sábado, 22 de março de 2025

DOCES RECORDAÇÕES DO MEU IRMÃO ROQUE CÉSAR


Por Francisco José dos Santos Braga


Quando nasceste, ao teu redor todos riam, só tu choravas. Faze por viver de tal modo que, à hora de tua morte, todos chorem, só tu rias.                                                                                                            Confúcio.
Roque César dos Santos Braga (✰ São João del-Rei,  7/12/1947 ✞  Petrópolis, 17/03/2025) - Crédito: filha Natascha Constant de Almeida dos Santos Braga

ROQUE CÉSAR DOS SANTOS BRAGA, meu querido irmão, nasceu em 7 de dezembro de 1947, numa casa alugada na rua Coronel Tamarindo em São João del-Rei, antecedendo em 12 meses minha chegada a este mundo. 

No ano de 1948, nosso pai Roque da Fonseca Braga construiu sua casa nos fundos da casa de nosso avô,  José da Silva Braga, com o consentimento de seus irmãos  meus tios  para acomodar melhor sua prole. Sei que na casa alugada havia escorpiões com grave perigo principalmente para crianças.

Roque César com 1 ano de idade (Arquivo pessoal)

De acordo com minha mãe, Celina dos Santos Braga, ele foi uma criança muito alegre, nos seus tempos de cueiro, e espirituosa à medida que crescia. Vou exemplificar com algo ocorrido com ele em tenra idade: 

Minha saudosa tia Terezinha veio visitá-lo e procurando conversar com o alegre sobrinho, indagou-lhe à queima-roupa: 
"Roque César, você quer que a titia venha morar com você?" 
O garotinho não se fez de rogado e determinado saiu-se com essa: 
"Ih, tia, não vem não: aqui é muita "tonfusão"..." 
 
Nossa saudosa mãe Celina gostava de contar essa peripécia do seu "pilouro" ¹ com muito orgulho diante de sua precoce sagacidade. Assim se seguiram os primeiros anos, com suas tiradas engraçadas. 
Roque César aos 2 anos e 3 meses (foto de 16/02/1950, dia em que completei um ano de idade) - Arquivo pessoal
 
Em tenra idade, mais exatamente aos quatro anos, já sabia ler, com alguma ajuda de nossa mãe normalista que se encantava diante da sua criança-prodígio ². Ele demandava muita atenção para si, indagando sobre todas as novidades, e já fazendo algumas incursões nas ciências exatas.
Da esq. p/ dir.: eu, nosso cão e Roque na horta de meu avô (Arquivo pessoal)

Da esq. p/ dir.: agachados Roque, Boboca (amigo) e eu, com irmãos Fernando e Celina Maria atrás nas duas extremidades, de pé; atrás, no centro, entre as extremidades, de pé,  primas Magda, Juliana e Marta; ainda na frente da última fileira, de pé, Maria do Carmo e Fernando, primos (Arquivo pessoal)
 
Por morarmos nos fundos da horta de meus avós paternos, sempre tivemos a sua colaboração na nossa educação e desenvolvimento, pois meu pai lhes concedia livre trânsito na sua nova casa. Meu avô iniciava seu dia saindo de madrugada em busca de pão quentinho para nossa refeição matinal, coava o café para os netos e se retirava para sua casa; à tarde, ele nos levava à escola durante o ensino fundamental; e à noite costumava nos fazer dormir contando causos da sua antiga fazenda Lagoa Verde, de João e Maria, de sua caçada à onça, etc. 
 
Em nossa casa e principalmente nos primeiros dez anos de casamento de nossos pais, havia muito rigor visando preservar a integridade física e moral dos filhos. Devido a esse princípio, nós crianças não estávamos autorizados a frequentar sozinhos as casas de vizinhos. Para compensar essa proibição, nós crianças desenvolvemos uns brinquedos em que usávamos nossa criatividade e os recursos de que dispúnhamos na horta de nosso avô   que interpretávamos como um verdadeiro parque , por ser bem extensa e com muitas árvores frutíferas à nossa disposição, as quais eram um convite para galgarmos e serviam para fixação de gangorras. 
 
Roque César, Fernando e eu (Arquivo pessoal)

Celina Maria, Roque César e, atrás, Maria Aurélia dos Santos Oliveira, saudosa prima de Pará de Minas; no seu colo está Fernando - Crédito pela foto: primo e cronista Antônio Oliveira
 
Um desses brinquedos favoritos era o de índio, em que nos imaginávamos morando numa toca construída de gravetos e galhos que terminavam num chuchuzeiro, formando excelente refúgio recoberto. Ali ficávamos brincando durante horas, como se fôssemos indígenas. Para tal, nossa irmã Celina Maria imitava longas tranças com cordas ou panos de prato da cozinha de mamãe, enquanto nós meninos pintávamos nossos rostos com semente de urucum ou carvão para simular uma preparação para a guerra. Para representar uma canoa, usávamos uma escada de pedreiro, sobre a qual sentávamos e a deslizávamos numa ribanceira com grande estrépito, às vezes atingindo o muro do vizinho João Moreira, que com razão reclamava de nosso atrevimento. Quanto a nós participantes do brinquedo, atesto que havia total companheirismo e nunca houve desentendimento ou interrupção da brincadeira por mágoa. Antes, havia total integração em todas as etapas do brinquedo de índio. Lembro-me que brincávamos de índio no começo da tarde, enquanto nossos pais repousavam após o almoço. 
 
Sobre o almoço das crianças, ele era sobre uma mesinha especial feita para nós num espaço diferente da mesa de nossos pais  a de nossos pais na copa e a nossa, na cozinha  o que facilitava e favorecia a comunicação infantil sem a interveniência dos adultos e a necessidade de babás para nos alimentar. Conclusão: uma criança incentivava e influenciava a outra.
 
Outro invento que fizemos foi o de construirmos uma bicicleta. É claro que não tivemos muito sucesso nessa invenção, porque não possuíamos nem ferramentas nem peças de uma bicicleta de verdade. 
 
Também construímos carrinhos de rolimã, conhecidos também como carrinhos de guia, e pipas, que na ocasião chamávamos de "papagaios", que empinávamos nas tardes com vento. 
 
Para os dias chuvosos  algo comum naquela época  havia o "jogo da chuva" que consistia em um participante (quem convidou para a brincadeira) escrever num papel de 1 a 30, por exemplo. Depois, cada participante escrevia um número escolhido num papel em segredo, dobrava o seu próprio papel e o jogo tinha início. Cada participante por sua vez riscava um número da lista que não podia ser o próprio número escolhido. Se um dos participantes escolhesse o número de alguém, este seria o do ganhador. Se tivesse poucos números riscados e já houvesse esse ganhador, o jogo reiniciava e quem ganhou tinha direito de escrever outro número que ainda não houvesse sido sorteado. 
 
Lembro que não havia ainda a televisão. Esse fato nos obrigava a inventar brinquedos para que pudéssemos divertir e manter uma efetiva fraternidade entre os irmãos. Modéstia à parte, tivemos a sorte de conseguir uma excelente conexão entre nós para bem conduzir a encenação de todos esses brinquedos. Havia ainda outra opção: recorrer às telas de cinema existentes na cidade. Havia três: Cine Teatral Artur Azevedo, Teatro Municipal e Cine Glória. Estávamos bem servidos! Podíamos assistir a todos os filmes clássicos de faroeste nas badaladas matinées. O que mais podíamos querer? 
 
