pude deixar de me lembrar da Odisseia de Homero que, além de narrar a Guerra de Tróia, trata do amor de uma mulher (Penélope) por seu marido (Odisseu ou Ulisses, rei de Ítaca), o qual partiu para a guerra e se ausentou do lar por vinte anos, entretanto sem deixar nenhuma evidência de sua morte em batalha. Sem qualquer notícia de seu amado, a fidelidade dela foi submetida a grandes tentações, a começar por seu pai que insistia para que ela se casasse novamente: ela, fiel ao marido, recusava o apelo do pai e a insistência dos mais diversos pretendentes. Sabiamente estabeleceu uma condição: o novo casamento somente se daria depois que ela terminasse de tecer uma colcha em tricô. Durante o dia, aos olhos de todos, Penélope tecia e, à noite, secretamente, desmanchava todo o trabalho para não desmanchar o seu amor. Denunciada por uma serva, ela então impôs outra condição ao pai. Conhecendo a dureza do arco de Ulisses, ela afirmou que se casaria com o homem que conseguisse retesar o arco. Dentre todos os pretendentes, apenas um humilde camponês conseguiu realizar a proeza. Esse camponês, disfarçado, era o próprio Ulisses, que então despertou Cupido, o qual flechou o casal de amantes nova e definitivamente.

Sobre a cidade de São João del-Rei, o repórter confirma que em 1937 o compositor francês ali desembarcou, interessado em dar um concerto e viu-se cercado de atenção pelas principais figuras da cidade centenária, comprovando a sua fama de "cidade da música". Mas, infelizmente, nenhuma palavra do repórter do Correio da Manhã sobre nosso homenageado ter sido Diretor Efetivo do Conservatório de Música Sanjoanense,  durante o referido ano – conforme já tive a oportunidade de provar em artigo anterior, pesquisando as páginas do periódico são-joanense A TRIBUNA durante 1937 – mas reconhece que ele já se achava radicado em Tiradentes em 1938, aonde vai a seu encontro para a frustrada entrevista com o Maestro.


II. TEXTO: À PROCURA DE FERNAND JOUTEUX


Onde os extremos se tocamÀ procura de Fernand Jouteux, compositor francez, que se integrou nas montanhas de Minas GeraesCanudos!Um concerto para o padre CiceroOs “Sertões” na SorbonneO amorVida errante.
(De Lincoln S. Gomes, especial para o Correio da Manhã)


Das cidades mineiras, Tiradentes é, provavelmente, a única que vive com menos intensidade a vida que foi vivida há mais ou menos dois séculos, quando por ali passaram os turbulentos taubateanos empunhando bandeiras tremulantes e bacamartes pesados à procura do metal que até hoje é o mais procurado e ambicionado e que, como em épocas remotas, é e será sempre o mais fascinante.

Houve guerra, paulistas e portugueses se degladiavam (sic) em tremendas e interminaveis lutas; em 1707 teve inicio a “Guerra dos Emboabas”, desenrolando na Ponta do Morro, onde se acha actualmente localizada Tiradentes, as mais encarniçadas batalhas. Os paulistas camouflados (sic) em ramagens, entrincheirados nas arvores frondosas, faziam fogo contra os lusos, derrotando-os. Conhecida essa tactica, aquelles foram obrigados a tomar posições differentes e um dia a “casa caiu”.

Bento Amaral, caudilho velho e sem escrúpulos, ordenou a sua gente que hasteasse uma bandeira branca. Os homens de Piratininga renderam-se. De ambas as partes fizeram juramentos por tudo quando é sagrado e em nome da Santissima Trindade – as vidas dos prisioneiros seriam respeitadas. Não obstante essa formalidade christã, houve a maior “ursada” de todos os tempos, registada na Historia do Brasil e o local denominou-se “Capão da Traição”.

Depois veiu o socego (sic). Só se falava em oitavas de ouro.

Foi o seguinte o movimento economico-financeiro apresentado pela camara municipal da vila de São José, em 1729: Escravos, 5.419; Lojas, 17; Vendas, 106; Officio, 75; Caixa, 59.781; oitavas e um quarto de ouro do manejo.

Nesse mesmo anno s. majestade recebeu os tributos pagos pelo povo no valor de 8.740 e ¾ de ouro, restando para os fallidos, 135 oitavas. Bons tempos.

Hoje, a antiga Villa de São José atravessa dias esquecidos numa somnolencia agradavel de cansaço de quem muito lutou e que recosta exausto numa tranquilidade reparadora. As suas ruas sinuosas apresentam uma melancolia impressionante. Quem passa, olhando a sumptuosidade de seu casario velho, vetusto e colonial, nota-se (sic) por entre as rotulas largas das venesianas entreabertas, olhares que espreitam, investigando e conferindo os forasteiros que por ali transitam em busca de historia ou do grande tesouro de prata que dorme no porão da Matriz, pesando pouco menos de 50 arrobas. Apezar desse bucolismo, Tiradentes é uma cidade amena e seu povo é bom e forte. Calmo e conciente (sic) que ri dos habitantes de outras terras onde energias são gastas inutilmente.

ONDE OS EXTREMOS SE TOCAM

Seria arriscado fazer uma comparação entre Tiradentes e Paris. Absurdo, não resta a menor duvida. Mas uma ligação entre estas duas cidades está feita por intermédio de uma pessoa que é mais parisiense que a propria Torre Eiffel. Trata-se de um discipulo de Massenet, que sentava na mesma carteira de Debussy, que dirigiu a Escola de Musica e Declamação de Oran e que nasceu em Chinon onde Joanna d’Arc organisou o exercito para sitiar Orleans.

Essa extranha figura é Fernand Jouteux, autor de uma opera que já se acha escripta e orchestrada, prompta para ser executada, inspirada nos “Sertões” de Euclydes da Cunha, portanto puramente brasileira.

UM POUCO DE SUA VIDA

Ha mais ou menos um anno, desembarcou em São João d’El-Rey, um personagem curioso que desejava dar ali um concerto musical, procurando as principaes figuras da cidade centenária, apresentando-se simplesmente assim: “Fui discipulo de Massenet, chamo-me Fernand Jouteux e desejo offerecer-vos uma hora de musica e de arte”.

Como se sabe, São João d’El-Rey é culta por radiação. Cada sanjoannense é um artista. Dahi a attenção de que o maestro Jouteux foi cercado. Espirito mais arguto ponderou-lhe de que proximamente se realisariam ali as eleições e com a vinda de eleitores e forasteiros a renda da bilheteria seria mais compensadora. Accedendo esse alvitre o compositor francez dirigiu-se para a visinha e quieta Tiradentes.

Até o presente momento elle aguarda as eleições, calmo e contagiado pela quietude que dorme resguardada pela serra São José, muralha natural daquella terra e defensora intransigente da pressa e da civilização.

À PROCURA DE FERNAND JOUTEUX

Procuramos ouvir Fernand Jouteux. De São João d’El-Rey subimos a estrada num velho omnibus, circumdando o rio das Mortes. Poucos minutos depois em Tiradentes batiamos à porta do maestro. Uma senhora de sotaque afrancezado recebeu-nos. Apresentamo-nos. Estavamos portanto à frente de madame Magdaleine (sic) Jouteux, esposa de Fernand e neta de monsieur Claude Aubry, antigo presidente da Côrte de Appellação de Angers, figura de destaque nos meios forences (sic) francezes onde deixou diversas obras sobre legislação juridica.

Mme. Magdaleine, demonstrando satisfação e desculpando-se da falta de conforto da ampla sala modestamente mobiliada, convidou-nos a sentar. Na parede, uma caricatura do maestro e diversas photographias de pessoas da familia. Ao fundo, uma mezinha rustica repleta de papeis de musica e um “dossier”, em cuja capa lia-se em letras azues bordadas de vermelho: “O Sertão – Drama musical em 4 actos. Letra e musica de Fernand Jouteux”.