No final da década de 50/início da de 60, visando à utilização do lúdico nas ciências, a indústria lançou os primeiros jogos com ênfase no conhecimento da ciência. Meus pais, vendo o pendor de Roque para ciências exatas e para incentivá-lo nessa trajetória, tiveram a ideia de presenteá-lo no Natal com jogos científicos e educativos que exploravam as descobertas científicas. Um desses brinquedos chamava-se "sabatina", com cartelas de perguntas e respostas, cuja exatidão a criança podia testar, inserindo um pino ligado a um fio no orifício da alternativa correta. Se a resposta estivesse correta, uma luz acendia. Mais tarde, surgiu "o cérebro mágico", um raro brinquedo com idênticas características. Além disso, Roque já mostrava interesse nas tabuadas de multiplicação e divisão, inaugurando assim sua entrada no mundo do cálculo. 
 
Quando o garoto foi levado por seu avô ao jardim de infância "Cristiano Machado" aos 6 anos, já tinha muito pouco a aprender da coitada da professora que passava aperto com o geniozinho incomodando com suas tiradas inteligentes. 
 
Roque aos 7 anos no dia de sua Primeira Comunhão (Arquivo pessoal)

Foi por essa época que Roque fez uma descoberta curiosa: soletrava seu nome às avessas, resultando numa interessante sonoridade, a saber, EUQOR RASEC SOD SOTNAS AGARB, que ele enunciava com muito orgulho e humor. Igualmente treinou e tornou-se expert em "falar de trás p'ra frente", como a seguinte frase: "Cêvo bíssa lárfa dístra rápa tífren?", significando "Você sabe falar de trás para frente?". Esse linguajar parece simples, mas se complica quando a gente discursa por longo tempo nessa estranha modalidade de linguagem. Roque fez época, fazendo muitos seguidores na cidade.
 
Durante o ensino fundamental, o menino Roque costumava trazer para casa boletins com notas 10 em todas as disciplinas com reconhecido louvor por parte das professoras e diretora. 
 
Naquela época, havia o curso de admissão entre o ensino fundamental e o ensino médio, que nada mais era do que um curso preparatório para ingresso no ginásio. A professora Beatriz Albergaria se encantou com o brilhantismo do educando, preparando-o para o ingresso no Ginásio Santo Antônio, o que constituiu um novo êxito, após ele ter sido examinado por banca de três professores que avaliaram os conhecimentos do novo ginasiano, seguindo atentos a exposição do candidato para o ponto sorteado. Estou falando do início da década de 60. A essa altura, Roque César já completara 11 anos.
 
No ginásio, durante 4 anos, mostrou o brilho de sua inteligência especialmente em matemática, disciplina ministrada pelo Prof. Thomaz Perilli, proprietário do Hotel do Hespanhol. Nessa disciplina, dispensava a prática de memorizar fórmulas, porque era capaz de deduzi-las facilmente para solucionar qualquer exercício de matemática. 
 
Ainda no começo da década de 60, Roque se tornou um verdadeiro adepto de René Descartes. Na biblioteca municipal local, meu irmão localizou um exemplar do seu DISCURSO SOBRE O MÉTODO para bem conduzir a razão na busca da verdade nas ciências, um tratado matemático e filosófico, cuja primeira edição francesa data de 1637, publicada em Leiden (Países Baixos): ed. Jan Maire.  Em linhas gerais, o autor foi um dos precursores do movimento racional-científico, considerado o pai do racionalismo. Na busca de alicerçar o seu próprio pensar, Descartes formula quatro preceitos lógicos; exemplificativamente e para não me estender demasiado, o primeiro deles recomenda jamais acolher alguma coisa como verdadeira que você não reconheça evidentemente como tal, defendendo a  tese de que a dúvida era o primeiro passo para se chegar ao conhecimento. Portanto, Descartes vai seguir o método da dúvida; isso a tal ponto que ele vai dizer que nossos sentidos às vezes nos enganam. Com esses tais 4 preceitos, Descartes mostra quão desconfiado era em relação a tudo que lhe foi ensinado. Assim, seria preferível rejeitar todas as opiniões para posteriormente readmiti-las. O filósofo, então, colocando tudo em dúvida, ao menos tem a certeza de que ele é alguma coisa. Então a verdade que penso, logo existo (geralmente enunciada em latim como cogito ergo sum) é uma verdade que Descartes diz que nem os mais céticos podem abalar; por isso faz desse princípio o início da sua filosofia. Descartes deixa claro que, com essa obra, a sua intenção não era ensinar "o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas apenas mostrar de que forma ele se esforçou para conduzir a dele". Resumindo, o método cartesiano consiste no ceticismo metodológico, pelo qual institui a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que possa ser provado. Assim, consegue provar a existência do próprio eu (que duvida, logo é sujeito de algo — penso logo existo), considerando o ato de duvidar como indubitável.
Já a geometria analítica de Descartes apareceu em três apêndices do "Discurso sobre o Método", obra considerada o marco inicial da filosofia moderna. Os matemáticos consideram Descartes muito importante por sua descoberta da geometria analítica. Antes de Descartes, a geometria e a álgebra apareciam como ramos completamente separados da matemática. Descartes mostrou como traduzir problemas de geometria para a álgebra, abordando esses problemas através de um sistema de coordenadas, que, a partir daí, ficaram conhecidas como coordenadas cartesianas, derivadas de seu nome em latim: Renatus Cartesius
Não saberia dizer categoricamente até que ponto a leitura dessa obra de René Descartes foi decisiva para a perícia futura de Roque César na dedução de fórmulas, quaisquer que fossem aquelas usadas na solução de questões matemáticas, físicas ou químicas, mas posso afiançar que ele passou a aplicar o método cartesiano em todas as circunstâncias que envolvessem questões a serem solucionadas nessas disciplinas. Mal formulada a questão, lembro-me de sua habilidade de deduzir a fórmula necessária para resolver qualquer questão daquelas disciplinas científicas, jamais decorando-a como de praxe — o que indubitavelmente era um fenômeno inédito e incomum. Dir-se-ia que meu irmão conseguira incorporar o tal método que Descartes tinha encontrado para bem conduzir sua razão. Segundo a Teosofia, Helena Blavatsky e outros tiveram a sorte de acessar os registros akáshicos; teria ele conseguido algo do tipo?
 
Logo depois, Roque foi o introdutor em São João del-Rei do "cooper de rua³, ao sair para uma corrida por volta das 6 horas da manhã, antes das aulas no ginásio, correndo pelas ruas são-joanenses e se enveredando pelo Rio Acima até a fazenda dos freis na rodovia BR-265 e retornando para casa para tomar seu banho de água fria e, em seguida, seu café da manhã, constituído basicamente de uma xícara de leite com aveia que ele tinha deixado de molho ao sair, e café com pão e queijo. 
 