Falamos sobre o artista. No momento elle não se encontrava em casa e isso deu margem para que mme. Magdaleine conversasse mais à vontade. Ella é grande admiradora de seu esposo. Cita-o constantemente e manifesta o seu pezar sobre o nosso imprevisto desencontro. Offerece-nos um delicioso licôr e relembra as passagens interessantíssimas e aventuras romanticas de seu tempo de jovens enamorados. E os paineis parisienses vinham-lhe à mente cheios de um colorido muito tropical e que bem mostrava o modo porque essa antiga dama franceza assimilou às suas caras recordações o encanto e as bellezas naturaes do Brasil.

Passamos a falar da arte de seu marido. E mme. Magdaleine tomou a palavra:

– Foi maravilhado pela facilidade de expressão do grande escritor brasileiro Euclydes da Cunha que meu marido se inspirou para fazer a verdadeira obra séria, bem cuidada e carinhosamente elaborada de sua vida artistica. A magistral descripção da formação geologica do Brasil, a decomposição das camadas de seu sólo, estudando, com perfeito conhecimento de causa, a razão de ser de tantos thesouros e tão valiosas jazidas encrustadas no seio dessa terra fertil e encantadora, deram ao meu marido a perfeita comprehensão da grandeza da obra desse brasileiro illustre e a noção da responsabilidade que assumiria ao traduzir em sons musicaes esse hymno de grandeza e de esplendor que é a Terra, parte inicial dos “Sertões”. As obras de maior renome da literatura franceza, com que Jouteux embalou os seus primeiros dias de uma mocidade dourada por um sonho de arte, jamais conseguiram despertar em seu espirito commodista a idéa da realisação de uma grande obra musical. No Brasil, porém, deante da majestade dessa natureza prodigiosa, compartilhando do mesmo enthusiasmo vivido por um povo jovem e cheio de idéas, extasiado ante o immenso e envolvente mysterio natural dos tropicos, e depois vendo tudo isso tão bem descripto na obra de uma intelligencia inegualavel (sic), como é esse livro de Euclydes da Cunha, seu genio musical não pôde permanecer indifferente. Embora filho de regiões diversas em tudo da em que vivemos agora, Jouteux sentiu muito mais a propria força dessa natureza vigorosa e cheia de virgindade do que as impressões causadas ao seu espirito, pelos calmos paineis dos campos europeus, cansados de seculos e seculos de trabalho. A “ouverture” da opera de meu marido é assim apotheotica como a propria Terra, dos “Sertões” e cheia de harmonia como o solo brasileiro é prenhe de thesouros.

E mme. Magdaleine prossegue:
– Nesse scenario grandioso da terra brasileira, em meio das caatingas enroscadas pelo sol causticante do sertão bravio, entra então a musica descriptiva. São os instrumentos a chorar na lamuria orchestral as supplicas pungentes saidas de todos os entes que ainda mostram um resto de vida nessa natureza esmaecida pela aridez da secca. O numeroso côro entôa agora a aria da sêde. São milhares de homens que abandonam as casas onde nasceram e os campos onde viram a vida para um destino que elles mesmos não conhecem. É essa a triste e eterna canção dos retirantes. – Mas, não faltam tambem na opera as scenas nervosas das vaquejadas. O vaqueiro com sua aguilhada curta e seu cavallo adestrado segue o encalço da rez bravia que se perde na matta rasteira. O homem é resolvido e não esmorece nunca. O sertanejo é antes de tudo um forte... Depois, na sua phase final, a luta que quasi desfez o Exercito brasileiro nos fins do seculo passado.

CANUDOS !

– No ultimo acto da opera meu marido descreve então a batalha de Canudos, com a figura lendaria de Antonio Conselheiro e as varias expedições militares enviadas ao reducto dos fanaticos nordestinos pelo poder “divino”, do homem que se dizia o ultimo salvador da humanidade.

UM CONCERTO PARA O PADRE CICERO

– Tambem Jouteux não encontrou a minima difficuldade para traduzir em sons o espirito sublevado e as scenas de revolta e de valentia dos caboclos. Tendo vivido durante annos no sertão de Pernambuco, pôde conhecer de perto o temperamento desses homens fortes e ousados, acostumados às adversidades de uma natureza rigida e quasi hostil.