Além dessa modalidade de desporto, Roque e eu começamos a nos exercitar em barras fixas de musculação, que construímos na horta do nosso avô, para desenvolvimento no bíceps do braço e aumento da força do peito e das costas, inicialmente com o incentivo de colegas ginasianos, no caso dele, de Sebastião. Também demos início a uma série de exercícios de halterofilismo, levantando peso cada vez maior, infelizmente sem a assistência de um profissional em educação física. Logo, no entanto, constatei que aqueles exercícios estavam me prejudicando no toque do piano e decidi optar pela música. Ele continuou por mais algum tempo sozinho.
 
Roque começou a se interessar pela sétima arte. Lembro-me da projeção de um filme que ele realizou, de forma artesanal, num quarto escuro da casa apenas para seus familiares, mas não me recordo do tema do filme. Além da projeção deste filme inaugural, Roque também tinha especial predileção pelos faroestes que eram exibidos em três cinemas da cidade, como já foi dito. 

Outro fato digno de nota é que Roque se estabeleceu num quarto do porão de nossa casa, que ele chamava de "laboratório", onde se abrigava durante as tardes, para se isolar e favorecer sua concentração. O tal laboratório passou a ser um local de inúmeros aparelhos para a realização de experiências principalmente químicas. Logo, a seu convite, chegaram muitos colegas dele para conhecer a novidade do tal "laboratório". Dir-se-ia que, numa daquelas tardes, deve ter sentido o "estalo de Vieira" 
 
Não foram poucos os apelidos aplicados a meu irmão, sobretudo "cabeção", "crânio" e "gênio", que se espalharam por todo o ginásio são-joanense que, por sua vez, lhe deu uma impressionante notoriedade. 
 
Lembro-me de ter sido convidado para uma exposição de maquetes de foguetes interplanetários que ele e Carlos Marcos Henriques (futuro arquiteto) produziram em papelão e a cores e exibida em dois recintos do referido porão.
 
Um ano depois do seu ingresso no Ginásio Santo Antônio (1960), pela nossa participação do coral de frei Orlando Rabuske, como meninos cantores externos do Ginásio Santo Antônio, Roque e eu, como cantores, gozávamos de certos privilégios que consistiam em irmos aos pique-niques organizados pelo criador do coral e seu regente. Além desse, havia outro privilégio: toda quarta-feira, à noite, os meninos cantores podíamos assistir aos maravilhosos filmes a que tinham também direito os alunos internos do Ginásio Santo Antônio. Essa oportunidade em especial era imperdível. Assistíamos às fitas mais marcantes da história da sétima arte sem despender um único centavo. Digno de nota era também o direito que tínhamos de ter acesso à Biblioteca do ginásio e frequentar a piscina junto com os internos. Por todas essas concessões, os cantores se distinguiam dos alunos regulares externos e internos, como era natural, razão por que nossos desafetos nos tratavam com a alcunha desairosa de "piuítas do frei Orlando".
Frei Orlando Rabuske conseguiu com a Embaixada da então República Federal da Alemanha vários exemplares da coletânea de peças corais, intitulada "Chorübungen" (exercícios para coral), para cada um dos 4 naipes do coral (baixo, tenor, contralto, soprano). Da referida coletânea, cantávamos inúmeras peças corais. Tais peças que ali constavam tinham sido selecionadas pelo Professor Eberhard Schwickerath e editadas pela Musikverlag Hans Sikorski de Hamburgo. Guardo ainda comigo um desses exemplares para a voz de tenor, que me foi ofertado por Roque César.
Um exemplar de Chorübungen (Arquivo pessoal)

1ª página para o naipe de tenor (Arquivo pessoal)

Também é desta época do ginásio, que Roque passou a sofrer "bullying" e agressões de toda ordem por ser muito inteligente, o que o distinguia dos demais colegas. Um deles, enteado do tintureiro "Vavá" Lobosque, estava decidido, na saída do ginásio após as aulas, a espancá-lo gratuitamente sem esperar reação, mas Roque enfrentava-o com energia, pois era muito corajoso e forte, mas às vezes sofria algum ferimento nesses distúrbios. Por outro lado, na Rua das Flores onde residíamos, ele recebia apelidos injuriosos e era perseguido por vizinhos arruaceiros como o temido Ambrósio, obrigando-o algumas vezes a chegar correndo em casa para evitar as agressões de gangues de garotos da sua idade. Meu pai, vendo o seu filho humilhado, algumas vezes correu na direção dessas gangues para dispersá-las. Ainda bem que naquela época ainda respeitavam os mais velhos...
 
Para evitar que nos tornássemos futuramente adultos exclusivamente mentais, nosso pai matriculou Roque, eu e nosso irmão Fernando no infantil do Minas Futebol Clube, sob a orientação do técnico "Pavão", e na piscina desse clube futebolístico, onde podíamos esquecer um pouco das tarefas ginasianas e das agressões. 
 
Vou aqui contar um fato acontecido comigo: ao ingressar no curso ginasial (em 1961), um ano depois de meu irmão, tive o desprazer de, na primeira aula, ser questionado da seguinte forma pelo professor, ao fazer a chamada do meu nome: 
"O que você é do Roque?" 
Respondi-lhe: 
"Irmão." 
Tive que ouvir a seguinte referência elogiosa a ele: 
"Será que você vai ser pelo menos uma unha do seu irmão?" 
A turma toda riu do meu desconforto. 
 
Nesta época, tendo começado a fumar, Roque pedia à nossa mãe para preparar broas para levarmos em formas até o forno da padaria mais próxima e, após assadas, as recolhíamos. O dinheiro que meu pai dera para compra do pão correspondia a um maço de cigarros. Também para sustentar o seu vício, Roque também desenvolveu excelente expertise em fabricar máscaras carnavalescas, vendendo-as para foliões do carnaval são-joanense que, na ocasião, era o terceiro melhor do interior do país. Também costumávamos colher carambolas para vendê-las em balaios aos vizinhos e outros interessados, pelas ruas da cidade. 
 
Em certa ocasião, ele desenvolveu um projeto de foguete, lançado ao espaço numa tarde, no momento em que Sr. Américo Campos tomava uma xícara de café na copa de nossa casa. A explosão foi tão grande que o convidado saltou da cadeira em que se achava, se empalideceu de susto e quase sofreu um ataque cardíaco. 
 
Nos três anos de curso científico, além da Matemática, Roque teve contato com Física, Química e Biologia, ou seja, o que lhe faltava para mais expandir seu conhecimento científico. Havia um livro, conhecido por Problemas de Física (Mecânica) de L.P.M. Maia, que trazia as principais questões de vestibulares, que era o seu preferido. Pois bem, Roque resolveu todas as questões contidas nesse livro. Também resolvia todos os exercícios de Física propostos por Frei Jordano em suas apostilhas mimeografadas, que era o material didático mais prático naquela época.
 