No Joazeiro deu varios concertos para o padre Cicero que applaudia com verdadeira admiração as musicas executadas em um piano velho, aquelle mesmo instrumento que durante as missas marcava os compassos dos psalmos.

OS “SERTÕES” NA SORBONNE

Mme. Magdaleine faz uma pausa, e, mais enthusiasmada, prossegue na sua narrativa:
– Uma noite, estavamos em Paris, – a Universidade da Sorbonne achava-se iluminada para as festas commemorativas do encerramento do anno letivo. Jouteux havia sido convidado para dar um concerto. E, ante uma assistência calculada em mais de mil espectadores e composta da mais fina flôr da aristocracia do mundo, meu marido executou varios trechos de “Os Sertões”. A musica escripta nas cordilheiras dos Garanhuns e transportada para a maior fonte de sabedoria da intelligencia universal, era perfeitamente sentida por um povo extranho (sic) a essa natureza verde e forte, mas que jamais poderia passar a desprezar as melodias quentes que ella inspirara. E as palmas se repetiam freneticas attestando a admiração da platéa...

MAIS COMPOSIÇÕES

Jouteux é fertil e inspirado. Além de sua opera elle compoz: Le Retour du Marin, scena dramatica para Soprano, Côro e Orchestra (Théâtre de la Bodinière, Paris). Klytis, idyllio dramatico. Ode à Balzac. Oratorio de Santa Joanna d’Arc. Noces Célestes, vidraça symphonica, para orchestra. Oocystis ¹, para Oboé, Viola e Orchestra. Prélude Bachique. Poema Mystico. Arias Sudanenses e muitas melodias e musicas sacras.

QUALQUER COISA DA VIDA DO COMPOSITOR

– Mas, madame Magdaleine – dissemos interrompendo a sua interessante narrativa – queremos saber tambem qualquer coisa da vida de seu marido. Onde nasceu, quando iniciou sua carreira artistica e as outras coisas que mais directamente se prendem à sua existência – não seria muita indiscrição?

– Nenhuma – respondeu madame – sou uma admiradora de meu marido desde que delle recebi as primeiras lições de musica, e agora que o professor se fez esposo, ha tantos anos, a admiração transformada em carinho me levou tambem à curiosidade de saber tudo que mais directamente fale sobre a sua existencia. Como o senhor vê, é bem facil para mim responder a sua pergunta. – Nasceu a 11 de janeiro de 1866 em Chinon, pequena cidade da França, mas dona de uma historia cheia de encantos e de belleza. Na terra natal de meu marido foi que Joanna d’Arc solicitou ao rei Carlos VII a espada e o exercito para sitiar Orleans que estava ocupada pelos inglezes. E a cidade de meu marido se acha muito ligada à historia do Brasil por ter nascido ali, tambem, Charles Devaux, um dos fundadores de São Luiz do Maranhão, como se sabe.

E carinhosamente madame Magdaleine entrou na outra phase de sua narrativa:
– Fernand fez os seus primeiros estudos no Gymnasio de Pontlevoy (Loir-et-Cher); dahi saindo, matriculou-se no Conservatorio de Paris, cursando a classe de Harmonia. Dois annos depois Jouteux não era mais aquelle adolescente ingenuo que vagava quasi timido pelas ruas de Paris. Os sons que lhe vinham de fóra transformavam-se na sua imaginação em phrases musicaes delicadas e eternas symphonias. Nessa época já se dedicava ao estudo de Composição. Era seu mestre o autor de Manon, o grande maestro Massenet. Jouteux foi um de seus mais destacados alumnos e tambem um de seus mais fervorosos admiradores. Discipulo na classe durante as horas de aula é ainda o seu discipulo na preferencia inegualavel do seu gênio musical. Até hoje Jouteux vê as combinações das partituras e traduz as impressões da vida com aquelle mesmo frizante sentimento e aquella mesma doçura de phrases que ouvira outróra nas licções inesqueciveis de seu mestre. Massenet não morreu para elle. E cada nova inspiração que nasce para meu marido, o antigo professor do Conservatorio de Paris, o genial musico da obra do Abade Prévost reapparece vivo para Fernand e canta com elle esses poemas musicaes que eu ouço saindo cheio de belleza das teclas encardidas desse nosso velho companheiro collocado ali no canto da sala. Meu pae era um homem de grandes posses e bastante dado à arte. Um dia, na nossa casa, fui apresentada ao maestro Fernand Jouteux, meu novo professor de Harmonia. Desde esse momento, não sei porque, não mais pensava em sair de casa na hora da aula de Harmonia. Um anno depois eu me tornava esposa de Fernand.