No final do curso científico, ele foi nomeado orador da turma. No dia da formatura, ao lado do paraninfo Prof. Domingos Horta, Roque recebeu a medalha de ouro de melhor aluno do Ginásio Santo Antônio durante o ano de 1966. Suas façanhas não pararam ali; ao tentar o vestibular sem qualquer cursinho, foi aprovado na Escola de Minas de Ouro Preto, UFMG em Belo Horizonte e no ITA-Instituto Tecnológico da Aeronáutica em São José dos Campos. 
Roque César saudado pelo paraninfo Prof. Domingos Horta na cerimônia de formatura (1966)

Rotque sorridente na última fila em posição superior

 
Roque na última fila, no centro do portão da igreja de São Francisco
Foto de formandos do curso científico de 1966 na companhia de frei Metelo Geeve (Arquivo de frei Feliciano)
 
Até então, tinha muito contato fraternal e amistoso com ele, tendo sido um bom e afável irmão que me incentivava e colaborava no desenvolvimento de minhas faculdades intelectuais. Por exemplo, lembro-me de um fato, no começo de minha adolescência, em que ele me chamou para um passeio, durante o qual me explicou como uma criança vem ao mundo, de forma científica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Embora eu tenha me enveredado pelo curso clássico com ênfase no aprendizado de grego clássico e língua e literatura latinas, bem como me dedicado ao estudo do piano (com apresentação solo e em duo em audições) e outras disciplinas exigidas pelo Conservatório de Música Pe. José Maria Xavier, ele respeitava minha decisão e jamais me desentusiasmou a continuar na área de estudos clássicos e artística, diferente da sua. 
 
Enquanto Roque estudava no seu "laboratório", eu passei a frequentar a casa de meu avô, pois aquela em que este residia era muito ampla, havendo muitos cômodos em que eu podia confortavelmente ouvir música clássica na rádio MEC do Rio. Nessa situação, passei a acompanhar ainda mais meus avós paternos, apesar de fazer minhas refeições e dormir na minha casa. Durante a reforma do casarão, levantava-me bem cedo, ainda escuro, e imediatamente me dirigia à casa do avô paterno para, junto do fogão de lenha, em sua companhia, "quentar fogo". Mesmo antes disso, ele nos levava  meu irmão Fernando e eu  a alegres pescarias na fazenda de seu amigo Lindolfo no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes ou ao Rio das Mortes (chamado por nós Rio do Porto). Trazíamos em fieiras improvisadas lambaris, bagres, mandis, acarás, traíras, piaus, etc. que saboreávamos em casa, fritos. Roque inicialmente se interessou em participar dessas excursões, mas paulatinamente perdeu esse interesse, provavelmente para dedicar-se ininterrupta e exclusivamente a seus estudos científicos. 
 
Foto divertida de quase todos pescando no mesmo ponto no Rio das Mortes. Da esq. p/ dir.:  agachados: Roque César, Fernando, Pinheiro (colega de meu pai), meu pai; de pé, eu e meu avô - Crédito pela foto: Pinheiro

 
Outra oportunidade que tive de conviver bem com o Roque foi quando meu avô paterno passou a sofrer de aterosclerose coronariana, um pouco antes da conclusão de seus estudos no Ginásio Santo Antônio. Como essa doença trouxe certa demência para meu avô, nosso pai nos pediu para dormirmos junto dele e ajudarmos nossa avó a cuidar de seu marido doente. Passamos a dormir num quarto contíguo ao do casal. Se bem me lembro, Roque já estava ocupado com os vestibulares quando nosso avô morreu repentinamente, vitimado por um AVC isquêmico, em 19/11/1965. Após a sua morte, continuei, agora sozinho, a acompanhar minha avó viúva, porque meu irmão tinha ido definitivamente para o ITA em São José dos Campos. Morei com ela, continuando a dormir em sua casa, até sua morte em 11/12/1967, vitimada por um infarto fulminante dentro da Matriz de Nossa Senhora do Pilar  o que era seu último desejo por ser católica praticante e para não dar trabalho a ninguém  durante a missa das almas. 
 
Tenho pouco a dizer sobre o restante da vida de Roque, a não ser que foi estudar engenharia mecânica no ITA. Casou-se com a são-joanense Tânia Constant de Almeida Braga, residente no Rio de Janeiro, razão por que Roque optou por abandonar seu curso no ITA e terminá-lo na PUC-Rio, disposto a ficar próximo de sua amada, mesmo que essa decisão implicasse em ter que cursar a disciplina Teologia, pois, na transferência para a PUC, teve que se sujeitar à exigência da nova instituição, por não constar essa disciplina no seu currículo do ITA. Compareci a seu casamento em 1970 e à sua formatura em 1972. Em dezembro de 1974 nasceu Natascha, a linda filha do casal.
 
Depois de formado, foi admitido na Andrade Gutierrez, uma multinacional brasileira de serviços de engenharia de grande porte. Uma equipe desta empreiteira, da qual participou meu irmão, foi contratada por Niemeyer para desenvolver seu projeto arquitetônico para as universidades de Constantine e Argel, onde permaneceu por muito tempo. Em 1975 fui ao Rio, com outros familiares, para a despedida de Roque César, que deixava o país com destino à Argélia e, ao mesmo tempo, rever minha querida e saudosa afilhada Bianca, nascida em 24/03/1975, filha de Fernando e Clarice Giraffa. Instalado na Argélia, Roque teve oportunidade de ir várias vezes à Espanha, onde inclusive nasceu seu filho Pedro. Graças a esse emprego na Argélia, aplicou suas economias num apartamento em São Conrado, no Rio.
 
Roque e Pedro recém-nascido (Arquivo pessoal)

No seu retorno ao Brasil, ingressou na NUCLEN nas usinas nucleares de Angra 1 e 2 como especialista em refrigeração de altos fornos, profissão que aprendeu na Alemanha, quando lá esteve na década de 80 por três anos, enviado pelo seu novo empregador. No novo emprego, juntou economias que lhe possibilitaram adquirir outro apartamento na Ladeira do Leme, no Rio.
 
Roque e sua filha Natascha diante da usina nuclear de Angra 2, em agosto de 2003 - Crédito pela foto: Natascha
 
Da esq. p/ dir.: Natascha, Tânia e Roque - Crédito pela foto: Natascha

 
Cabe ainda mencionar aqui que nosso pai Roque Braga faleceu em 26 de setembro de 1984. Roque César, em sinal de gratidão e profundo afeto, decidiu retornar imediatamente da Alemanha ao Brasil para velar o corpo de seu pai, que ficou guardado numa capelinha do cemitério no aguardo da chegada do filho para seu último adeus. Mas, devido à impossibilidade de conseguir um voo de última hora, só chegou a tempo de assistir à missa de 7º dia. Em todas as suas atitudes durante a vida que partilharam juntos, Roque César sempre demonstrou um grande respeito e amor por nosso pai.
 
Graças ao empregoNo começo do novo século, aposentou-se na NUCLEN e vendeu seu apartamento no Rio de Janeiro para residir em um sítio em Petrópolis-RJ, vivendo ali até 17 de março de 2025, onde faleceu vitimado por infarto agudo do miocárdio. 
Roque ladeado pelos filhos Pedro e Natascha - Crédito: Natascha
 
Depois dessa época, nos encontramos poucas vezes, a maioria delas por coincidência em nossas visitas a São João del-Rei. 
 
Para concluir este elogio fúnebre, escrevi, um dia depois da fatalidade, a Pedro, filho de Roque e seu contato na web, um e-mail com o seguinte assunto: "Um até logo para meu irmão Roque César" com o seguinte texto: 
 
Queridos Tânia, Pedro e Natascha, 
Escrevo-lhes consternado, neste dia sombrio e triste, com a partida do meu querido irmão Roque César. Ele, para todos nossos irmãos, era um exemplo, mas para mim é o maior exemplo, como declarei em mensagem a ele há três meses atrás, por ocasião de seu aniversário (em 7 de dezembro de 2024):
"Querido mano Roque César,
Hoje é um dia especial como o foi para nossos queridos pais. Você foi muito aguardado e trouxe muita alegria para o casal Santos Braga.
Tive a sorte de nascer um ano depois de você e assim crescer com você, podendo aproveitar bem o seu exemplo e encarar a vida de uma forma não-tradicional e questionadora, conforme era seu modo de pensar dentro dos cânones científicos. De fato, aprendi muito com você e lhe agradeço por sua "rebeldia" e ceticismo diante do "geralmente aceito", introduzindo o rigor do método científico no seu pensamento.
Tenho muito boa memória daqueles bons tempos e considero que sua presença foi excelente para o meu desenvolvimento.
Neste dia do seu aniversário que brindo à sua saúde, desejo-lhe boa sorte e vida longa que são a recompensa pelo seu bom exemplo, especialmente para a minha formação e, acredito, para a de todos nossos irmãos.
Prost!
Gesundheit!
Com carinho e admiração, aceite meu abraço fraterno,
do irmão Francisquinho."
Queridos, 
aceitem meu abraço carinhoso neste momento de pesar profundo. Tenho a certeza de que Roque César, por ter sido um "crânio", homem bom, íntegro e trabalhador, encontra a glória no céu. 
Forte abraço, 
Francisco Braga 
 
 
II. NOTAS EXPLICATIVAS 
 
¹ Pilouro é uma espécie de manjar. É um termo que Roque gostava de usar para seus outros irmãos e até para si próprio em suas correspondências para sua mãe Celina. 
 
² A wikipedia define criança-prodígio como uma criança que domina habilidades em certas áreas que geralmente só são dominadas por pessoas com idade mais avançada. As áreas mais comuns são ciências exatas, jogos de lógica, arte, música e esportes. Alguns continuam a dominar com excelência estas habilidades quando adultos, enquanto outros não desenvolvem estas habilidades após um certo período. 
 
³ O "cooper", na verdade, foi um método criado na década de 1960 por Kenneth Cooper para medir a capacidade física de atletas amadores. 
Já o chamado teste Cooper consiste em uma corrida de 12 minutos, em que se mede o consumo máximo de oxigênio pelo corpo (VO2max) para estabelecer parâmetros de condicionamento. 
 
Utiliza-se a expressão "sentir o estalo de Vieira", quando alguém encontra de forma repentina solução para um problema. Também se usa a expressão para referir jocosamente uma iluminação súbita de alguém a quem não se atribui grande esperteza. 
O estalo de Vieira é uma expressão erudita que remete a um episódio de vida do Padre António Vieira, relatado pelo político, historiador, jornalista e escritor brasileiro do século XIX, chamado João Francisco Lisboa, na obra "Vida do Padre António Vieira". Neste livro, o autor afirma que Vieira teria feito grandes progressos intelectuais em seguida a um estalo que sentiu na cabeça, depois de ter pedido em oração à Virgem que o iluminasse. A obra de João Francisco Lisboa sobre o Padre António Vieira, apesar de inacabada e publicada postumamente, foi um autêntico best-seller naquela época e daí ter cunhado a expressão "sentir o estalo de Vieira". 
 
 
Cabe mencionar aqui alguns freis franciscanos que eram, além de professores, autores de seu próprio material didático, na forma de apostilhas de sua autoria distribuídas gratuitamente a seus alunos, sendo as mais notáveis as produzidas pelos freis Geraldo de Reuver (professor de francês e matemática), Jordano Noordermeer (professor de matemática e física), Jaime Steneker (inglês), Manuel Smeltink (francês e latim), Fagundes van Dreumel (grego clássico), Feliciano van Sambeek (física), extremamente úteis para o aprendizado dessas disciplinas. 

segunda-feira, 17 de março de 2025

ADEUS A EDUARDO LOPES DE OLIVEIRA


Por Francisco José dos Santos Braga


Quando nasceste, ao teu redor todos riam, só tu choravas. Faze por viver de tal modo que, à hora de tua morte, todos chorem, só tu rias.                                                                                                           Confúcio.

 
Prezados amigos e parentes de Dr. Eduardo Lopes de Oliveira que aqui comparecem para este último adeus; D. Maria José, aceite meus sinceros sentimentos pela partida súbita do marido.
 
Atendendo pedido da nossa família enlutada, e desde já representando todos os parentes que não puderam presencialmente despedir-se de Dr. Eduardo Lopes de Oliveira, faço uso da palavra neste momento de dor em que seu corpo será entregue à mãe terra. 
 
Eduardo é o quarto de uma prole de onze filhos do casal Miguel Lopes de Oliveira e Anita, nascido nesta cidade em 28 de junho de 1939. Como bom seguidor do credo católico praticado por sua mãe, no começo dos anos cinquenta, Eduardo foi coroinha na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, nas igrejas do Carmo e de Nossa Senhora do Rosário e na capela da parada do trem no Giarola. 
 
De 1955 a 1957 trabalhou no Transporte Sanjoanense, firma de Sílvio Teixeira. Durante esse período, trabalhava durante o dia e fazia à noite o curso técnico da Escola de Comércio Tiradentes. 
 
Em 1958, Eduardo deixou o emprego na firma para servir o exército no 11º RI. 
 
No segundo semestre de 1959, terminou o curso técnico e começou a se preparar para ir trabalhar em Belo Horizonte, onde sonhava também em cursar Direito. Teve a sorte de ser admitido como estagiário num escritório de advocacia, enquanto cursava Direito na PUC. Após formado, em 1968 foi promovido a funcionário no mesmo escritório de advocacia onde já trabalhava como estagiário e onde dirigiu como sócio por 53 anos, prestando assessoramento jurídico até recentemente. 
 
Após a formatura da sua irmã mais nova, Maria do Carmo em 1979, como normalista pelo Colégio Nossa Sra. das Dores de São João del-Rei, a família Lopes de Oliveira decidiu mudar-se definitivamente para Belo Horizonte, com exceção do filho mais velho ("Eduardinho") que decidiu permanecer nesta cidade, porque já constituíra sua família com Dolores Olívia Ferraz. 
 
Assim, no começo de 1980, a família de Eduardo mudou-se para Belo Horizonte, indo morar num apartamento no bairro Anchieta. Logo que possível, adquiriu uma casa no bairro Serra, para onde se deslocou em caráter definitivo. 
 
Foi Eduardo um filho amoroso, com quem sua mãe Anita pôde contar em tempo integral como companhia e cuidador, depois da saída de casa de seus outros filhos e falecimento de seu segundo filho Maurício. 
 
Para maior conforto de sua mãe Anita e no desejo de propiciar-lhe convívio com suas duas irmãs viúvas Olga e Maria das Mercês que permaneceram em São João del-Rei, Eduardo alugou uma casa na rua Getúlio Vargas próxima à Catedral Basílica Nossa Sra. do Pilar, adaptando-a às necessidades de sua mãe, para que ela pudesse receber suas irmãs, amigas, vizinhas e parentes são-joanenses. Essa casa se tornou em breve um ponto de encontro da família e de amigos são-joanenses graças ao carisma de Anita, onde eram recebidos com toda a mordomia, especialmente durante as festividades religiosas dos Passos e da Semana Santa. 
Encontro de primos no Domingo da Paixão (IV Domingo da Quaresma) em 2024, após a rasoura de N. Sra. das Dores, na frente da igreja de N. Sra. do Carmo (da dir. p/ esq.: Laurinha, Eduardo e o autor) - Crédito pela foto: Rute Pardini

 
Caro Eduardo, sua falta será sentida por todos nós que apreciávamos sua companhia nessas festividades religiosas, em especial em 16 de julho, dia de Nossa Senhora do Carmo. 
 