VIDA ERRANTE

E madame Magdaleine prosseguiu:
– O genio irrequieto de meu marido não permitiu que levássemos uma vida pacata e sonhando, como todos os casaes burguezes da França de nosso tempo. E assim desembarcamos no Brasil. Percorremos os principaes Estados desse paiz e ficamos maravilhados com a sua exuberante belleza tropical. Jouteux, desde logo estabeleceu que este era o paraiso sonhado para o seu grande ideal artistico. Voltamos à França diversas vezes e numa dessas viagens trouxemos bastante dinheiro e compramos uma fazenda em Pernambuco. Fomos mal succedidos, entretanto. Vendemos a fazenda, seguindo o nosso destino de caminheiros errantes e aqui estamos hoje tranquillos e – por que não? – felizes.

ENCONTRAMOS FERNAND JOUTEUX

Despedimo-nos de Mme. Magdaleine e regressamos a São João d’El-Rey. No ponto de parada do omnibus que faz o trajeto entre aquellas duas cidades mineiras, ao apeiarmos (sic), encontramos com Fernand Jouteux. Ninguem precisou de apresentar-nos. A sua figura de verdadeiro artista francez, o seu chapéo preto de abas largas e sua gravata latina convidavam-nos para uma ligeira palestra ou uma entrevista. Na sua modestia, disfarçou com a partida do auto para Tiradentes, que estava por minutos apenas. E quando insistimos novamente sobre a entrevista, sem dizer que vinhamos de sua casa, elle respondeu num gesto muito parisiense:

– Para que isso? Porque desejaria o senhor contar a todo o mundo a vida pacata de um velho esquecido? Entretanto, quero a sua amizade de moço. Vá a minha casa tomar o meu licôr preparado por Magdaleine para as visitas amigas...

Fonte: CORREIO DA MANHÃ, Supplemento, Rio de Janeiro, edição 13491, 30/10/1938, p. 4.
http://memoria.bn.br/pdf/089842/per089842_1938_13491.pdf 

Identificação no acervo na F-CEREM: JOU.04.007

III. NOTAS  EXPLICATIVAS

¹  O texto menciona o título "Oatystis", não encontrado nos dicionários que consultei. O termo mais próximo em francês é: "Oocystis", denominação de uma espécie de alga.


IV. AGRADECIMENTO 



À minha esposa Rute Pardini Braga pelas fotos que formatou e editou para os fins desta matéria.
À F-CEREM, na pessoa de Márcio Saldanha, Secretário do Programa de Pós-Graduação em Música da UFSJ, pela boa acolhida para a realização desta pesquisa no acervo francês do compositor Fernand Jouteux.






4 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Tenho o prazer de enviar-lhe mais um resultado de minhas pesquisas seguindo os passos do compositor francês Fernand Jouteux pelo Brasil, depois que se radicou definitivamente neste país a partir de 1911.
Trata-se de uma entrevista, cujo título chamo "À procura de Fernand Jouteux", publicada pelo jornal carioca Correio da Manhã, no seu Suplemento, em 30/10/1938.
Podemos considerar que 1938 é o ano que dá início à "fase de Tiradentes-MG" do compositor francês, que dura até 1952.
O texto da referida entrevista é assinado por Lincoln S. Gomes, especial para o Correio da Manhã.

https://bragamusician.blogspot.com/2019/06/um-velho-discipulo-de-manon-escreve-uma.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Obrigado pelo envio da matéria, confrade Braga. Abraço do Fernando Teixeira

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador do TJMG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

MUITO INTERESSANTE!

Vlasta Parkanová disse...
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