Com o falecimento de sua mãe em 17 de março de 2004, Eduardo não viu razão para continuar alugando o imóvel para o uso temporário de suas vindas a São João. 
 
Quero concluir esta fala, lembrando do amigo e primo Eduardo por alguns gestos generosos, especialmente para com meu pai Roque Braga, irmão de sua mãe Anita. Quando Roque faleceu em 26 de setembro de 1984 no hospital Mater Dei em Belo Horizonte, seu corpo foi inicialmente velado na casa de Anita no bairro Serra. Para o velório e o translado do corpo para São João, Eduardo escolheu seu melhor terno para cobrir o corpo de seu tio. Este é um fato que a família Santos Braga jamais apagará da memória do magnânimo Eduardo. 
 
Outro fato digno de ser lembrado é o cuidado que tinha de visitar os parentes quando de suas vindas à terra natal, especialmente com um carinho todo especial para com suas tias e conhecidos mais idosos. Por esses gestos espontâneos e cordiais, costumávamos tratá-lo de lorde, alguém muito admirado e especial. 
 
Quase sempre só reconhecemos que passou um anjo por nossas vidas quando ocorre uma despedida inesperada, como a que ocorreu com este primo querido, Eduardo. Portanto, como sua alma já voou para os braços do Criador, este não é um momento de pranto, mas de gratidão pela vida de Eduardo: primeiro a Deus, autor da Vida, e segundo a seus pais, seus genitores da sua vida terrena. 
 
Obrigado por todas as suas ações beneméritas, prezado primo e amigo Eduardo. Descanse na paz nos braços do Senhor!

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Logo após meu elogio fúnebre, duas sobrinhas de Eduardo se sentiram também motivadas a prestarem sua última homenagem a seu tio Eduardo. A primeira, Dra. DAIANA FERRAZ BRAGA DE OLIVEIRA, filha de "Eduardinho" e Dolores Olívia Ferraz, oncologista em Belo Horizonte, a quem seu tio Eduardo chamava "Dra. Fada" e que dele cuidou com um carinho todo especial até seu último suspiro, leu a seguinte Prece de Cáritas:
 
Deus nosso Pai, que sois todo poder e bondade
Dai força àquele que passa pela provação
Dai luz a quem procura a verdade
Ponde no coração do homem a compaixão e a 
[caridade.

Deus, dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a 
[consolação, ao doente o repouso.
Pai, dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a 
[verdade, à criança o guia, ao órfão o pai.
Senhor, que a Vossa bondade se estenda sobre tudo 
[que criastes.
Piedade, meu Deus, para aquele que não Vos 
[conhece.
Esperança para aquele que sofre.

Que a Vossa bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda parte a paz, a esperança e a fé. 

Deus, um raio de luz, uma centelha do Vosso amor pode abrasar a Terra. Deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores acalmar-se-ão; um só coração, um só pensamento subirá até Vós como um grão de reconhecimento e amor.

Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos com os braços abertos. Oh! Poder. Oh! Bondade. Oh! Beleza. Oh! Perfeição. E queremos de algum modo alcançar a Vossa Misericórdia.

Deus, dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós. Dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará das nossas almas o espelho onde se deve refletir a Vossa Divina Imagem.
               Que assim seja!

Por fim, foi solicitado a Rute Pardini Braga fazer a leitura de um pequeno poema em prosa, em forma de carta enviada por LUCIANA LOPES DE RESENDE, filha de José Alvim de Resende e Ana Maria Lopes de Resende, que, impossibilitada de comparecer àquele serviço fúnebre por estar em Portugal, encaminhara a carta por whatsApp, pedindo que fosse lida imediatamente antes do sepultamento do seu tio Eduardo Lopes de Oliveira, a qual passo a transcrever:
 
Tio Eduardo, querido:
Hoje eu acordei sentindo o cheiro das mexericas e dos figos; senti o orvalho com a brisa fria da manhã, o dia está lindo e o céu está azul e o sol, quentinho. Aqui ainda faz frio, mas já é quase primavera. As flores já estão brotando, os passarinhos cantam muito; ontem até vi uma borboleta amarela aqui na varanda!
Pareço estar naquelas manhãs frias de outono da Serra, quando eu ainda era criança, talvez pré-adolescente, e a gente indo juntos caminhar com os cachorros na Serra do Curral p'ra ver o nascer-do-sol e depois ir tomar café da manhã com a vovó Anita.
Senti o cheiro e o gosto quentinho daquele café-com-leite e da broa com queijo que saiu do forno. Do aconchego de estar com você e com a vovó, e da delícia de depois ir lá à horta com você p'ra me mostrar os passarinhos, aquele tanto de mexericas e flores lindas...
A vovó está na janela vendo a gente com aquele sorriso doce que só ela tem, o vovô Miguel também, e com o cigarrinho na mão.
Senti a alegria de estar na fila p'ra receber o seu presente de Natal e de ir ao Café Palhares p'ra comer o KAOL, e orgulho de ser sua sobrinha.
Tio Eduardo: quanta paz, quanta luz!
Eu sei: é onde você está.
Me espera aí que qualquer dia destes eu estou indo p'ra comer algumas mexericas com você, a vovó e o vovô!
Te amo muito, tio Eduardo. Obrigada por tudo, tio,  de verdade.
Vá em paz!
Meu beijo com muito amor e carinho,
Luciana
P.S.: O Victor e o Sasha mandam muitos beijos e abraços também.
 
Carta de Luciana Lopes de Resende a seu tio Eduardo Lopes de Oliveira



segunda-feira, 10 de março de 2025

O GORDO E O MAGRO


Por Antón Pávlovitch TCHÉKHOV
Traduzido do russo e comentado por Francisco José dos Santos Braga

"O Gordo e o Magro" é um conto humorístico de Antón Tchékhov publicado originalmente na revista Fragmentos na edição número 40 de 1º de outubro de 1883, com o pseudônimo de A. Tchekhonté.
Crédito: Pages of the Globe
 

Dois amigos se encontraram na estação ferroviária Nikoláievskaya: um gordo, o outro magro. O homem gordo tinha acabado de almoçar na estação, e seus lábios besuntados de manteiga estavam brilhantes como cerejas maduras. Ele cheirava a xerez e flor de laranjeira. O magro tinha acabado de sair do trem e estava carregado de malas, pacotes e caixas de papelão. Ele cheirava a presunto e borra de café. De trás de suas costas, espreitava uma mulher magra com um queixo longo — sua esposa — e um escolar alto com um olho comprimido — seu filho. 
Porfírio! — exclamou o gordo ao ver o magro. — Será você? Meu querido! Há quanto tempo... 
Meu Deus! — o magro ficou surpreso. — Misha ¹! Amigo de infância! De onde você veio? Os amigos se beijaram três vezes e se olharam, um para o outro, com os olhos cheios de lágrimas. Ambos estavam agradavelmente surpresos. 
Meu caro! — começou o magro depois do beijo. — Eu não esperava por isso! Que surpresa! Bem, olhe bem para mim! Tão bonito como sempre foi! Tão querido e elegante! Ah, meu Deus! E você? Rico? Casado? Eu já estou casado, como vê... Esta é minha esposa, Louise, nascida em Wanzenbach... uma luterana... E este é meu filho, Natanael ², um aluno da terceira série. Natanael, este é meu amigo de infância! Nós fizemos o ginásio juntos! 
Natanael pensou por um momento e tirou o chapéu. 
— Estudamos juntos no ginásio! — continuou o magro. — Você se lembra de como eles o apelidavam? Eles o apelidavam de Eróstrato ³ por você ter queimado um livreto oficial com um cigarro, e a mim de Efialtes por eu adorar delatar. Ho-ho... Éramos crianças! Não tenha medo, Natanael! Chegue mais perto dele... E esta é minha esposa, nascida em Wanzenbach... uma luterana. 
Natanael pensou por um momento e se escondeu atrás das costas do pai. 
E aí, como está a vida, amigo? — perguntou o gordo, olhando para o amigo com admiração. — Onde você está no serviço público? Progrediu na carreira? 
Estou no serviço público, meu caro! Tenho sido assessor colegiado pelo segundo ano e tenho a cruz do Santo Estanislau. O salário é ruim... bem, não importa! Minha esposa dá aulas de música, e eu faço cigarreiras de madeira. Excelentes cigarreiras! Eu as vendo por um rublo cada. Se alguém pegar dez peças ou mais, então, a este, você entende, dou um desconto. De alguma forma nos viramos. Sabe? Eu servi no departamento, e agora fui transferido para cá como chefe do escritório no mesmo departamento... Vou servir aqui. Bem, como vai você? Você provavelmente já é um conselheiro civil? Hein? 
Não, meu querido, aumente um pouco mais , disse o homem gordo. Eu já subi para o posto de conselheiro privado... Tenho duas estrelas. 
O magro de repente empalideceu e se petrificou, mas logo seu rosto se distorceu em todas as direções em um mais amplo sorriso; parecia que chispas saíam de seu rosto e olhos. Ele próprio encolheu-se, curvou-se, estreitou-se... Suas malas, fardos e caixas de papelão encolheram-se, enrugaram-se... O longo queixo de sua esposa ficou ainda mais longo; Natanael ficou em posição de sentido e abotoou todos os botões do próprio uniforme...  
Excelência... É um prazer conhecê-lo! Um amigo, pode-se dizer, de infância, e de repente se tornou um nobre! Hehehe. 
Ah, basta! — o gordo fez uma careta. — Para quê esse tom? Você e eu somos amigos de infância. Então, por quê essa reverência à posição social aqui? 
Perdão!... O que você está dizendo...?  o magro deu uma risadinha, encolhendo-se ainda mais.  A benevolente atenção de Vossa Excelência... meu filho Natanael... esposa Louise, uma luterana, de certo modo... 
O gordo queria retorquir algo em resposta, mas o rosto do magro expressava tanta reverência, doçura e respeitosa amargura que o conselheiro privado sentiu-se mal. Ele se afastou do magro e lhe estendeu a mão à despedida. 
O magro apertou três dedos, inclinou-se com todo o corpo e riu como um chinês: “khi-khi-khi”. A esposa sorriu. Natanael arrastou os pés para trás e deixou cair o boné. Todos os três ficaram agradavelmente surpresos.
 
Link para o conto em russo: https://ilibrary.ru/text/464/p.1/index.html
 
 
II. BREVES RESUMO E ANÁLISE LITERÁRIA DE "O GORDO E O MAGRO" por Francisco José dos Santos Braga
 
Um homem gordo e outro magro se conheciam desde os tempos de escola. Eles se encontram acidentalmente numa estação ferroviária. 
Não se vendo desde que eram meninos, tentam se atualizar. 
O magro (Porfírio) adora conversar  principalmente sobre si mesmo. Ele conta ao gordo (Misha) tudo sobre sua família (esposa e filho ali presentes) e trabalho. Na sua fala, Porfírio conta que é um funcionário chefe no serviço público e indaga sobre a posição de Misha. 
A resposta de Misha  sou um conselheiro privado , portanto, um alto funcionário, representa o ponto de viragem do conto: Porfírio, que até aqui tinha um tom amistoso, comporta-se com toda a formalidade diante da posição social do amigo. Agora, Porfírio se sente um fracasso. Ele está comparando suas realizações com as de Misha e começa a bajulá-lo. Seu corpo é magro e sua alma também. 
Por sua vez, Misha não se gaba absolutamente de suas realizações e só diz a Porfírio que é um conselheiro privado, quando perguntado. Pelo contrário, ele prefere que seu velho amigo o trate como um igual. 
Como leitores, temos a sensação de que Misha é um homem decente e completo. Não fosse pela subserviência e exagero na reverência do amigo pela sua posição social, Misha até poderia ajudá-lo na sua progressão no serviço público, mas infelizmente toda aquela subserviência do amigo é um fardo muito pesado de lidar; então, em vez disso, Misha se despede e vai embora, deixando Porfírio com a sensação de não ter aproveitado a oportunidade que estava bem à sua frente. 
O conto termina com a alusão à união na família de Porfírio, diante do fracasso do encontro. Aqui o narrador Tchékhov reconhece que Misha, superior em todos os aspectos, pode estar perdendo num para Porfírio: este possui uma família unida.

Para fins de análise literária, é possível visualizar três temas no conto humorístico O Gordo e o Magro:
1) Amizade
Tchékhov descreveu como em uma sociedade onde prevalece o respeito por posição social, carreirismo, dinheiro e conexões, há cada vez menos espaço para relacionamentos humanos simples, como a amizade. Os adultos, tornando-se escravos de suas posições na hierarquia estatal ou empresarial, não conseguem mais se comunicar com eficácia. É por isso que o Gordo perde seu amigo, o Magro, na estação.

2)
homenzinho
No conto, Tchékhov analisa criticamente seu herói, o Magro, revelando todas as fragilidades de seu pensamento servil e deficiente, seu desejo quase instintivo de se humilhar diante daqueles que estão acima dele, mesmo que isso não seja necessário. “O Gordo e o Magro” é um exemplo marcante de um período criativo de Tchékhov, em que costumava desenvolver o tema t
radicional da literatura russa do “homenzinho”. Nela, como em todas as obras do escritor, é revelada sua visão original do homem e do mundo ao seu redor.

3) A família 
A esposa e o filho do Magro repetem mecanicamente seus hábitos, eles estão prontos para se humilhar junto com ele, apenas para obter algum benefício. Tchékhov deixa implícito que a família não apenas apóia o pai de família e a torna melhor, mas também se arrasta para baixo, se compartilha com suas ilusões.

************************ 
 
O conto O Gordo e o Magro claramente pertence ao movimento realista. Nele, Tchékhov busca uma representação confiável da realidade circundante. As imagens que criou respiram realismo, são tão típicas quanto possível, e podemos acreditar que seus heróis existem na realidade. 

A brevidade, o pequeno número de personagens, a máxima imprecisão de detalhes e o caráter cômico geral nos permitem definir o gênero desta obra, sem dúvida nenhuma, como um conto humorístico. O seguinte indica “humor”: um enredo engraçado e anedótico, nomes e apelidos engraçados dos personagens que não são típicos da Rússia (como o da esposa do Magro, nascida em Wanzenbach, uma luterana), diálogos cômicos cheios de vocabulário coloquial animado.

O Gordo e o Magro é uma sátira sobre uma sociedade que vive dentro de uma hierarquia rígida e subordina todos os sentimentos vivos e naturais a convenções mortas e impostas. Tchékhov ridiculariza seus contemporâneos por sua subordinação servil aos dogmas do serviço. Eles rastejam por hábito, sem nem perceber. As condecorações ou estrelas nas lapelas ou nas casas dos botões definem sua personalidade, não suas ações ou mesmo suas palavras.

Significado do título

O título da conto 
Gordo e Magro imediatamente traça uma linha entre os dois personagens. Essa técnica é chamada de contraste. Um herói é contrastado com outro, apesar de já terem sido amigos. Agora eles estão separados por status: um é rico, o outro é pobre. Já no título o escritor estabelece as bases do conflito: subordinado e chefe, dono da vida e perdedor.

Neste caso, as palavras “Gordo” e “Magro” não significam tanto as características fisiológicas dos personagens, mas sim seus diferentes status sociais e, mais importante, suas visões de mundo completamente opostas. O Magro, como uma palha, se abaixa até o chão, prostra-se diante do que está mais alto e mais forte do que ele. Malas e preocupações com a família pesam sobre ele como mochilas em um camelo. Mas O Gordo está livre e seguro: ele não tem o fardo da bagagem e de uma família. É por isso que ele é gordo: ele consome todos os benefícios consigo mesmo. O significado do título da história “Gordo e Magro” está justamente na oposição desses heróis.

Composição e conflito

Logicamente, a história é dividida em duas partes: antes de ficarmos sabendo a posição social do Gordo, e depois de sabê-lo. Essa estrutura é necessária para expressar mais claramente a ideia principal da história, para mostrar como a situação muda depois que o status social é introduzido na narrativa.

A peculiaridade da composição linear da história “O Gordo e O Magro” é que a parte principal do conto é dedicada à introdução e exposição, enquanto o clímax e o desenlace são partes lacônicas, mas extremamente expressivas, quando a conversa muda para o serviço. A partir desse instante, o tratamento na primeira parte é 
você ou tu e passa para Vossa Excelência na segunda.
O conflito no conto é baseado na oposição entre relacionamentos humanos reais com base na amizade e afeição sinceras e o carreirismo e o respeito pela posição social que reina em toda a sociedade russa.

Personagens principais e suas características

As imagens de
Gordo e Magro são retratadas pelo autor de forma esquemática; elas carecem de individualidade. Cada um deles é um reflexo de sua classe, sua posição, seu status na sociedade e seu status familiar.
 
Características dos personagens da história O Gordo e O Magro:
Misha: conselheiro privado, um homem completo e de bom caráter, autoconfiante, enojado de bajuladores e carreiristas. Ele alcançou o auge na carreira e desfruta de prosperidade. Apesar de suas grandes conquistas, ele se lembra de seus velhos amigos e não busca superá-los.
Porfírio: assessor colegiado. homem magro. Ele tem uma esposa, Louise, e um filho, Natanael. um homem patético e preocupado, que está pronto para rastejar diante dos poderes constituídos. Ele é privado de qualidades pessoais: todas elas foram substituídas por suas maneiras e decoro oficiais.

Problemas questionados no conto

Reverência pela posição social
O escritor mostra como a admiração cega pelos superiores humilha uma pessoa. Segundo Tchékhov, uma pessoa merece respeito não por sua posição, mas por seus atos reais.
 
Desigualdade social
Embora Porfírio e Misha sejam claramente pessoas de rendas diferentes, Tchékhov mostra que a desigualdade social não significa nada se as pessoas forem sinceras umas com as outras. Segundo o escritor, a lacuna entre as pessoas não é criada pela diferença de renda, mas pela falta de espiritualidade elevada na sociedade.
 
Escravidão interna 
Em suas obras, Tchékhov frequentemente tenta transmitir aos leitores a ideia de que todas as pessoas nascem livres. Ninguém forçou Porfírio a bajular Misha e outros, mas anos de serviço e sua própria fraqueza fizeram dele quem ele é. Derrotar o escravo dentro de si, libertar-se dos grilhões da sociedade e tornar-se um indivíduo completo é o valor mais alto e o maior feito, segundo Tchékhov. Em outras palavras, a conclusão do texto sugere que Porfírio precisa expulsar o escravo para fora de si, antes que ele tome posse como mestre do seu destino.

Ideia principal
O significado do conto O Gordo e o Magro de Tchékhov está na superfície. Desenvolvendo o tema do “homenzinho”, Tchékhov mostrou que muitas vezes não são as circunstâncias que fazem uma pessoa ser quem ela é. O próprio indivíduo decide como viver e quem ser: um escravo ou uma pessoa livre. Ninguém obriga o Magro a se curvar aos seus superiores, exceto sua própria ganância e covardia.

O escritor também retratou problemas sociais que o preocupavam. Em sua opinião, uma sociedade, atolada em mentiras, tomada pelo carreirismo e pela veneração à posição social, está fadada a perecer. Perde sentimentos humanos tão importantes como amizade, amor e assistência mútua. Essa é a ideia principal do conto O Gordo e o Magro.
O que ele nos ensina? Esse conto nos ensina a valorizar sentimentos reais e vivos, e a não deixar que coisas insignificantes como uma carreira ou ganhar dinheiro os destruam. Esta é a moral da obra “O Gordo e o Magro”: não importa o que aconteça, os relacionamentos humanos são mais importantes do que barreiras de status e cálculos cotidianos.
 

III. NOTAS EXPLICATIVAS
 
¹ Misha é um nome de origem russa. É a forma diminutiva de Mikhail, que corresponde a  Miguel em português.

²  Natanael ou Bartolomeu em português.

³ Eróstrato foi um pastor de Éfeso, convertido em incendiário. Foi acusado como o responsável pela destruição do templo de Diana de Éfeso, considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo, em 21 de julho do ano 356 a.C., coincidindo, segundo Plutarco, com o nascimento de Alexandre Magno.
A confissão do propósito de seu crime lhe foi extraída sob tortura, ordenada por Artaxerxes. Segundo registra a história, seu único fim foi obter fama a qualquer preço. Ao descobrirem a intenção do incendiário, não só o executaram, mas também proibiram, sob pena de morte, o registro do seu nome para as gerações futuras.
No ambiente acadêmico da psicologia se denomina complexo de Eróstrato o transtorno segundo o qual o indivíduo busca sobressair, distinguir-se e ser o centro da atenção.
 
O nome Efialtes foi de um grego famigerado que traiu o rei espartano Leônidas em 480 a.C., por ter ajudado o rei persa Xerxes I a encontrar um caminho alternativo no desfiladeiro das Termópilas. Além de nome, o termo em grego tem o significado de pesadelo.